quinta-feira, 30 de agosto de 2012

O atleta errado no lugar certo.



A revista americana Forbes, cujo foco é o mundo dos negócios, dos poderosos e dos ricos, voltou seus holofotes para a figura de Neymar, afirmando que o jogador santista tem uma despesa superior aos seus ganhos, o que em pouco tempo poderá lhe inviabilizar financeiramente. A ser verdadeiro o rol das despesas e gastos do rapaz não haverá salário, nem cachês publicitários, nem clipe de cantor sertanejo universitário (a que ponto chegaram as universidades...) para fazer face a gastança.

O interesse neste momento é outro, ele remonta a conquista paulista do título em 2010 pelo Santos e seu ataque arrebatador e mágico com Robinho, Ganso, André e Neymar, onde os caras jogavam como se fossem peças de videogame.  Tudo dava certo, tudo era encantador e acima de clubismos e paixões. Havia ali, a essência do futebol brasileiro, um misto de habilidade, técnica refinada e da malandragem nacional, menos as comemorações da serie infindáveis de gol, com dancinhas previamente ensaiadas e uma atitude claramente de humilhação ao adversário tombado. Era visível estas intenções desmoralizantes, revelando que Neymar tinha que aprender muito ainda como esportista e muito mais como homem, como cidadão.

Ontem, na partida contra o Barcelona de Itinga, na Vila Belmiro, a quem nem gostaria de me referir, a cena patética da comemoração do seu primeiro gol, gol de Neymar, e do Santos foi visível o seu chamamento para a execução daquilo que haviam preparado na concentração ou no treinamento no dia anterior, como comemoração ao gol marcado. Na sua expressão e nos passos da coreografia havia uma superioridade afrontosa, como se os gols de uma implacável goleada fossem surgindo no momento que ele o maestro e coreógrafo quisesse. E eles os gols não vieram, muito pelo contrário, como não vieram na final das Olimpíadas de Londres, contra o México onde sua pálida e covarde figura é algo prá não se esquecer jamais, pois 2014 bate à porta.  

Foto: Neymar e amigos (fazendo o que gosta)

Ah mô fio do jeito que suncê tá...


Havia ou há em uma cidade do Rio Grande do Sul, um vidente que atende seus clientes de modo virtual, pela internet. O necessitado passa um e-mail para o pai “qualquer coisa”, contando suas mazelas físicas, emocionais, financeiras e recebe de volta um boleto para pagamento e o relatório contendo seus próximos passos, seus procedimentos em busca do fio da meada de sua vida, de seu novelo desgrenhado. Os mais ansiosos, mais imediatistas, mais afeitos aos conceitos da informática utilizam o MSN e têm na hora seu consolo, sua cura e o seu boleto bancário. Aí daquele que não pagar a consulta, pois sua vida jamais voltará aos trilhos e será para sempre um trem descarrilado.

Não sei como nestes novos tempos virtuais se comportariam Dona Terta e sua escudeira e filha, irmã Joaninha ou Dona Loura e Seo Zé já que suas armas de persuasão e cura como os galhos de arruda, os atabaques e o sangue de bode não se encaixariam nestas novas formas de atendimento espiritual e religioso. Quem sabe a utilização de um webcam pudesse minorar o impacto da encenação, mas aí seria pedir demais para cabeças tão distantes destas modernidades e de costas para um ritual cuja teatralidade só funciona ao vivo.

Talvez os novos mestres das forças ocultas e do esoterismo aqui na cidade alegre pudessem modernizar os seus atendimentos e adequá-los às novas técnicas de informatização, mas não creio que eles venham dispensar o cara a cara, o mano a mano, olho no olho como se exige das cartas e dos búzios sobre a mesa. Mãe Vanda de Aruanda que atende na Baixinha, por exemplo, não colocaria seu currículo de 3.000 trabalhos abrindo caminhos, trazendo amores perdidos, praticando curas de moléstias incuráveis pudesse mudar a forma de receber seus clientes, ali em sua tenda branca, cheirando a seiva de alfazema. Tampouco Madame Geilza seria incapaz de colocar a sua espiritualidade, sua credibilidade em Mundo Novo e Ipirá, onde passado, presente e futuro passam a ter uma nova formatação, um novo conceito de vida, tudo ao mesmo tempo agora ou seu dinheiro de volta. Assim como o Mago Vange criador do xarope Mel de Mangangá, que segundo Gilson Santana, apresentador do programa mais “bagaça” da radiofonia baiana, Top Brega, a panaceia é capaz de levantar moral, reputação, ibope, até bandeira arreada, além de retirar nome do SPC e SERASA. E a lista não para por aí, como o nome de Pai Mauricio de Ogum, que atende em Barra de Mundo Novo cujas especialidades são briga de vizinhos, recuperação de dívidas, pendências jurídicas, traições, olho gordo enfim, têm prá todos os gostos e dificuldades que se atravessa.

Com todo este leque de espiritualidade posta à mesa é incompreensível que um líder político local recorra às mães de santo de Cachoeira em busca da saúde perdida, da simpatia nunca cultuada e da vitória de seu candidato-mala, em flagrante desprestigio as forças ocultas e esotéricas da cidade alegre ou próximas dela, principalmente para quem alardeia amar a cidade. Não parece e, em represália, as forças ocultas, esotéricas e escancaradas locais, bem que poderiam soltar os cachorros, os bodes, as cartas, os búzios, os ebós, sobre ele.  

Foto: Chico Anysio (caracterizado como Painho)  

quarta-feira, 29 de agosto de 2012

Um esperanto musical


Há músicas que nos acompanham desde a nossa infância e, que pela sua execução em qualquer parte do mundo ou em grande parte dele, passam a fazer parte de um inconsciente coletivo musical, que nos aproxima e nos absorve com uma naturalidade tal, como se mantivéssemos com seu autor uma relação familiar ou de amigo. O papo ou a teorização pode ter ido além do pretendido, mas é como se, por exemplo, Happy birthday to you tivesse sido composta no quintal de nossas casas, quando “ainda havia galos, noites e quintais” e que ninguém sabe a autoria e não demonstra qualquer interesse em saber, a música em si, se basta, e estamos conversados e parabenizados.

