domingo, 29 de abril de 2012

Vidas secas, vidas molhadas


Simanca - Charge

Nesta cidade todo mundo é d'Oxum.


A música baiana que se preza ficou um pouco mais triste nesta manhã de sábado, com o desaparecimento de Vevé Calazans, em uma luta inglória contra o câncer, aos 66 anos. Antes tinha nos deixado Ederaldo Gentil, autor de o Ouro e a madeira e de outros sambas gravados por artistas como Beth Carvalho, João Nogueira, , Originais do samba etc. Quanto a Vevé Calazans também gravado por nomes como Fafá de Belém, Maria Creuza, MPB 4, nos deixa, mas deixa o hino da nossa baianidade nagô, com É d’Oxum, composta com Gerônimo, mais que necessário para se imortalizar no universo de nossa música.

Vi Vevé Calazans pela última vez, o ano passado, nos jardins da Biblioteca Pública dos Barris, no aniversário da instituição, em uma mesa redonda em que também participaram a cantora Marilda Santana, a juíza negra Lucinda Costa, o professor Jorge Portugal, discorrendo sobre quando começou o seu hábito de ler. Vevé ainda aproveitou o momento para entoar alguns versos de É d’Oxum, mas já apresentava sinais de sua debilidade física. Morreu lutando por direitos sobre um jingle feito para a campanha do "velhote inimigo que morreu ontem". “A força que mora n’água/Não faz distinção de cor/E toda cidade é d’Oxum”.     

sábado, 28 de abril de 2012

Cotas financeiras sim, raciais não.


Camila, a minha filha mais nova, em duas oportunidades em que concorreu ao vestibular da Universidade Federal da Bahia – UFBA, teve a pontuação necessária para se matricular no curso pretendido, mas foi empurrada para fora do número de vagas, em vista do choque com o percentual destinado às cotas raciais. A indignação é pertinente a qualquer pai, embora sem radicalizar posições como muitos pais que buscaram nos tribunais de justiça a reparação, sim, do abuso ao direito legitimo de uma aprovação em beneficio de possíveis reparações raciais. Sei que estou mexendo em um vespeiro e, pouco me importando com o preconceito, sim, de quem se apresenta como coitadinho, desamparado, no limbo de um humanismo piegas, mesmo que a história nos mostre exemplos e demonstrações de privilégios descabidos e imerecidos. Não vou entrar nesta seara, mesmo não desconhecendo o que abarca judeus, negros, mulçumanos, indígenas e outras etnias, o buraco é em pouco mais embaixo.

O acesso às instituições de ensino público é legitimo a qualquer cidadão e, as tais cotas devem ser motivo de reparações econômico-financeiras, jamais de  difusas reparações raciais que apenas desperta quando não aumenta a tão combatida discriminação étnica.  Falei!       

Sob o ar condicionado central



Estivemos em Morro do Chapéu o ano passado e a sua paisagem continuava inalterada em sua beleza, própria da Chapada. Vegetação, clima, rios, águas nada prenunciava a radicalidade do que agora encontramos neste deslocamento para mais um final de semana longe da cidade alegria. Logo após o Porto Feliz, já transitando na Estrada do Feijão recuperada, motivo da presença do governador do estado, hoje, para a inauguração daquele serviço. Continuando o percurso iniciado, já no município de Morro do Chapéu, nos deparamos com a barragem do Angelim, antes da entrada da Ventura, completamente seca em sua vasta extensão, apagando a beleza contemplada por tantos que já subiram ou desceram aquele chapadão. Era a manifestação da seca que assola a região em sua cruel indigência e que o governador não verá de seu avião oficial.

Mas algo no Morro permanece como o conhecemos há 30 anos. O agradável clima matinal e do final de tarde, decorrência de seus mais de 1000 metros de altitude acima do nível do mar. A contradição da seca e do calor em toda a duração do dia, com o ar condicionado central do inicio e do fim do dia é que estabelece a diferença e o prazer que não se sente em outras cidades da região. O orgulho morrense é justificado, natural, sem nenhuma falsa alegria. 

quinta-feira, 26 de abril de 2012

O charme espalhafatoso do tecnobrega



A nova novela das 07, da TV Globo, Cheias de Charme jogou nas salas do país o mais novo produto da indústria fonográfica, o “tecnobrega”, oriundo do Pará, estado que tem uma forte tradição nos ritmos dançantes. E dançar é mesmo o ramo de Gaby Amarantos, interprete da abertura da novela com o sucesso “Ex my Love” e seus versos que fazem jus ao brega do movimento em que ela é uma das mais notórias representantes, o “tecnobrega”. Mas a Gaby Amarantos é apenas a parte visível da lua, há muito mais movimentação em volta ou atrás da Byoncê amazônica, que tanto pode ser o rebolativo Beto Barbosa, o brega mesmo Alípio Martins e a matriz de tudo que é o carimbó, como parece ser.

A TV Globo que sempre empurrou a música brasileira para os horários de noite morta, além da madrugada através de especiais e com as transmissões dos shows para coruja assistir, se rendeu aos encantos da poesia extravagante de Gaby: “Ex my love, ex my love, ex my love/Se botar teu amor na vitrine/Nem vai valer 1,99”. O que é a natureza!  
Fotos: Gaby Amarantos 

O "Oásis de Betânia"


Um novo disco de Betânia é sempre um acontecimento. Neste 50º álbum de sua carreira, Oásis de Betânia, a cantora baiana mantém a qualidade e a surpresa que costuma guardar em seu repertório. O bom gosto já começa com a bela fotografia da capa em que a aridez do sertão alagoano, expressa a sua ligação com o Nordeste, a busca e a valorização desta região que segunda ela o “sertão é silêncio, resignação e dignidade”. Só uma cantora independente como Betânia em que pese a sua ligação contratual com a Biscoito Fino responsável pela distribuição dos discos para um selo seu, próprio, como o Quitanda, consegue fazer e cantar o que gosta, pouco importando se é o gosto do mercado, dos críticos, da novela da Globo. É a bussola de sua carreira e de seus admiradores.

O ano passado, a propósito de um blog idealizado pelo antropólogo e produtor cultural, Hermano Vianna, em que Betânia diria poemas e textos de autores nacionais ou não, tendo um acompanhamento acústico, com recursos captados pela Lei Rouanet, a cantora foi quase levada a execração pública. Para estes jornalistas cretinos, Betânia parece dedicar os versos de uma música gravada por Dalva de Oliveira, o samba canção Calúnia que é uma espécie de prólogo para o texto Carta de amor, escrito por ela: “Quiseste ofuscar minha fama/E até jogar-me na lama/Só porque vivo a brilhar/Sim, mostraste ser invejoso/Viraste até mentiroso/Só prá me caluniar”. Mas o disco é muito mais que farpas a seus detratores, são registros de canções antigas como a bela Lágrima, de Cândido das Neves, o Velho Francisco de Chico, a inédita Vive de Djavan e canções do baiano preferido de 10 entre 10 cantoras da MPB, Roque Ferreira. Deste baiano privilegiado sobressai Fado, uma canção dolente como uma canção portuguesa, mas com os violões e violas brasileiras a cargo de Hamilton de Holanda.

Oásis de Betânia é um disco que só poderia ser gravado por Betânia, não apenas pela independência do repertório, mas pela sua capacidade de buscar em nosso cancioneiro popular, canções adormecidas agora recobertas por arranjos entregues a músicos diferentes em cada uma das faixas. A unidade do disco é mantida pela produção musical de seu fiel escudeiro o violonista Jaime Além. Um disco de Betânia com o bom gosto e qualidade que são sua marca e definição.

quarta-feira, 25 de abril de 2012

Lembranças de "Os skrotinhos".




Tirinhas: Angeli

O dia de glória dos brucutus!



E o Barcelona hem? Quem diria, veio fazer companhia ao Flamengo, Corinthians e Palmeiras. Uma companhia que honra os nativos, mas só faz desmerecer o time espanhol, já que entre eles existe apenas a eliminação como meio de igualá-los, porque no mais só o abismo para delimitação da capacidade de cada um. Jogando contra um time de brucutus de chuteiras a academia de balé do Barcelona funcionou como de costume, mas desdenhou da imprevisibilidade que o futebol por vezes nos prega. O time inglês do Chelsea fez o que dele se esperava. Botinadas, expulsão, retranca e a confiança no acaso, que acabou fazendo uma surpresa. Antes, Ramires, honrando a tradição verde amarela, fez o gol que na carreira de Messi é marca, mas que ontem não marcou. Ponto para Ramires, ex-Cruzeiro, e um gol consagrador que o russo, dono do time inglês, deve até agora estar passando a mão na cabeça do brasileiro e se regozijando pela contratação, em meio aos estivadores do seu time.

Hoje, as cassandras sairão do breu das tocas para tentar desmerecer o time espanhol e apregoar porque o Santos não merecia, o Santos foi respeitoso demais e coisa e tal, esquecendo-se que naquele domingo 4 x 0 foi pouco, para aula de futebol dada pelo Barcelona e que os brasileiros, como alunos obedientes, observaram atentamente. Quanto ao Chelsea nada há a aprender, talvez a esquecer, somente a certeza de que não há time imbatível, até para mostrar que os brucutus também podem, mesmo que não mereçam, ter o seu dia de glória. Ontem foi o dia do Chelsea.

terça-feira, 24 de abril de 2012

Lucas e Mel - O amor, o sorriso e a flor.




LAÇOS DE FAMILIA - Há um dito popular que já foi incorporado como verdade bíblica e utilizado em cânticos religiosos que diz “quando uma porta se fecha, outras se abrem”. A porta que se fecha pela dor, pela perda, pela saudade, pode se abrir pelo amor, pela paz, pela alegria e pela flor que Mel representa na vida de Lucas, de Cris e de todos nós que os amamos.

Foto: Lucas e Mel

Só acontece com o Flamengo!


A bruxa esteve solta pelos gramados de futebol neste domingo de definições de finalistas para vários campeonatos regionais. Mas nada como para Palmeiras, Corinthians e Flamengo, já que para os demais ditos grandes ainda há uma possibilidade de se safarem da exclusão na disputa do título de 2012. Como os baianos Barcelona de Itinga e o Vitória que perderam seus jogos de ida e podem se recuperar em seus redutos no próximo domingo. Mas o nosso rubronegro, o Vitória mostrou que a goleada imposta ao mesmo time para qual perdeu por 1 x 0, em Senhor do Bonfim, domingo, não foi assim lá tão merecedora, se levarmos em conta a inexpressiva partida que fez contra este mesmo Feirense, uma semana depois. Mas, o futebol tem seus caprichos e sua própria lógica, que é não ter lógica nenhuma.

Mas, em termos de rubronegro, nada se compara ao nosso Flamengo contra Vasco. Até porque, perder do Vasco é algo imperdoável, para qualquer rubronegro que se preze e, ficar de fora das disputas do campeonato carioca, para quem já foi eliminado da Libertadores, e não disputa a Copa do Brasil significa o ócio de um mês longe dos gramados. Nem tão mal prá turma do “chinelinho”, para quem treinar, concentrar e jogar é um tormento, sobrando, no entanto, muito tempo para as baladas, baile funk, vôlei de praia, praia, chope à beça “meu Deus quem diria que isto iria se acabar, e acabava em samba que é melhor maneira de se conversar”. Vigia Patrícia Amorim, tua batata cozinhando!  

Laços de Família - Bella, a mais nova "cuíca".


Nasceu ontem, 23.04.12, no Hospital Santo Amaro, em Salvador, as 20:30 hs, Isabella, a primeira filha de (Fabrício) e (Luciana) e terceira neta de Dário e Uiara. Bella vem se juntar a Mel, filha de Lucas e Cris que chegou um pouco antes, há três semanas, para se transformarem nos mais novos xodós dos “cuícas”. Um clã que era basicamente masculino, a exceção de Iarinha, filha de Bira e Mirian, e que aos poucos foi sendo adornado com as presenças de Val, Dany, Shirley, Camila, Joana, Bruna, Malena, Mari, Marina, Marina, Luiza, Clarinha e mais netas e bisnetas de D. Lourdes que já formam um rol considerável e luminoso das mulheres “cuícas”.

As nossas boas vindas a Bella, pelos versos de Caetano, saudando a chegada de seu primeiro filho; “Minha mãe e eu/meus irmãos e eu/e os pais da sua mãe/e a irmã de sua mãe/Lhe damos as boas vindas/Boas vindas, boas vindas”.