Cantarolar as frases iniciais de Volare, oh,oh/Cantare oh,oh,oh,oh nos dá e deixa a impressão de sabermos algum vocábulo em italiano mesmo que jamais tenhamos ido à terra de Domenico Modugno, já que o Volare é o que interessa, aqui ou em Tóquio. Ou preparar o dó de peito para a frase final de My way ou o mais próximo possível de “and did it my way” com toda a carga vocal de que formos capazes pode nos parecer fazendo dueto com Frank Sinatra ou Elvis, na certeza de que seremos compreendidos em Teresina ou Istambul, sem apedrejamento. Nossos hermanos argentinos não verão qualquer ultraje à memória de Gardel se atacarmos de El dia em que me queiras, depois do terceiro ou quarto copo, até porque não cometeremos o desatino de apresentarmos Agnaldo Timóteo ou Nelson Gonçalves como parelho para um puro sangue como o Cambalache, diferentemente da comparação entre Pelé e Maradona.

São músicas do mundo embora tenha pai e nacionalidade, assim como o Hynme a l'amour e La vie em rose de Edith Piaf; Ne me quite pás na voz de Jacques Brel ou na interpretação dilacerada de nossa Maysa; Moonlight Serenade com a orquestra de Glenn Miller; a garota de ipanema de Cuba, Guatanamera, além da nossa própria composta por Tom e Vinicius. São muitos os exemplos desta universalidade da música popular, uma espécie de esperanto musical, como um solfejo sem a identificação das notas, mas apenas a melodia já nos pondo como cidadão do mundo, no mundo da música, dos sons.

Foto: Edith Piaf

As pedras do caminho rumo a serie A.


Após um desempenho fantástico na serie B, terminando em 1º lugar entre os vinte competidores e, simbolicamente campeão desta fase, o nosso rubronegro, o Vitória, começou ontem o 2º turno desta serie, rumo a serie A, o seu lugar. Era no Barradão o embate entre o campeão e o lanterna do turno. Os 44 pontos do Vitória contra os 10 pontos do Grêmio Barueri, o que numericamente dava uma diferença de 34 pontos entre os dois, poderia significar um massacre. Poderia, mas o que se viu foi um Vitória superior, perdendo pênalti, porém empatando o primeiro tempo do jogo em 0 x 0.

O Vitória ganhou por 1 x 0, mas ficou a sensação de que todos, independente de sua classificação na tabela, querem ganhar daqueles que formam o pelotão da frente, em especial do líder, o Vitória. E assim será, durante todo o returno, uma luta incansável a cada jogo, sem se deter com adversários fáceis ou não, todos se igualam na busca dos primeiros lugares ou da fuga das quatro últimas colocações, o que significa o inferno da serie C. Vumbora, Leão!

Charge: Blog E.C.Jahia

terça-feira, 28 de agosto de 2012

Reeleição e mensalão, uma rima pobre.


O instrumento da reeleição em nosso país foi instituído por Fernando Henrique Cardoso, o sociólogo mulato e beiçudo, através de uma emenda constitucional a reboque de uma armação ainda hoje não explicada, como hoje se explica e se expõe as vísceras de um pretenso “mensalão”. Ele, o tucano de rara plumagem, o ético, o professor por algumas semanas da Sorbonne deve ter conseguido a aprovação de mais quatro anos de mandato para si, pelos seus belos olhos, pelos seus beiços fartos e pelos perdigotos espalhados pela cara de seus interlocutores. Nada de compra de votos, nada de aliciamento em troca de cargos, nada de convencimento via diretoria financeira de uma estatal. Imagina! Tudo tão simples e natural como o chorume que escorre de um aterro sanitário.

Uma das críticas que se faz à reeleição é a permanência do gestor à frente do executivo, tendo ao seu dispor toda a máquina administrativa, o cofre, a caneta, o nariz de cera e a cara de pau, sem qualquer sinal de constrangimento, já que lhe foi dado muito mais do que pedia, muito mais do que merecia.
 
Para não ficar tergiversando enquanto a banda passa, basta olhar ao redor e verificar o que se passa com a candidatura fora dos limites da saia e da sombrinha da viúva e a desenvoltura da própria viúva em busca da reeleição. Quanta diferença! Enquanto de um lado se cotiza tudo, gasolina, fogos caramuru, bandeiras, viagens, carro de som, mão de obra; do outro a fartura invade todos os ouvidos com fogos espocando, não importa dia nem horário, com uma intensidade de fazer inveja a São Pedro, o protetor das viúvas. Cachaça, braços e cabeças à venda, telhas, sacos de cimento, piso de banheiro, pintura de fachada, cesta básica, celulares, vaso sanitário, tudo conforme o figurino da insensatez, daquele jeito que o diabo gosta e, o Ministério Público também.       

O ovo de Hitler.


Em recente crônica, Carlos Heitor Cony trata de um assunto que por mais que se queira, mesmo do ponto de vista histórico, levar a sério, não se consegue sem esboçar um riso de canto de boca, já que o próprio Cony dentro daquele seu estilo, entre a informação e a ironia, prefere ficar com os dois. Escritores americanos e alemães tem se debruçado nos últimos tempos a um assunto historicamente relevante que é tentar compreender ou explicar a origem da ojeriza, do ódio que Adolf Hitler nutria pelos judeus e pelos seus descendentes.

Uma teoria provém de um romance que ele teria tido em sua mocidade com uma jovem judia que lhe legou uma boa carga de sífilis, restando daí esta rejeição e esta constatação de que os judeus eram uma raça impura e de que a humanidade teria de se livrar deles, papel que ele acabou desempenhando. O certo ou não, é fato que só uma boa dose de sífilis para corroer neurônios, desarrumar idéias, surtar pela vida afora como foram seus anos de glória e ocaso.

Outra teoria ficaria melhor em almanaques de Biotônico Fontoura que em estudos de intelectuais americanos e europeus. Conta-se que Hitler em brincadeiras de jovens, em uma fazenda na Áustria onde estudou e viveu sua adolescência, afirmou que urinaria na boca de um bode. Como é comum nestes arroubos juvenis, muitos pagaram prá ver. Hitler então pegou um bode que pastava nas imediações do local onde ele e os amigos estavam e, com uma das mãos abriu a boca do animal e com a outra preparou o instrumento mijador para o esguicho final. Acertou o alvo, mas o bode em represália avançou sobre a suas partes e lhe devorou um dos testículos. A incapacidade sexual de Hitler e até a sua “bichice” jamais aceita, daí a agressividade, talvez tenha no fato a sua origem. Em História tudo se sabe, ou quase tudo.  

Calma violência, violência calma!


As torcidas do Fluminense, Vasco, Cruzeiro e Atlético Mineiro protagonizaram, neste final de semana, mas um espetáculo de selvageria que nos envergonha, nos entristece como esportistas. É próprio do futebol, as discussões, o desencontro de opiniões, momentos de puro fanatismo, vozes estridentes, atitudes aguerridas, mas que entre civilizados, amigos ou junto aqueles que se respeitam e respeita acaba em samba ou em Brahma.

Os clubes de São Paulo, em especial Palmeiras e Corinthians através da Mancha Verde e Gaviões da Fiel, com a estrutura e a ousadia que têm, devem ter sido as percussoras desta praga que são as torcidas organizadas, que estranhamente são alimentadas pelas diretorias dos clubes que usam estes bandos como massa de manobra para os seus projetos políticos. O banimento destas torcidas organizadas dos estádios, prisões, processos contra estes elementos pelas autoridades judiciais parecem não impedir que novas gangues se digladiem a caminho ou próximos dos locais dos jogos em dias de grandes clássicos.

E hoje, em qualquer local destes jogos de multidões, em qualquer parte do país, podem acontecer esta guerra de torcida como em Salvador, onde as torcidas do Bahia e Vitória, em dias de clássicos, com a Bamor e Os Imbatíveis, promovem escaramuças, correrias, gás lacrimogêneos, spray de pimenta, cacetadas, prisões, mas morte, felizmente, ainda não. Mesmo que o fato não inviabilize ações mais enérgicas contras estes maus elementos que se travestem de torcedores, esportistas para fomentarem brigas, agressões e mortes, tudo isto pensando nos grandes eventos que o país irá patrocinar em breve.

A Inglaterra conseguiu colocar os “hollings”, bando de baderneiros bêbados e truculentos para o lugar que merecem, a cadeia, longe dos estádios, assim como os holandeses com seus bêbados briguentos e mal-educados. O mesmo podemos fazer por aqui, pois o futebol merece uma plateia como aquela que vimos nas piscinas, quadras, campos de Londres, nas Olimpíadas deste ano, sem estes bárbaros que mancham os princípios do esporte

segunda-feira, 27 de agosto de 2012

Vitória, Vitória, Vitória!


Fim do 1º Turno do Campeonato Brasileiro, serie B, o Vitória simbolicamente é o campeão deste turno por ter conseguido a liderança isolada após a vitória contra o Ceará, por 3 x 1, sexta feira, em Fortaleza. É uma campanha invejável nesta disputa até o momento o que nos anima para comemorar em breve a subida para Serie A da elite do futebol brasileiro, que é o seu ligar de direito.

A saída de Neto Baiano para o futebol japonês, ainda que justa pelo seu merecimento em busca de uma independência financeira para sua família em outras paragens futebolísticas, criou uma certa expectativa em torno de como se comportaria a equipe do Vitória após a sua saída. A procura do substituto foi imediata e os resultados têm sido extraordinários. William e Élton, além de revelações da base como Lielson e Willie promovidos ao time titular foram escolhas mais que acertadas e a cada partida, sem qualquer sinal de avareza, sentimos menos a falta de Neto. Vamos lá Vitória!

Foto: Ivete Sangalo

domingo, 26 de agosto de 2012

Depois de Paulinho, Bosco...Edu Krieger


Imagino os diretores de televisão, responsáveis pela programação de canais abertos, como a “líder de audiência”, dando de ombros quanto às reclamações da baixa qualidade de sua grade: “quem quiser algo mais que Avenida Brasil que vá para os canais fechados”. Fato, aliás, que já ocorre em grande escala, principalmente, nos últimos anos, independente da classe social, até porque o bom gosto e a seletividade, além do prazer do esporte estão acima da grana, como estamos carecas, eu mais que vocês, de saber.

Esta semana, por conta do horário político gratuito, gratuidade que leva os donos de emissora de rádio e TV a frequentes ataques de nervos pelos seus horários nobres jogados ao lixo, sintonizei a emissora Futura, ligada às Organizações Globo. Era um programa sobre língua portuguesa, apresentando pelo titã Tony Bellotto, mas tendo como gancho a música popular, onde na verdade hoje se encontra a mais saudável poesia brasileira, focalizando o trabalho de Edu Krieger, um novo talento de nossa música. Já tinha ouvido nas vozes do Casuarina, Roberta Sá, Maria Rita, Pedro Miranda, Aline Calixto, Pedro Luís composições do Edu, sem no entanto associar seu nome àquelas musicas ou parcerias a outros jovens talentos da canção popular, em especial o samba. Filho do arranjador e compositor clássico contemporâneo Edino Krieger, desde cedo, Edu teve contato com música e como que por osmose foi absorvendo a musicalidade doméstica e no playground de suas brincadeiras, os teatros onde acompanhava seu pai, nos ensaios e concertos em todo país. Impossível não ser o músico que é, independente do talento que é nato, apenas vai se burilando com o passar do tempo e com os conhecimentos que vai se adquirindo à medida que a banda toca.

Suas composições lembra um pouco outro Edu, o Lobo, o que em nada lhe desmerece, muito pelo contrário. Violonista da linhagem do Gil e Bosco, Edu se revela um letrista talentoso e original em músicas como Desestigma, FeiraLivre, Novo amor, A mais bonita de Copacabana são exemplos do talento deste jovem compositor brasileiro. “Nem todo playboy é maconheiro/nem toda maconha dá larica/nem todo tesão que bate fica/nem todo mendigo quer dinheiro/nem toda mulher tem tpm/nem todo pm quer suborno/... nem todo baiano curte festa/nem todo forró vem do nordeste/nem todo malandro é cafajeste/nem toda riqueza é desonesta.” (Desestigma) Boas vindas a Edu Krieger!

Foto: Edu Krieger

Ficha limpa, mas nem tanto...

O conceito e a implantação do instrumento jurídico da ficha limpa ou não, foi um importante passo em defesa da moralidade democrática em um país como o nosso em que as instituições públicas costumam ser tratadas como mais um cômodo das residências de seus gestores. Mas como qualquer conceito, a ficha limpa tem a sua amplitude, “na lata do poeta tudo/nada pode caber”, tanto pode derivar de uma nota fiscal não apresentada em uma prestação de contas, como por improbidade administrativa mesmo, a nossa velha e conhecida roubalheira nacional. Ou até por recusa em analisar ou aprovar as contas de gestor municipal cuja Câmara de Vereadores lhe é hostil e notadamente incapaz de qualquer gesto legislativo que não aquele de se atrelar à saia ou as botas do prefeito em busca de um tanque de gasolina, o ressarcimento de uma prosaica compra de remédio para seus familiares, de uma viagem um jatinho a serviço do executivo ou pelo puro prazer de ser servil, puxa-saca, capacho.