Foto: Ilustrativa

segunda-feira, 23 de abril de 2012

Lembranças da Rê Bordosa


Charge: Angeli

Tudo certo na Bahia?


Há algo de errado, com a cantora de axé Claudia Leite, com o mercado de música baiana, com a nossa moeda - o real, com o gosto musical ou tudo isto junto, para explicar o mais que inflado cachê destas estrelas soteropolitanas. A apresentação da loura do axé na Micareta de Jacobina variou entre 400 a 450 mil reais para um show volante em cima de um trio elétrico, conforme comentários embasbacados de jacobinenses ou visitantes.

Convenhamos é muito dinheiro para uma música chinfrim, descartável, sem qualquer possibilidade de permanência, mas um mero barulho transitório, para uma música da qual ninguém mais lembrará findo o verão ou o carnaval.

De dia fallta água, de noite rola a festa.



Em Jacobina neste final de semana onde desfrutamos da companhia e da gentileza de Doro, Jane e família. E como a cidade estava em festa, com a Micareta de seu centenário de fundação, fomos participar do movimento que tomou conta de Jacobina durante quatro dias. Uma festa grandiosa como a cidade merece, só que em um momento inoportuno, como reconhecem alguns dos munícipes com quem conversamos. Mas, não era momento de celebrar ou malhar a irresponsabilidade de nossos administradores públicos, já que a festa estava na rua, então em “Roma, como os romanos”. Avenidas largas onde ocorriam os circuitos da festa, uma espécie de Avenida Sete e Carlos Gomes, trajetos paralelos que os blocos contornavam em longo percurso. Iluminação, camarotes, decoração, limpeza urbana, barracas padronizadas, serviço de som, artistas de ponta da “axé music”, como Banda Eva, Jammil, Psirico, Timbalada, Armandinho Dodô e Osmar, Luis Caldas, Claudia Leite, Seu Maxixe fizeram a animação do grande número de foliões que encheram os circuitos da folia.

Comenta-se na cidade que três dias após a festa, que terminou ontem, a prefeita da cidade, “dona menina”, pediria ao governo do estado a inclusão do município no programa de assistência decorrente de uma calamidade pública provocada pela seca, que não se manifestou nestes três dias finda a festa, claro. Se houver por parte do governo do estado um pouco de seriedade, não negaria este socorro, já que a população não pode pagar pela insensatez de seus dirigentes, mas seria bom que o governador e seus secretários tivessem em mãos pelo menos a planilha de custos oriunda dos cachês dos artistas que se apresentaram na festa. Algo próximo a hum milhão de reais como se comentava enquanto a festa rolava.   

sábado, 21 de abril de 2012

Andrada - O goleiro "dedo duro".



Bastaria ter sido o goleiro que tomou o milésimo gol de Pélé, em um Maracanã lotado para a partida Santos e Vasco, para ser lembrado no futebol brasileiro.. Mas Andrada foi mais do que isso, defendendo a meta vascaína por mais de 10 anos, alem do rubronegro baiano, o nosso Vitória em uma breve temporada, sempre correto e profissional, antes de retornar a Argentina. Em seu país de origem ainda atuou como treinador de goleiro no clube onde começou a sua carreira de jogador de futebol, até se afastar de vez dos gramados para desfrutar do ócio da sua aposentadoria.  

Mas, a sua volta a Argentina e o afastamento de vez do futebol não tem sido um mar de tranqüilidade e certeza do dever do cumprido. Andrada está sendo acusado junto a mais oito comparsas de seqüestrar, torturar e matar dois militantes de esquerda e opositores da ditadura argentina que infelicitou o pais por mais de uma década. Em síntese, Andrada era um informante do regime militar e “dedo duro” junto a sua comunidade. Quem diria!

Ao contrário daqui, onde uma mal-assombrada Comissão da Verdade tenta se instalar e funcionar na apuração dos crimes militares, lá na Argentina quem violou direitos humanos, seqüestrou, torturou e matou está respondendo perante aos tribunais pelos seus desatinos. Ainda veremos, por aqui, assassinos daquela periculosidade serem julgados e condenados, em que pese a gritaria destes, maus brasileiros, servidores públicos que trocaram a farda pelo pijama, elaborando manifestos, desrespeitando ministro de estado e a própria presidente, contrario que são à verdade dos fatos. “O tempo é senhor da razão”.

Fonte: Piauí

sexta-feira, 20 de abril de 2012

Aula de yoga, mas é bom conter os excessos.


Site: Humor Politico

VEJA - A tromba d'água de Cachoeira.


Instaurada a CPMI, entre Senado e Congresso, para a apuração das ligações perigosas e suspeitas do contraventor Carlinhos Cachoeira com a classe política, depreende-se, tal a abrangência destas relações promíscuas, que a lama no ventilador salpicará todos os partidos. Não haverá vestal, mesmo que alguns apressados queiram posar como tal. Grampinho sorridente tendo às mãos o calhamaço contendo a assinaturas dos políticos, com o número além do necessário, para a criação da CPMI, era o próprio candidato a vedete do espetáculo bizarro a ser encenado brevemente sob os holofotes da mídia. A esta altura dos acontecimentos ele já deve estar escolhendo a fantasia que arrastará pelo plenário da CPMI, na fúria de aparecer perante aos 33% do eleitorado de Salvador, seu foco e migalhas do espólio carlista.

Mas, pelo andar da carruagem, insinua-se que a vedete do espetáculo, a Geni da CPMI, será o lixo jornalístico que atende pela alcunha de VEJA e as ligações do seu editor chefe com o “Cachoeira” que resultaram em dezenas de reportagens com denúncias de corrupção, naquele papel higiênico colorido. As denuncias eram e são sempre contra o governo, seus membros e aliados. A ator José de Abreu, que esteve cotado para o Ministério da Cultura, em que Ana de Holanda foi a escolhida, postou em seu twiter, o ano passado, o seguinte:


Este senhor, o dono da latrina jornalística, que nem brasileiro é, fatalmente será chamado para esclarecer esta sua obsessão antigoverno e das relações do contraventor com o editor chefa da sua revista, bem como da produção em serie de denúncias, com aúdios de conversas gravadas com o bicheiro e sua freguesia. Mas a classe jornalística que ponha também as barbas de molho, pois a CPMI do Cachoeira poderá representar uma tromba d’água em sua reputação, onde parece só há santos, nada de bruxas. Veremos!

quinta-feira, 19 de abril de 2012

Se não vem a chuva, que então venha a festa.