A cidade alegre vive um momento de tensão em sua campanha eleitoral para a prefeitura. Da acusação a um candidato de ser ficha suja e ter se tentado junto aos tribunais o impedimento de sua candidatura, descobriu-se em fatos recentes, em termos de divulgação, de vir a tona, já que tão antigos como a mais antiga das profissões, que a ficha suja mesmo estava e está do lado do acusador. Aquela coisa do telhado de vidro, do rabo de palha etc e tal. A ser verdade o que se divulga e se propaga e, em caso de acatamento das denúncias proferidas junto à esfera jurídica, não haverá posse em caso de vitória o que pelo andar da carruagem é uma miragem, algo distante e que não deverá ocorrer. “É a volta do cipó de aroeira no lombo de quem mandou dar”.

Liberdade de Imprensa para principiantes.


Denúncias a partir da CPMI do Cachoeira sobre as relações do bicheiro Carlinhos Cachoeira com o redator da revista Veja, esta cloaca jornalística, Policarpo Junior, já merece há muito tempo a convocação de um representante do Grupo Abril ou do próprio jornalista para explicar esta proximidade promíscua a titulo de fonte de informação. Horas e horas de gravações feitas pela Policia Federal entre os dois revelam uma intimidade a ponto do jornalista, ou que nome tenha, pedir ao bicheiro que seus asseclas providenciem um grampo telefônico contra um deputado a quem Veja gostaria de desmoralizar.
A namorada, amante ou mulher do Cachoeira, recentemente, ameaçou um juiz que apura os fatos colhidos pela operação que pegou Cachoeira e sua quadrilha com um dossiê produzido pelo famigerado Policarpo Junior, da Veja. E nada acontece, ninguém é convocado para depor, se explicar, como se houvesse uma cumplicidade dos senadores e deputados que compõem a CPMI em não convocar o jornalista ou seu patrão, temendo ou sendo ameaçado por outros dossiês. Como ali naquele covil o que não falta é rabo de palha, rabo preso, ninguém que se expor e mexer com o esgoto jornalístico que é a tal revista.

De igual modo, como em toda organização criminosa, reina um silêncio de cemitério na grande imprensa, esta que julga, condena e sentencia “mensaleiro”, e faz vista grossa às denuncias envolvendo um de seus iguais. O mensalão tem diariamente manchetes espalhafatosas no Globo, Folha, Estadão, minutos generosos no Jornal Nacional, mas as ligações do Cachoeira com a revista Veja, é parte de um delírio oposicionista, petista, jamais algo que mereça uma matéria jornalística. Tommaso Buscetta não faria melhor!  

Foto: Marlon Brando (como Don Vito Corleone)

quinta-feira, 23 de agosto de 2012

Horário Eleitoral Gratuito


Charge: Adão

Atrás do Porto tem uma cidade.


A semana passada em Salvador, almoçando em um restaurante no Comércio observei, um pouco tardiamente, já que não era tão nova assim aquela situação, os imensos galpões que aprisionavam e impediam a bela visão da Baia de Todos os Santos, tinham vindo abaixo, dando lugar a um tapume de metal por toda a sua extensão. Era o projeto de requalificação do Porto de Salvador, dando lugar à construção de um Terminal de Passageiros para as grandes embarcações, navios de turistas que nos visitam a cada temporada de verão e também em outras ocasiões.


A área é muito grande, tanto que os dois primeiros galpões, devido a sua localização, próximo ao Centro Náutico, serão transformados em um moderno centro de recepção, repartições federais como Receita Federal, Policia Federal, alem da Anvisa, centro de lazer, com jardins, restaurantes, lanchonetes, lojas com acesso para passageiros em trânsito e visitantes em geral. As obras já foram iniciadas e serão entregues em maio de 2013, àquelas referentes ao Terminal de Passageiros já que as instalações para o embarque e desembarque de contêineres e toda a infraestrutura também parte do projeto terão seu andamento sem a prioridade do Terminal, uma das obras a serviço de eventos como a Copa das Confederações e Copa do Mundo.


Será uma área pública unindo o Porto à cidade. Mas haverá um limite, não vai ser possível chegar até a beira do mar, por questões de segurança, mas quem chegar ao Terminal da França, avenida onde está localizado o equipamento, terá acesso a uma vista extraordinária, das muitas que a cidade é prodiga.

Terminal de Passageiros - Maquete

Xingu


Desde o seu lançamento em abril deste ano, em Salvador, sabia que um dia assistiria Xingu, não só pela identificação com a causa indigenista, um pouco da história dos irmãos Villas Bôas e principalmente por ser Cao Hamburguer, seu diretor, também responsável por um dos mais bacanas filmes da recente safra nacional, “O ano em que meus pais saíram de férias”.

Xingu é uma epopéia que só o espírito aventureiro de três irmãos paulistas, Claudio, Orlando e Leonardo Villas Boas pode explicar ao deixarem o conforto de suas vidas urbanas para se alistarem em uma expedição oficial rumo ao desbravamento e conhecimento do centro oeste brasileiro, em uma expedição Roncador-Xingu. A idéia do Governo Vargas, em 1943, de tornar aquelas terras desconhecidas, mas férteis, em imensas áreas produtivas, como queriam políticos e fazendeiros, em parte não alcançou o objetivo esperado, tal a entrega dos Irmãos Villas Boas à missão, contrariando a idéia de que “terra desocupada, não tem dono”, já que para eles tinha sim: os índios.

Da frieza do primeiro contato com uma tribo indígena, aos poucos foi surgindo a confiança e se estabelecendo com eles uma relação de amizade e proteção que culminaria com a criação do Parque Nacional do Xingu, pelo presidente Jânio Quadros, em 1961. Até este momento, mesmo depois deste e ainda hoje os índios invadem os corredores das repartições oficiais em busca da defesa de seus territórios vez por outra sob a ameaça do homem branco. Os conflitos, hesitações, envolvimentos íntimos com as nativas, a busca do reconhecimento oficial à causa dos Irmãos Villas Boas decorrentes desta defesa é magistralmente representado pelos atores Felipe Camargo (Orlando), João Miguel (Claudio) e Caio Blat (Leonardo). O Claudio (João Miguel) dos irmãos é o mais introspectivo, o mais admirado e aceito pela comunidade indígena e responsável pelos momentos de tensão e recuperação de lapsos de dúvidas de seus irmãos na empreitada, como a de Leonardo.

Saber que os índios que aparecem nas cenas do filme são da própria tribo, representando seus antepassados chega a ser comovente, como também emociona a exuberância da vegetação e da música com elementos nativos. Xingu é um grande filme e provável representante brasileiro como melhor filme estrangeiro na premiação do Oscar de 2013.

"Disse não ao PT, mas digo sim a João"


Entre os candidatos a prefeito de Salvador, pelo menos naqueles de maior densidade eleitoral e maior visibilidade pública pelos cargos que ocupam e pelo maior tempo de exposição no horário eleitoral gratuito, têm algo em comum em suas candidaturas. Todos eles, Nelson Pelegrino, ACM Neto e Mário Kertsez, têm como candidatos a vice em suas chapas um negro, ou um afro-descendente. Para uma cidade eminentemente negra e que parece não ter noção deste potencial, desta força política, soa como um gesto de afago, de igualdade, de compreensão plasticamente negra, mas sem a profundidade de uma democracia racial pretendida. Assim como quem diz: preciso de seu voto, dos votos de sua comunidade, como um sinhozinho branco e letrado frente à negrada da senzala. A exceção da vereadora Olivia Santana, negra politizada, consciente, gente fina e talvez a única motivação que poderá me levar a Salvador para a eleição de 07.10.12, já que os demais figuram apenas como penduricalhos negros, porém com o respeito que merecem como cidadãos e cidadãs baianas.

Aliás, sobre a eleição da capital, está sendo veiculado um filme nos horários destinados ao candidato do PMDB, Mário Kertsez, em que o candidato ACM Neto ao lado do ainda candidato João Henrique e atual prefeito, em que ele diz: “Eu disse não ao PT e digo sim a João”, logo após a sua derrota no 1º turno, em 2008. O “digo sim a João” é repetido várias vezes enquanto são mostradas as mazelas, o lixo, os buracos, os mendigos, o abandono da cidade de Salvador. Logo ele que é o candidato da modernidade, da reconstrução, abandona e se desvencilha do antigo aliado como quem corre de um cão sarnento, cuja companhia é indesejável e perturbadora a sua imagem de moço bom. Mas, a mentira, o oportunismo, a cara de pau sempre foram as armas do “carlismo” que ele representa, tenta reviver e, ao que parece, lamentavelmente, renascerá. Acorda Salvador!

Dilma, medalha de bronze.


Charge: Amarildo

Marcela Bellas - Uma nova voz baiana.


Fui domingo passado ao Parque da Cidade, esta grande faixa de área verde preservada numa área supervalorizada do bairro da Pituba, mais precisamente em Itaigara que deve despertar delírios predadores aos olhos da especulação imobiliária, para assistir mais um espetáculo na programação Música no Parque, desta vez com a nova cantora baiana Marcela Bellas. Já tinha visto uma pequena participação da Marcela em um show no Largo Pedro Arcanjo, no Pelourinho. Mas, o que me despertou mesmo na busca de conhecer o trabalho da cantora baiana, cujo primeiro disco foi lançado um 2009 tem como título uma debochada e provocativa indagação: Será que Caetano vai gostar? Veio se saber algum tempo depois que o setentão compositor e cantor baiano acompanhava com um interesse elogioso o som de Marcela, só que antes disso o público já tinha adotado Alto do Coqueirinho e Esse samba como os seus primeiros hits, além de curiosidade sobre a sua regravação para Bloco do Prazer de Moraes e Fausto Nilo. O aval de Caetano é sempre bom, mas “se não tem tu, vai tu mesmo”, Marcela. E foi o que ela fez, estabelecendo pontes com a nova música que se faz em São Paulo, pois ficando por aqui, acabaria em cima de um trio elétrico ou fazendo “backing” prá Bel do Chiclete e porcarias do mesmo lixo.

O trabalho musical de Marcela tem esta mesma amplitude sonora e de ritmos que pontua a música de uma entre dez novas cantoras da MPB, tornado visível o flerte com o samba, rock e o pop, características da pegada contemporânea que vem ser o viés desta nova sonoridade brasileira. Com um púbico inicialmente pequeno, mas que foi crescendo, em que pese um dia impressionante de sol de verão nesta cidade praieira, Marcela desfilou seu repertório autoral e de releituras interessantes como Retrato para Iaiá dos Los Hermanos, a já citada Bloco do Prazer. É promissora a chagada de Marcela no panorama da música brasileira, cuja identidade musical ela por certo encontrará neste inicio de caminhada. As companhias musicais são boas e, só fugir das amarras de polvo da “axé music” já é motivo de comemorar nesta terra do pagode e do “sai do chão, saí do chão”.  

Minha presença no Parque motivou a busca da informação junto aos seus produtores quanto as suas ligações familiares com a família Bellas aqui do distrito do Andaraí. Fui gentilmente recebido por uma jovem da produção que me prometeu tão logo findasse o show me colocar em contato com a Marcela para esclarecimento deste interesse levantado quanto àquele possível laço afetivo. Não pude esperar, naquele dia havia visita me esperando em casa, para o almoço domingueiro. Mas, a curiosidade continua.

quarta-feira, 22 de agosto de 2012

Até aqui, gastamos 5 horas de relógio.

A expressão faz parte, como tantas outras, de um modo de falar próprio do baiano, da capital, que não se limita a guetos, subúrbios, periferia da cidade, mas a maioria de seus habitantes, independente da classe ou do grau de instrução e posição social. Convivi na faculdade, locais de trabalho, amigos de prosa e de papo que utilizavam a expressão com uma naturalidade que nunca absorvi. Sempre que ouço, imagino que as horas também possam ser contadas através da ampulheta, da bússola, da mandala, do cruzeiro do sul, da estrela Dalva enfim de qualquer sinal da natureza ou de criações humanas dos primórdios da civilização. Sempre relutei em aceitar ou acreditar em horas que não fossem pontuadas pelo relógio, ainda que paraguaio como estes que enfeitam e adornam os tabuleiros dos ambulantes e camelôs.

Por outro lado, outras expressões e palavras fazem parte do meu vocabulário de uso escrito e falado que faz a festa e causa espanto a quem de outros “brasis” nos visita e com quem mantemos qualquer tipo de conversação. Foi esta curiosidade e porque não, estupefação, que levou o jornalista carioca, mas já abaianado por adoção, Nivaldo Lariú, a catalogar estas palavras e expressões de uma língua, talvez um dialeto baiano, em uma publicação da larga aceitação e sucesso, por aqui ou longe daqui, do seu Dicionário Baianês. Conheci o dicionário nos anos 80, através dos amigos Edilson/Mirinha que viram ali a minha cara e por quem demonstraria grande interesse literário e humorístico. Claro que sim, ainda hoje. Talvez seja uma das Lembranças da Bahia mais vendidas nestes locais que comercializam suvenires da cidade, seja no Mercado Modelo, Pelourinho, Aeroporto, Livrarias etc. 