Começa hoje na cidade de Jacobina – Bahia a Micareta Centenária que irá até domingo com atrações para todos os gostos e que deverá atrair grande número de foliões da região e do estado. Além da festa carnavalesca fora de época, a cidade comemora os seus 100 anos de fundação, de costas para a barragem de São José do Jacuípe, que abastece a cidade, embora esteja com apenas 11% de sua capacidade de armazenamento. Indiferente a este buxixo festeiro, a seca que assola a região da qual Jacobina está inserida e uma indesejada epidemia de dengue, com casos do tipo hemorrágica com óbitos, não irão estragar a festa. Nada que um trio elétrico, um grupo de pagode e uma das muitas rainhas do axé não resolva. Quanto à dengue, os que sobreviverem à Micareta tratarão de contê-la, finda a festa.

Não se pode exigir de todo administrador público a sensatez do prefeito de Tapiramutá, por exemplo, que enfrentando a situação próxima de uma calamidade pública no município e seus vivinhos fronteiriços, convocou a comunidade para decidir através de um plebiscito a manutenção ou não dos festejos de São Pedro, tradicional festa da cidade. Sabiamente a comunidade disse não, adiando a festa para um momento mais propício e menos sofrido para a sua população.

Certos administradores, ao contrário deste de Tapiramutá, que são maioria, infelizmente, não se furtarão em carregar água em cestos, onde quer que haja água, para mostrar que tá tudo bem, que a água não está tão escassa assim, dando como exemplo a sua residência e a de seus apaniguados. Com olhos na reeleição que lhe dará mais 04 anos de poder e nas nuvens do céu em busca da chuva que não vem, este gestor público põe na festa, no arraiá, o seu futuro político, refém que está de uma sociedade tão inconseqüente como ele, para quem o fim da festa é algo inaceitável, para uma cidade alegre, carente de festa.  

Que Vitória é esse mermão!


Poderia ter ido dormir apenas com o mal estar que a noticia sobre o estado de saúde da prima Neca causou em mim. Mas não, fui assistir pela TV Bahia ao jogo de volta do Vitória contra o ABC de Natal, pela Copa do Brasil. O primeiro tempo já foi suficiente para espalhar o sono que não viria em condições normais naquela noite, e o rubronegro certo de uma vitória ou um empate sem gols que lhe daria a classificação para a próxima fase, deu a sua parcela de contribuição para o baixo astral noturno.

Nada funcionava, meio de campo, ataque e o desinteresse pela partida demonstrado pela equipe da casa motivou o adversário que foi prá cima em busca do gol. E o gol veio, bem como o reflexo condicionado um busca do controle remoto para desligar a TV. Pela manhã soube da virada rubronegra e dos três gols de Neto, o artilheiro do Brasil e da vitória por 3 x 2 contra o time potiguar aos 48 minutos do segundo time. Não sei se foi melhor não ter assistido a partida ou vivido a emoção de um jogo cujos minutos finais foi de tirar o fôlego de quem ainda tinha ou ainda não tinha abandonado o Barradão. Que é que é isso Vitória!

quarta-feira, 18 de abril de 2012

A banda de todos os tempos da última semana.


A frase irônica de um dos últimos sucessos dos Titãs não se aplica a própria banda que comemora este ano 30 anos de sucessos e defecções. Os Titãs são páginas definitivas na breve história do rock nacional a partir mesmo dos anos 80, juntamente com Os Paralamas, Ira, Kid Abelha, Barão Vermelho, Capital Inicial, Blitz, Ultraje a rigor e outras mais. Inicialmente com 08 componentes a banda assistiu ao longo deste tempo deserções e mortes, contando hoje entre os sobreviventes com os músicos Paulo Miklos, Tony Bellotto, Branco Mello, Sérgio Brito. Os companheiros Arnaldo Antunes, Marcelo Fromer, Nando Reis e Charles Gavin, ficaram no meio do caminho, por razões diversas, mas cada um ao seu modo continuou no mundo da música, espalhando poesia e som, a exceção do Marcelo que nos deixou de forma trágica. E a comemoração se inicia por São Paulo onde tudo começou, em que pese a explosão nacional ter se dado a partir dos shows no Circo Voador no Rio, em 1986.

A festa dos 30 anos trará a leitura integral de um disco que é marco na carreira da banda e referência para o rock brazuca, como o “Cabeça Dinossauro”, em que os Titãs mostraram de fato a que vieram: som pesado, letras provocativas e insubordinadas, rebeldia punk como na música título, Policia, Família, Bichos escrotos, AA UU, Porrada, Homem Primata etc. Pique criativo que os Titãs foram perdendo com o passar do tempo, mas o carisma da banda continua inabalável e despertado a atenção de quem sempre tem uma novidade a mostrar, que seja um rockzinho maneiro, uma balada, uma canção bem comportada, mas sempre com a marca registrada de quem sempre foi um dia: Titãs   

terça-feira, 17 de abril de 2012

Campeonato Baiano - Abelhas em campo.


Só podia mesmo acontecer por aqui. Em um campeonato, como o baiano, que não tem qualquer atrativo, onde há uma desigualdade incontornável entre as duas equipes da capital e as demais equipes interioranas, e as partidas finais são facilmente previsíveis, o público foge dos estádios como quem corre de um enxame de abelhas, por exemplo. Pois é. Estavam em campo as equipes do Juazeirense e do Fluminense de Feira, no estádio Adauto Moraes às margens do São Francisco, uma partida de meter medo em filho de carranca, modorrenta, desinteressante e debaixo de uma temperatura que só Juazeiro e o Saara têm.

Fugindo de um incêndio provocado por uma vela em louvor a algum santo, em uma casa próxima ao estádio, a abelha rainha ordenou que a colméia procurasse um lugar seguro para a sua instalação, longe do fogaréu que deixaram prá trás. Um estádio deserto com umas almas penadas correndo prá lá e prá cá, uma arquibancada tomada por um único bandeirão do Juazeirense, pareceu à abelha rainha o destino certo para o seu mel. O enxame deu um vôo rasante sobre o estádio mirou a rede mais próxima e para lá se dirigiu.

Percebendo a chegada destes torcedores tipo “mancha verde”, “dragões da fiel” ou “bamor” os jogadores dos dois times, gandulas, juiz deitaram no gramado e esperaram que os novos torcedores se acomodassem em qualquer lugar menos nos quatro cantos do campo. Mas, as abelhas, com o seu bom gosto habitual, pressentido o azedume daqueles mandacarus tombados, foram buscar paragens mais arejadas, flores com outros aromas que não fosse o suor, o chulé ou o bálsamo benguê.    

Laços de Família - Tio Lôro por Clarinha.


Recebi domingo um presente da sobrinha querida Maria Clara – Clarinha – que me deixou emocionado e nem um pouco assombrado com a visão que seus olhinhos infantis e artísticos têm de mim. Sou magro, alto, mas os cabelos ao vento ou longe dele, há tempos fugiram de mim, deixando em seu rastro devastador alguns poucos fios e uma calvície que é quase um atentado ao pudor, conforme a imagem que tenho quando estou na cadeira do cabeleireiro e fito o espelho atrás de mim. Clarinha é artista e não se prende a estas dissonâncias modelares, mas a uma imagem que lhe interessa ou que gostaria que fosse, ou como fui um dia.

Tinha os cabelos longos, assim como as idéias, em uma juventude que pretendeu e construiu novos parâmetros de beleza e, onde a feiúra, conforme Umberto Eco, era muito mais interessante e mais comovente que a beleza. Não fui medonho, mas um modelo próximo daquele flagrado pelos olhinhos infantis e artísticos de Clarinha. Beijos tio! Te amo.

Quadro: Clarinha

Agamenon Mendes Pedreira - O chato.


Existem personagens que deveriam continuar existindo no campo da ficção, sem jamais se materializar em seres vivos nos palcos dos teatros ou nas salas de cinema. Assim me pareceu o Agamenon Mendes Pedreira, personagem do Hubert e do Marcelo Madureira que conheci desde os tempos do Planeta Diário, nos anos 80, jornal de humor que fez companhia ao Casseta Popular cujos editores e colaboradores depois se uniriam no programa Casseta e Planeta da Rede Globo. O Agamenon sobrevive em uma coluna no Segundo Caderno de O Globo aos domingos, sustentando Isuara, sua esposa e se arrastando em um Dodge Dart amarelo eternamente estacionado na frente do prédio do jornal.

As aventuras de Agamenon - O repórter, recentemente lançado no cinema carece de graça e humor para quem acompanha sua coluna e conhece a personagem praticamente desde a sua criação. As piadas são conhecidas e quando transportas para as imagens do filme perdem a ironia e o riso, pela canastrice e pelas cafajestadas de Agamenon, que na ficção são sugeridas e aqui se mostram escancaradas. Agamenon é um repórter que esteve presente em grandes momentos da história, como as duas grandes guerras mundiais a queda do Muro de Berlim o naufrágio de Titanic, as mortes de Getulio Vargas e John Kennedy, o aparecimento de João Gilberto, a caça a Bin Laden etc. Nestes momentos o filme consegue alguma atenção e interesse pelas montagens e pela recriação dos locais das tragédias em que a figura de Agamenon se faz presente em companhia de muitas e tantas celebridades, graças a estes efeitos.

Os depoimentos de Fernando Henrique, Caetano, Nelson Mota, Ruy Castro, Paulo Coelho, Zeca Pagodinho sobre o personagem apenas demonstra como é inverossímil a figura levada às telas do cinema, sem qualquer consistência com o ficcional das páginas de O Globo. É um filme chato e bobo. Se cuida Agamenon, alem de levarem Isaura, sua esposa, seu Dodge Dart amarelo, vão acabar lhe levando a coluna dominical, tal a chatice que a sua figura, que era simpática, inteligente e mordaz, se tornou após o filme. Como se não bastasse, Pedro Bial é o repórter que puxa o fio da história, o condutor da narrativa, de Agamenon. Pobre Agamenon!

domingo, 15 de abril de 2012

Não há cabeça, tronco, membros.


Charge: Duke

Até tú (aliás sempre tú) Flamengo?


Tem certas coisas que só acontecem com o Flamengo, aliás com o Vitória também, meus times e, para fazer jus ao karma, até comigo também, já que fui banido de um grupo, que não pedi prá entrar, no facebook. Prosaico. Mas falando de algo com um mínimo de seriedade, a eliminação do Flamengo na Copa Libertadores, bem mais interessante, embora desolador.

Enquanto vencia o Lanús da Argentina, no Engenhão, por 3 x 0, todos, torcida, jogadores, treinador, jornalistas, colavam o rádio no ouvido e os olhos no placar do estádio para acompanhar o resultado entre o Emelec do Equador x Olympia do Paraguai. O resultado de 2 x 2 entre os adversários classificava o Flamengo, mas aos 48 minutos do segundo tempo o Emelec jogou um balde de água fria na torcida rubronegra, fez 3 x 2, classificando e eliminando o Flamengo.

Que o Vitória nestas finais de campeonato honre a mística do Leão da Barra, em que pese a campanha convincente do Barcelona de Itinga, que após 10 anos de jejum poderá voltar a ser campeão baiano. Quero é prova!

Uma CPI pelo amor de Deus.


Parece que deputado Grampinho e o senador Álvaro Dias terão agora como justificar os seus mandatos com a provável instauração de uma CPI para apurar os negócios de Carlinhos Cachoeira com a classe política. Será a CPI do fim do mundo segundo alguns analistas, mas que duvido, tal a senso de corporativismo que cambada se imbui quando o dendê jogado no ventilador poderá manchar para sempre as suas já avacalhadas reputações.

Não será uma CPI como gostaria o deputado Grampinho, por exemplo, onde com certeza transformaria a tribuna em um palanque para suas pretensões eleitoreiras à Prefeitura de Salvador. Um dos principais investigados será o senador Demóstenes Torres, ex-correligionário e até bem pouco tempo uma das reservas morais da República, mas que tem se revelado a mais pura e indecente imoralidade. Grampinho até poderá ser estilingue em seu proselitismo político, mas a sua petulância verbal terá que ser comedida. Também entre os investigados estarão figurões de um partido aliado, o PSDB, através do governador de Goiás, Marconi Perillo, e de senadores e deputados amigos de vários partidos, alem do PT da presidente, a caixa de pancada que ele gostaria. Chamar de CPI do fim do mundo até que faz sentido, se este mundo não fosse o mundo da política, onde pode haver tudo, menos seriedade.