Uma das características desta linguagem baiana é o uso de um palavrão para exprimir a nossa aprovação, elogio e mesmo crítica  a um clube de futebol, uma banda de música, um artista, uma festa, uma celebração qualquer. Assim como, o Vitória montou um time da p(*), do mesmo modo que o Bahia é uma p(*), o que para o caso requer também, além da afirmação, uma entonação na voz para expressar o prazer ou a indignação. Palavras ou expressões como: A migué, água-dura, bota prá fudê, armengue, estrompado, empata-foda, Vixe Maria, a culhão, zorra, grade, espanta-nigrinha, galera do mal, inhaca, e por aí vai, curioso e divertido. Talvez não estejam no Aurélio ou no Houaiss, mas é certo estarão no Dicionário Baianês do Nivaldo Lariú. “Fala baiano, no seu jeito de falar”.

Ilustração: W.Barroso 

Poluição visual e política.

Na campanha eleitoral deste ano foi proibida a utilização,  pelos candidatos, de “outdoor” como meio de propaganda política, por ser um instrumento de marketing pouco acessível, pelo seu custo, a todos os candidatos, criando uma desigualdade na disputa pelo o voto do eleitor. Pode ser. Isto não impediu que, por outro lado, se criasse um espetáculo desolador de poluição visual e desorganização pública, entre outras, pelas avenidas de vale e pelos corredores de tráfego das cidades, como por exemplo, em Salvador.

Placas, cavaletes, pequenos e rasteiros “outdoors” se amontoam pelos canteiros das pistas e sobem as encostas onde políticos em exposição parecem rir do abandono e da bagunça da cidade que eles pretendem administrar e legislar contra e a seu favor, caso eleitos. Se a proibição do uso de “outdoor” fosse desaguar neste tumulto visual, melhor que deixassem os próprios espalhados pelos locais da cidade onde uma legislação municipal impõe, disciplina e organiza sua colocação. Como está, é um verdadeiro salve-se quem puder, onde os candidatos brigam por um pedaço de pista e naco de encosta para colocar sua cara ou careta excessivamente colorida.

Chama a atenção neste festival de humor negro como eles, os políticos e candidatos, se apresentam após seções de “fotoshop” e muitos retoques em suas caras lustradas, sem manchas, sem rugas, pele luzidia como bumbum de bebê. Sempre rindo da eleitor eventualmente crédulo em suas frases de conquistas e palavras de ordem como mobilidade urbana, sustentabilidade, geração de empregos, melhoria na educação e atendimento na saúde pública. Paguem prá ver e não verão!

terça-feira, 21 de agosto de 2012

Novo cartão postal da cidade

O recente estágio das obras da Arena Fonte Nova já permite a visualização da montagem da maquete do estádio no local onde ele de fato está sendo construído, como na foto acima. A visão a partir do Dique do Tororó será exatamente esta que se vê através do trabalho arquitetônico e gráfico realizado. Pode não ser a mais bonita obra das muitas executadas até o inicio da Copa do Mundo de 2014. Há projetos arquitetônicos arrojados, bem mais que a Arena Fonte Nova, mas poucos ou a exceção do Mineirão próximo ao Lago da Pampulha se aproximará do cartão postal que surgirá do novo estádio e a paisagem do Dique, um dos locais mais bonitos da capital baiana.

A conclusão das obras para o final do ano é possível, já as obras em seu entorno e do melhoramento e ampliação das vias que darão acesso ao novo estádio é uma outra etapa que deverá ter a mesma celeridade que teve a construção da Arena Fonte Nova. O que depende da atual prefeitura e prefeito municipal nada mais há a fazer ou esperar a não ser a nova eleição do novo prefeito e uma equipe capaz de dotar a cidade das obras necessárias para a realização de um evento que não nos envergonhe como anfitriões de uma das sedes da Copa de 2014.

sábado, 18 de agosto de 2012

O frio é ruim, mas tá bom,

“O Barquinho vai, o barquinho vem” como na canção de Menescal e Bôscoli, tal qual aqui neste inverno mentiroso que vivemos em pleno mês de agosto, onde ele, o inverno, costuma ser mais, muito mais intenso. As cores de Salvador, a sua iluminação natural é visível e perceptível por visitantes ou nativos desta cidade singular, onde a distancia, nesta reclusão na cidade alegre, não torna amarga, triste, já que tenho a certeza da volta, por alguns dias, poucos dias, mas volto.

Sou um ser urbano, embora sertanejo, piritibano, mas o meu mundo sempre foi outro, ou o mesmo, já que nunca se apodera daquilo que lhe é posto à frente integralmente, vamos derramando nossa tabaroice baiana onde chegamos, não por vergonha ou medo, mas pela tentativa de sermos verdadeiros, ante tanta, tantas mentiras, como essa. O feijão de Moema me espera.

O disco de Rita Lee fica me provocando com o rock que ela havia abandonado para satisfazer o mercado, porem Rita pode tudo e veio com tudo em Reza. Toca Raul!

 

O Senhor da Terra, atotô!


É agosto, sabemos. Nesta cidade onde tudo mundo é de Oxum, pode também ser, e é, de Omolu e Obaluaê. Quinta feira, 16 de agosto, foi o dia de celebração prá São Roque, que no sincretismo religioso corresponde a Omolu. O santuário de São Roque e São Lázaro, no bairro da Federação, recebeu durante todo o dia fieis pagando e fazendo promessas e participando da procissão pelas ruas do bairro. Compromissos na cidade, nestas rápidas voltas prá casa, não deixaram que comparecesse a mais esta demonstração de fé da comunidade baiana onde o cristianismo e o candomblé dão as mãos numa atitude de respeito e tolerância religiosa. Nem sempre foi assim, é fato, mas nada que não fosse possível relevar.
Mas, quatro de dezembro está se aproximando e espero estar por aqui acompanhando os festejos a louvor a Iansã, Santa Bárbara, esperando contar com a sua proteção contra os vagabundos que infestam esta e outras festas para afanar os distraídos ou crédulos demais na bondade humana. Ainda hoje me impressiona como o meliante conseguiu enfiar a mão no bolso frontal do lado esquerdo de uma bermuda que já entrava na contagem regressiva rumo esquecimento, pois velha e apertada, sem que notasse qualquer movimento mais brusco, além do empurra-empurra comum nestas ocasiões. Coisas da fé ou da cerveja quente em um dia ainda mais.
Foto: Omolu, Oxaguiã e Oxum

sexta-feira, 17 de agosto de 2012

Lá vai Esmeralda casar na igreja!

Quando se juntam músicos como o pianista Nelson Ayres e o cantor e violonista Renato Braz, cuja voz poderosa é um misto de Milton Nascimento e Ney Matogrosso, o resultado só poderia mesmo ser uma noite do mais puro enlevo musical, como se dizia em tempos de antanho. É esta dupla de grandes artistas brasileiros que se apresenta desde quarta feira até domingo dia 19 de agosto, dentro da programação da Caixa Cultural, aqui em Salvador. Aliás, esta é uma dentre tantas coisas que me fazem falta na cidade alegre, as apresentações da Caixa Cultural, a programação do Espaço Unibanco de Cinema, bem como o Palco Giratório no SESC Pelourinho com grupos teatrais e musicais de todo país, a preços populares, quando não gratuitos.