Se é por falta de adeus!


Para os amantes das canções do Tom Jobim, como eu, imagina conhecer toda ou quase toda obra do maestro soberano. Mas não, sou, por exemplo, às vezes surpreendido com a genialidade do mestre por canções que desconhecia e que antecedem Ligia, Eu sei que vou te amor, Corcovado, Fotografia, Chovendo na roseira, Dindi, Águas de Março, Wave, Pela luz dos olhos teus... enfim, impossível fazer o rol das obras definitivas do autor de Desafinado.

A última vez que tinha sido surpreendido com uma canção do Tom, que desconhecia, foi por ocasião da novela global O dono do mundo cujo tema de abertura era uma composição sua, exclusiva para a trilha sonora e onde também estava uma gravação de Gal Costa para uma outra música sua, antiga,  Solidão. A canção e a interpretação de Gal, que não faz parte de seus discos de carreira, mas deveria, é um momento singular de beleza e bom gosto musical. Mas esta semana voltei a experimentar esta mesma sensação com outra obra de Tom Jobim em parceria com Dolores Duran, dupla que já tinha nos dado Estrada do sol, na composição Se é por falta de adeus, em um vídeo, na voz de João Gilberto. Consegui também na internet a gravação em MP3 da bela música na voz de Nana Caymmi. Boas surpresas a internet estar sempre a nos proporcionar. Viva a música, neste domingo vazio na cidade alegria.

Foto: Nana Caymmi

Briga de galo, de rua... tudo, menos esporte.


Por muito tempo o Bar da Praça pertenceu ao mano Juracy e ali passei boa parte da minha infância e adolescência, fazendo e despachando, juntamente com Nadinho, refresco da maracujá, abastecendo com cerveja e pinga os consumidores do balcão ou das mesas. E nas horas vagas, que eram muitas, comia chocolate Diamante Negro, quando não levava prá casa e estocava debaixo da cama. (Perdoe mano, estas inconfidências). Nos fundos do bar havia uma rinha que aos domingos recebia grande contingente de aficionados por sangue e pelo sofrimento dos animais, no caso os galos de briga. Convivia não sem certo incomodo com aquela realidade, não só no bar como também em casa onde o mano levava os animais para o sacrifício ou para remendos na cabeça, peito e coxas. Estas cirurgias eram algo tão ou mais absurdas que os próprios combates dos animais na rinha, com a vantagem (como se houvesse alguma) destes rituais macabros não serem acompanhados dos gritos histéricos de uma torcida apoplética e em transe. Com a cabeça estourada pelas esporas adversárias o animal era colocado entre as pernas do mano que com uma agulha e linha grossa iniciava uma serie de pontos com se estivesse costurando gomos de uma bola de futebol. O animal desfalecido, sem força, não esboçava qualquer reação, era apenas a continuação dos golpes sofridos na rinha.

Estas lembranças decorrem de um comentário que li do deputado José Mentor do PT de São Paulo e autor de um projeto em que pede a proibição da transmissão pela televisão, por ser uma concessão pública, dos combates de MMA ou UFC ou que nome tenha aquele festival de violência e sangue. O deputado compara estas a lutas a verdadeiras brigas de galo. Vejo, no entanto, com a diferença de que os animais são treinados e induzidos àquela selvageria ao contrário dos homens que vão por vontade própria ou mera purgação de seus instintos mais bestiais. Tenho por estas demonstrações de força bruta o desprezo que toda violência deve ter por parte do cidadão, como Eder Jofre, um grande esportista, para quem o boxe chega ser um balé diante da brutalidade destas lutas. A proibição será difícil até porque quem se encontra à frente desta baboseira travestida de esporte é a poderosa TV Globo, a quem os deputados temem e tremem ou ouvirem ou verem aquelas gravações de escutas telefônicas autorizadas pela justiça onde suspeitos por alguma falcatrua são investigados. E como todos são suspeitos, eles respeitam e reverenciam os vídeos e os áudios globais como possíveis vítimas em demandas futuras.

Creio que os adeptos e espectadores destas lutas, que babam a gola da camisa em frente à TV, são os mesmos capazes de sacar uma arma no trânsito e atingir quem lhe atravessar o caminho, ou desferir um soco em quem inadvertidamente tomar o seu lugar na fila, ou agredir o vizinho que por distração ou extravasamento de uma alegria, ligar um pouco mais alto o som da sala ou do rádio do carro. Tudo é pretexto para uma agressão, onde estas lutas se tornam o combustível propício para muitos acessos de incivilidade, adormecidos em algum canto de sua alma atormentada.

sábado, 14 de abril de 2012

A vitória de João e seus 03 LPs.


Os três primeiros e imprescindíveis discos de João - “Chega de Saudade”, “O amor, o sorriso e a flor” e “João Gilberto” (1961) - e, que tenho em casa empilhados, por falta de espaço, de modo vergonhoso em um quarto dos fundos de nosso apartamento, jamais foram lançados em CD. Aliás, foram, mas do jeitão cretino que as gravadoras multinacionais costumam tratar um bem cultural, seja ele que importância tiver. Pelo ótica mercantilista desses malditos, um disco é um produto comercial como um sabonete, um chinelo, um quilo de pó de café, que abstraindo este valor cultural, é.

A EMI, que na época era a Odeon, onde João gravou aqueles discos, compilou e remasterizou ao seu modo os três discos em um CD denominado João GilbertoO mito. São 38 faixas arrumadas sem nenhum critério e cujo processo de espremer todas estas faixas em um único disco, implicou em faixas fundidas e outras encurtadas, alem de terem a sua sonoridade alterada, segundo os ouvidos de João. Ele nunca se conformou com este atentado a sua obra e através de um advogado recorreu à justiça contra a adulteração praticada e impedindo a comercialização do CDO mito, que também tenho (na falta dos discos originais lançados em CD, o Mito serve).

Mas, enfim, 20 anos depois João conseguiu a vitória de ter a sua obra preservada de interferências não musicais, isto é, comerciais. Agora se a gravadora inglesa - EMI quiser lançar os três primeiros discos de João terá que fazê-lo, talvez com a supervisão musical de Paulo Jobim, o filho de Tom e não por qualquer pau mando dos estúdios da EMI.

sexta-feira, 13 de abril de 2012

Literatura de cordel - A vida a serviço da arte.


No Primeiro Festival de Humor da Bahia, recentemente encerrado em Salvador, visitei um stand, entre outros, dedicado a literatura de cordel. Ali mesmo no foyer do Teatro Castro Alves, antes do inicio da atração principal e final da maratona humorística, li os exemplares adquiridos. Lembro dos titulo de “O prazer que o peido dá” e de “A mulher que trocou o marido pelo computador” cujas características eram de versejadores sofríveis, desprovidos da graça e da ironia que caracterizam estas histórias. Foi este lado debochado e ferino que fez de Cuíca de Santo Amaro uma espécie de Gregório de Matos do cordel, tal a língua solta que não escolhia casos e figurões do estado para as suas investidas, em geral, demolidoras. Cheguei a conhecer Cuíca em frente ao Elevador Lacerda, já bem velhinho, vendendo seus livros e proferindo seus títulos que eram prenúncios do que continham, das histórias que traziam.  

Hoje, acordei antes das 05 horas para as habituais caminhadas matinais e fiquei escutando a Rádio Clube de Jacobina e o programa Café com Cultura. Foram alguns minutos de bom humor para começar bem este novo dia na cidade alegria. O apresentador lia os versos de um cordel “O dia em que Cristo foi parar no xadrez ao invés da Cruz”. Não posso repetir os versos, tal a sua extensão, mas transcrevo a história com os detalhes possíveis.

Era a semana santa em um pequeno arraiá pernambucano, onde membros da comunidade organizaram uma procissão com a representação da Paixão de Cristo, pelas ruas do lugar. Cada um dos personagens foi entregue a uma figura conhecida do arraiá como, por exemplo, Bastião, um dos soldados responsáveis pela guarda e tortura de Cristo. Em dado momento da procissão, o soldado Bastião, que trazia na cabeça as águas da noite passada, carregava a mão no lombo de Cristo, cada vez que o chicoteava. Cristo suportava resignado aquele sofrimento despropositado para um drama popular, mas sempre resmungando e achando exagerada a dose aplicada por Bastião. Até que o Cristo não agüentou mais e falou: “Bastião, tu para com isso, se não eu te quebro a cara”. Bastião confiou na santidade do personagem e continuou nas bordoadas cada vez mais intensas. O Cristo, já com as costas lanhadas pelas chicotadas de Bastião, jogou a cruz no chão e partiu prá cima do soldado com socos e pontapés. A briga se generalizou e atingiu todos os personagens da procissão, não escapando ninguém. A polícia se fez presente e levou todos para o xadrez, inclusive o Cristo, que pelo menos se livrou dos pregos da cruz, que fatalmente seriam cravados por Bastião

quinta-feira, 12 de abril de 2012

No tempo em que Pelé foi Rei


Também sou admirador da equipe do Barcelona, Messi à frente e muito bem coadjuvado pelo Iniesta e Xavi. E não fui nem sou partidário, nem canto loas a Maradona como o maior jogador de futebol que o mundo já viu, até porque no meio do caminho há Pelé. E entre Messi e Maradona prefiro o craque do Barcelona já que a idolatria, a superioridade técnica talvez combine mais com o ar de maior abandonado, de infantilidade, de quem parece lesado, quase pedindo desculpas por ser o bom, ao contrário da arrogância e da prepotência que exalam de Maradona.

Mas, entre um ou outro argentino fico mesmo com o Rei Pelé, até porque ser o melhor do mundo concorrendo com Ronaldinho Gaúcho, Drogba, Ett’o, Kaká (de hoje) Rooney, Cristiano Ronaldo, Ibrahimovic entre outros atletas medianos, não é tarefa das mais difíceis. Como observou Ruy Castro em recente coluna na Folha, na época de Pelé o leque de celebridades era bem mais fulgurante e estelar.

sábado, 7 de abril de 2012

Pipoca, cigarros, papéis de balas e acarajés.


Tenho visto em alguns telejornais da Globo, em especial no Jornal Hoje, e que deveria ser seguido por outras emissoras, campanhas educativas sem o caráter obrigatório de cumprimento, mas que subliminarmente conscientiza, lentamente, o individuo para certas atitudes a serem tomadas em locais públicos. Uma delas mostra o lixo deixado nas salas de cinema após cada sessão. Sacos de pipoca, copos de refrigerantes, papéis de chocolates ou balas, embalagens de sanduiches jogados ao longo das filas de cadeiras, ainda que cada cadeira tenha o seu próprio recipiente para o recolhimento deste lixo, como as novas salas de cinema têm. Aliás, nem deveria ter, já que este impulso por se alimentar dentro de uma sala de cinema poderia ser contido em 90 minutos ou duas horas que duram uma sessão. Não sei qual a relação que possa haver entre assistir um filme e mastigar pipoca ao mesmo tempo, sei que me causa um mal estar, um incômodo que ma faz trocar de lugar quantas vezes puder me afastar destes roedores. Deveria ser proibido.

Outra reportagem foca o fumante e o grosseiro costume de jogar a baga de cigarro nas calçadas ou em qualquer lugar que ele esteja. Neste caso alega-se a dificuldade em encontrar um recipiente apropriado para apagar o cigarro e jogá-lo na lixeira. Procede a queixa, mas procurando encontra. Difícil mesmo é encontrar sanitários públicos em ruas e praças da maioria das grandes cidades e que leva o individuo a satisfazer suas necessidades em qualquer via pública, numa cena desoladora e deseducada. Receber visitante de todas as partes do Mundo, como se espera na próxima Copa, passa também pela revisão de certos costumes que possam parecer gestos naturais.

A nova Fonte Nova


Cada vez que venho a Salvador e caminhando como já é de hábito no Dique do Tororó observo a evolução das obras da Arena Fonte Nova. É visível todo o contorno do estádio já delineado no formato de uma fechadura, como o anterior, mantendo a abertura para o próprio Dique. As obras seguem rigorosamente o cronograma que permitirá a Salvador ser uma das sedes da Copa das Confederações. O lado direito do estádio, visto do Dique, e aquele mesmo onde se deu o acidente em que morreram 07 torcedores e acelerou a sua interdição, já tem a sua arquibancada praticamente concluída e lembra a antiga Fonte Nova.