No show de ontem, às quinze horas já estava esgotada a lotação para uma distribuição de ingressos a partir das 14 horas e que tive que me submeter a uma lista de desistência, o que era previsível  tal a instabilidade do clima por aqui, onde o sol e a chuva convivem harmoniosamente, se isto é possível. Lamento e agradeço pelos que desistiram e, nos proporcionaram e perderam uma noite agradável de música, sem chuva. Ainda restam três apresentações e tempo. Virem-se!

Nelson Ayres já tocou com grandes nomes da música americana e brasileira e hoje integra o grupo instrumental Pau Brasil elogiado e amplamente premiado onde se apresenta, assim como o Renato Braz. A canção que abre o espetáculo Nunca de Lupicínio Rodrigues leva o interprete a uma modulação vocal entre duas frases iniciais da canção que nunca (mesmo!) tinha ouvido em grandes interpretes desta canção, como Zizi Possi. São detalhes perceptíveis ao ouvido, mas sem tradução verbal. Manias de um ouvido viciado em sons durante tanto tempo, e que de modo involuntário capta nuances nas interpretações de grandes vozes. Outra surpresa foi a canção, segundo o próprio Renato, pouco conhecida de Caymmi, que ouvi apenas uma vez na voz de Nana Caymmi, que é Desde ontem. Compreende-se porque o velho Dorival precisou de oito anos para concluir os versos finais de João Valentão, já que as joias precisam deste tempo de lapidação para se tornarem raras, foi assim também com Desde ontem.

Pensei que a recente interpretação de Melodia Sentimental de Villa Lobos, por Djavan, fosse um dos grandes momentos proporcionados pela canção a um bom interprete, mas Renato Braz rouba a cena impondo um matiz original a modinha do grande músico o que ela não mais necessitaria para ser a grande música que é. E assim vai seguindo o piano de Nelson, a voz e às vezes o violão de Renato Braz em canções como Esmeralda (lá vai Esmeralda casar na igreja) a que o pianista acrescenta uma história que tinha passado por mim despercebida. Que é a do cara apaixonado e preterido que torce para que na vida de Esmeralda dê tudo errado. Que o padre não apareça, não tenha orquestra, que os anjos não cantem e o povo não venha para ver Esmeralda sair da igreja nos braços de outro que não é seu bem. Quem devia casar com ela era eu, sim senhor. Coitada de Esmeralda, um espírito obsessor ranzinza em seu encalço durante todo este tempo. Mas Beatriz, Por toda a minha vida, A Bela e a fera, Ponteio vieram salvar, como se fosse preciso, uma note musical ímpar. Salve Nelson! Salve Renato

Foto: Renato |Braz 

quarta-feira, 15 de agosto de 2012

A volta dos que não foram!



As deserções de artistas, de vocalistas de uma banda, são sempre processos traumáticos, deixando marcas e seqüelas que o tempo não é capaz de curar. Foi assim com Rita Lee, dos Mutantes, após a separação de um casamento com Arnaldo Dias Baptista, o multinstrumentista e líder da inesquecível banda, significou também o seu rompimento com os antigos companheiros. O exemplo maior desta birra foi a recusa de Rita em participar do excelente documentário Lóki sobre a trajetória musical de Arnaldo, liberando, no entanto, as suas imagens, sem conceder qualquer entrevista para o filme como vários amigos e músicos que tocaram com a banda fizeram.

Também com Moraes em sua saída dos Novos Baianos, quando a banda ícone dos anos 70 já demonstrava sinais de cansaço criativo, o “novo baiano” queria continuar, mas em carreira solo, sinalizando que a sua tarefa no grupo tinha findado. Continuaram amigos a exceção de alguns ressentimentos, mas algum tempo depois voltaram a se reunir em projetos comemorativos ao grupo que balançou as estruturas da MPB, com a sua jovialidade criativa, irreverência e fumo, muito fumo, pois não se faz um disco como Acabou Chorare assim, com a cara e a caretice. Era pouco, era nada. Com Paul e John também rolou assim, continuaram grandes melodistas e letristas em suas carreiras e individualidades, enquanto George, Ringo e mesmo Paul nunca perdoaram aquela japonesa que mexeu com a cabeça de John, funcionando como uma eminência parda responsável pela dissolução do quarteto de Liverpool

Já no reino do axé, rola a bandalha, pois é um entra e saí típico de casa de Mãe Joana. Ivete deixou a banda Eva e ainda indicou o seu substituto, tal qual Claudia Leite com o Babado Novo. Porém, a saída às vezes é um tiro n’água. Os artistas deixam suas casas musicais, imaginando uma próspera carreira solo e não acontece absolutamente nada, como os exemplos de Carla Visi, Márcia Short, Netinho, Xexéu, Ninha e mais recentemente Tatau que está de volta ao Araketu.

Os exemplos são muitos aqui ou alhures, como o Toni Garrido que está de volta ao Cidade Negra após tentativa malsucedida de uma carreira longe dos velhos amigos. Atitude impensável para o Nasi que saiu do Ira, quebrando o pau com o seu empresário, que era seu irmão e, mesmo com o Edgard Scandurra o grande guitarrista da banda, cujas relações hoje são frias, distantes.  

Foto: Os Mutantes (Arnaldo, Rita e Sérgio)

domingo, 12 de agosto de 2012

Que Brasil que nada; Viva o Vitória.

È fácil jogar pedra em moribundo ou em derrotado, mas convenhamos, esta prata que a seleção brasileira de futebol conquistou ontem é paraguaia e fruto do acaso e da ausência de seleções que mereçam de fato este nome como as da Argentina, Alemanha e Holanda, por exemplo. A classificação se deu graças a lampejos da genialidade brasileira que Neymar, Oscar, Marcelo ou Tiago Silva souberam demonstrar mas, não foi, não era, nem será suficiente para vôos mais longos e sonhados por nos torcedores brasileiros.

Com Mano Menezes e seu olhar de mercador, capaz de ver talento em Gabriel, Rafael ou Alex Sandro, merece é desprezo e, nada mais Esta praga de treinador encher a bola de jogadores medíocres visando um futuro 10% em tenebrosas transações com clubes europeus e agora asiáticos, vem apequenando o futebol brasileiro que hoje ocupa no ranking da FIFA, o 11º lugar. Para quem foi o primeiro durante tanto tempo, tem uma explicação, uma causa, que vai muito além da sorte ou azar. Azar de termos dirigentes como João Havelange, Ricardo Teixeira, José Marin, Andrés Sanches entre outros bichos, mandando no futebol brasileiro como quem comanda o sanitário de suas mansões. É pouco, é nada, para a glória que tivemos e poderemos de ter de volta. Com essa gente, não!