O relógio digital marca a falta de 798 dias para o inicio da Copa do Mundo. Contando nos dedos é um longo tempo, mas se pensarmos que as obras para a Copa do Mundo não se resume a Arena Fonte Nova, percebe-se ao andar pela cidade que muita coisa ainda tem de ser feita para dotar Salvador dentro das condições exigidas para uma sede da disputa. Entre elas a questão da mobilidade urbana uma das pedras de toque do cardápio de exigência da FIFA, e se prende a facilidade de deslocamento de torcedores ao estádio.

Quem já assistiu grandes jogos no antigo estádio, sabe a zona em que se transforma o bairro de Nazaré, Avenida Bonocô, Vasco da Gama, Djalma Dutra, Sete Portas onde tudo engarrafa e os veículos se amontoam sobre as calçadas num salve-se quem puder, que não salva ninguém. Há tempo suficiente para estas obras, em que pese o espectro do Metrô a rondar obras públicas da cidade e o espantalho de João Henrique trazer assombro e temor.

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Reza


                                               Rita Lee e Roberto de Carvalho


Deus me proteja da sua inveja
Deus me defenda da sua macumba
Deus me salve da sua praga
Deus me ajude da sua raiva
Deus me imunize do seu veneno
Deus me poupe do seu fim

Deus me acompanhe
Deus me ampare
Deus me levante
Deus me dê força
Deus me perdoe por querer
Que Deus me livre e guarde de você.

Trilha sonora de Avenida Brasil

Rir prá não chorar!


Não que sejam família, nenhum humorista é, muito pelo contrário, já que o insumo de seu trabalho é o escracho, a bandalha, a ironia elevada a qualquer potência. Mas não se pode colocar na mesma fila escolar, alunos como Jô Soares, Chico Anísio ou Miéle juntos e misturados com Costinha, Zé Trindade ou Ary Toledo, por exemplo. É expulsão certa nesta classe, para esta turma adicionada à primeira lista.  

Pensei nisto ao assistir no encerramento do primeiro Festival de Humor da Bahia, o espetáculo “Rir prá não chorar”, com Renato Piaba. Piaba é um humorista baiano que fica em cartaz durante todo o ano com um público cativo para qualquer um dos seus shows. Que acredito não difere em nada um do outro. É a mesma zona suburbana retratada em seus detalhes mais íntimos e que leva ao delírio esta mesma classe focada. Papo de cabeleireira, marido no baba, filho com piolho, filha com coeira, carnê em atraso, contas de luz renegociada, nome no SPC, padrinhos de Raylane e de Laydiane, mazelas próprias deste rico universo humano. E Piaba não alivia, pega pesado na moçada que retribui com seu aplauso e aprovação. Um artista genuinamente baiano, um produto não exportável, mas para uso doméstico e muito bem consumido.      

Heleno - O lendário craque botafoguense.



Não é um filme sobre futebol, mas sobre uma personalidade que marcou presença de forma indelével neste ambiente futebolístico. Heleno não foi apenas um grande jogador, foi um intelectual, um gênio, um galã, um frequentador habitual da alta sociedade carioca nos anos 40, enchendo com sua contumaz hipocrisia os bailes e piscinas do Copacabana Palace. E Heleno lá. Amando e bebendo todas que seus belos olhos fitavam e, não falta de uma ou outra cheirava perfume que também dava um barato legal.

Mas, tudo tem um preço e Heleno pagou com a sua sanidade mental toda esta orgia extra campo. Amante insaciável foi aos poucos se afastando dos campos e se aproximando perigosamente da “aids” da época, a sífilis. Agressões a mulheres, colegas de clube, treinador e uma transferência indesejada para um grande clube argentino, erros em sequência geométrica marcaram a carreira do craque botafoguense. Heleno era o grande nome do futebol brasileiro e presença certa na seleção de 50, que perdeu a Copa do Mundo no Maracanã, para o Uruguai. Com Heleno não perderia. Mas no meio do caminho havia Flávio Costa, além da sífilis que já lhe corroía parte dos neurônios. O Brasil perdeu a Copa e assistiu em silêncio a perda de um dos seus mais brilhantes atletas.

Nestes tempos de Ronaldinho Gaúcho entre outros bagulhos ou ídolos forjado nos cadernos de esportes dos jornais e programas de televisão, ver a trajetória de Heleno é saber que o futebol brasileiro foi um dia motor de grandes momentos de amor ao clube e demonstrações de garra e entusiasmo que nunca mais viríamos em campo. Além do mais, prá quem como eu, achava que Rodrigo Santoro era mais um “bunitinho” saído das fornadas globais, verá um ator em sua plenitude artística, um desempenho convincente e emocionante, que Hollywood também percebeu um pouco antes.      

quinta-feira, 5 de abril de 2012

Los Catedrásticos - A nudez das canções.


Na primeira versão de Los Catedrásticos a caixa de pancada da gozação e do deboche eram as letras de música do axé, já que o pagode era uma assombração distante. A versão que assisti sábado no TCA, o centro da ironia e do riso incontido são as desastradas letras dos pagodeiros baianos, embora o axé continue presente no espetáculo, o pagode é quem domina as cenas da nova montagem. São reproduções hilárias na performance irrepreensíveis dos quatro atores que dissecam com graça e humor o bestialógico contido nestas letras.

O riso vem fácil e ecoa por todo teatro praticamente lotado. Mas, fiquei a pensar na força da música, da melodia como a vestimenta perfeita, o invólucro mais que necessário para encobrir as vergonhas de certas canções, na pobreza de seus versos bizarros. E nisso o pagode se aproveita para que no seu batuque tribal, as letras sirvam apenas e tão somente para a propagação da pornofonia, do baixo nível cultural e mental de seus fazedores. Despida da também pobre melodia os versos, ou que nome tenha aquilo, se revelam patéticos, ridículos e combustível para espetáculos como Los Catedrásticos.

Não são como as letras das canções de Chico, Caetano ou Aldir Blanc que se sustentam fora das melodias, já que são textos poéticos dos melhores da recente literatura nacional. Não se pode dizer o mesmo de certas construções poéticas de autores como Djavan, Luis Melodia ou Carlinhos Brown que resvalam pelo terreno da patetice quando se abstrai a melodia. Brown, por sinal, contribui para o texto de Los Catedrásticos.