Mas o sábado não foi só de indignação e baixo astral, taí o nosso rubro, o Vitória, que arrancou um suado 2 x 1 sobre o América de Minas, em seu território e garantindo a sua permanência entre os quatros que deverão subir para a Serie A. Este é o seu lugar, mesmo com a ressalva que faço a estas subidas e eventuais caídas, já que o nosso Leão está acima destas querelas classificatórias ditadas pela CBF. Que Brasil, que nada; viva o Vitória.

Os atletas e os atletas em Londres

Acompanhei de modo irregular as Olimpíadas de Londres – 2012, mas o suficiente para confirmar algumas observações sobre determinadas modalidades esportivas e seu grau de dificuldade para tão buscada conquista das medalhas. O vôlei, vela, basquete e, o futebol principalmente são medalhas cujas conquistas decorrem de uma quase interminável serie de classificação e eliminação às vezes injustas. Lembro de Adriana Araújo, baiana “boxer”, medalha de bronze e, que soltou os cachorros, acredito merecidamente, sobre o presidente da confederação de boxe, mas cuja derrota/vitória foi um amargo “pau” na cara dado pela adversária russa que em nada tirou o brilho de sua glória esportiva. Ou o choro compulsivo da extraordinária levantadora de vôlei da equipe russa após a derrota para o menos maravilhoso time da Zé Roberto, a seleção brasileira e, com desempenho emocionante nas quadras de Londres.    

Tudo isto vem à tona após ter assistido uma série de atletas da ginástica artística. Tudo muito bem, moças graciosas, algo leve e terno, mas pouco esportivo. Espetáculo que se assiste como quem vê cenas do Circo de Soleir ou de um grande circo que levante suas lonas nas capitais de qualquer país, jamais uma modalidade olímpica, que me perdoe as artistas da ginástica e do malabarismo circense, sem que haja nestas observações qualquer demérito em suas atuações. Não demorará o tempo em que deverão ser admitidos como modalidades esportivas o “futevôlei” e a peteca, cujos atletas poderão ser recrutados nas areias do Porto da Barra, principalmente a peteca, onde os coroas barrigudos e grisalhos mandam ver com um entusiasmo juvenil. Rio 2016!     

quinta-feira, 9 de agosto de 2012

Londres 2012 - Rio 2016

O encerramento das Olimpíadas de Londres - 2012, no próximo domingo, às 17 horas, terá para nós brasileiros um atrativo a mais, alem da comemoração das poucas medalhas conquistadas, a entrega da pira olímpica à Rio 2016, próxima parada dos atletas olímpicos de todo o mundo. Como já se sabe em cerimônia assim, elas, as atrações, são sempre cercadas de muitos mistérios e esconde-esconde. Porem, como anfitriões da próxima Olimpíada, sem qualquer especulação, é certo a participação de artistas e grupos brasileiros na solenidade de encerramento. Pode ser a Marisa Monte, nunca o Michel Teló, pois aí só o controle remoto pode nos salvar, além da esperança do bom gosto e do senso de brasilidade dos organizadores da festa, com participação de brasileiros na equipe, que fecha com chave de ouro a Londres-2012.

Nada, porém é tão certo como a presença do gari Sorriso da Companhia Municipal de Limpeza Urbana do Rio, que fez nome e fama involuntária nos desfiles do Sambódromo entre a passagem de uma escola e outra, no Carnaval, quando com sua vassoura limpa a passarela do samba e samba. Samba muito, pouco importa se limpa alguma coisa, basta a simpatia e a ginga da “figuraça” que é Sorriso. É esperar prá ver o que este às da vassoura e do samba fará no Estádio Olímpico. “Brasil mostra a tua cara!”.   

Quando o muro separa, uma ponte une.

A morte de Magro do MPB4 me pegou triste, em uma semana que se iniciava sob o manto da truculência policial no distrito do Porto Feliz e da possível tensão que a campanha política da cidade alegre pode, perigosamente, enveredar, tal o acirramento de ânimos que deverão dominar a campanha. Ou nada disso, apenas “dias que a gente se sente como quem partiu ou morreu”, alem do conhecimento do fato de que a saída de Ruy, o Ruy Farias, em 2004, não foi algo natural, como se imaginava. A reunião de quatro jovens colegas universitários de Niterói, no começo dos anos 60, não seria eterna como não costumam ser as relações de bandas e grupos do meio artístico e o desmoronamento do projeto acaba sendo inevitável. A eleição de Miltinho como o produtor musical e empresário do grupo não agradou a Ruy, que preterido preferiu arrumar seus panos e cantar em outra freguesia, como se fosse possível, naquela altura do campeonato.

Ruy era aquele baixinho cabeçudo, barbudo e abusado, a primeira voz do grupo, em que versos como “quando o muro separa, uma ponte UNE”, de Pesadelo (do LP Cicatrizes), era como se fosse um recado aos algozes de plantão. O verbo unir de une, além de significar união contra a força era também uma evocação a saudosa representação estudantil, cuja sede na Praia do Flamengo foi metralhada e incendiada pela covardia militar. O Ruy era a própria indignação do grupo, além de ser a figura mais carismática e brincalhona do MPB4.

O registro da marca MPB4, em nome de um dos integrantes do grupo, Aquiles, Magro e Miltinho, logo após a saída do Ruy, não foi um gesto honesto, prá se dizer o mínimo. A atitude pouco profissional e desrespeitosa gerou, com razão, pendências judiciais ainda não resolvidas ou em parte equacionadas, já que cada vez que forem utilizados fonogramas anteriores a sua saída, em show, direitos autorais ou qualquer outra forma de uso da voz e da imagem, comercialmente, lhe é devido 20% do ganho decorrente deste uso.

“Pois aí está. Hoje, muito infeliz, e acuado desta maneira, não vejo outra saída, senão, aos 66 anos, me ver impelido a este perigoso e apavorante salto no escuro. Prevejo que nessa idade vai ser muito difícil a minha subsistência; assim, penso demandar alguma parcela dos ganhos gerados por esta entidade, que ajudei a construir durante quase dois terços da minha existência. É isso aí, não dá mais, estejam livres”. (Trecho da carta de Ruy, comunicando aos que ficaram sua saída do MPB4).

Foto: MPB4 (Miltinho, Aquiles, Ruy e Magro)