quinta-feira, 31 de maio de 2012

Em cima do guarda-chuva, tem a chuva...


Como parte do projeto Sua Nota é um Show, em 2009 a carioca Orquestra Imperial se apresentou no palco da Concha Acústica para delírio de uma platéia que lotou o enorme espaço anexo do Teatro Castro Alves. Aliás, um projeto de sucesso e de real transferência de impostos devidos pelo comercio para várias entidades assistenciais, o Sua Nota é um Show deixou de fazer parte da programação artística da área de cultura do governo. Com a troca de 10 Notas Fiscais ou Cupons Fiscais se tinha direito a um ingresso para shows com nomes conhecidos ou em busca do reconhecimento público de artistas maravilhosos de que a música brasileira é pródiga. Mas, são fatos inexplicáveis das esferas governamentais, acabar com o projeto que permitia o acesso a shows que a maioria dos presentes nestes eventos não teria condições de bancar o preço do ingresso, caso o espetáculo se desse em locais fechados de um teatro, por exemplo.

Estive presente na grande maioria destes shows como o da Orquestra Imperial e sua incrível jovialidade musical em um repertório que privilegiava os grandes sambistas cariocas de um outro tempo, de um outro momento do samba e do morro. Contraditório e envolvente pelo ritmo, pela beleza da música e pela irreverência de seus participantes jovens ou contemporâneos dos sambas que tocavam e cantavam. Conviviam harmoniosamente a juventude de Moreno Veloso, Thalma de Freitas, Nina Becker, Domenico Lancelotti e a experiência do lendário baterista Wilson das Neves e Nelson Jacobina, o eterno parceiro de Jorge Mautner dando a Imperial o toque tropicalista naquela salada musical alegre e dançante.

Pois é este Nelson Jacobina que hoje nos deixa, como mais um que verga a um implacável câncer com o qual lutava há mais de 10 anos. Maracatu Atômico, composto com Jorge Mautner, gravado por Gil e pelo Chico Science, entre outros, bastaria para imortalizá-lo em nossa música, mas a dupla fez muito mais como Lágrimas Negras, O Vampiro, Negro Blues etc.   

Foto: Orquestra Imperial - Jacobina é o da direita na primeira fila, sentado.

Derrame de nota falsa.


Cantei a bola aqui neste espaço. A compra e contrato com Ronaldinho Gaúcho, pelo Flamengo, dariam esta coisa mal cheirosa que acabou mesmo acontecendo. Após um ano e meio, fingindo que jogava e o Flamengo que pagava um salário superdimensionado para um jogador decadente e baladeiro como ele. A liminar concedida pela Justiça do Trabalho contra o Flamengo libera o jogador de qualquer vínculo com o clube, a quem reclama direitos de mais de 40 milhões, podendo assinar com qualquer outro time, sem noção, que cometa a loucura de contratá-lo.

O mais recente coveiro do Flamengo, que é muito maior que este craque do passado, neste período nada fez pelo clube alem de protagonizar espetáculos e escaramuças ridículas e incompatíveis com uma carreira de atleta. O ocaso e o esquecimento estarão a sua espera e deles não fugirá como fugiu ao compromisso de honrar a camisa e o contrato que fez com o nosso rubronegro. Uma vez Flamengo, sempre Flamengo

A CPI da Calçola Vermelha


Pelos silêncios e omissões até então verificados na CPMI do Cachoeira, em que políticos ou empresários convocados a depor fazem uso do direito constitucional de permanecerem calados, nada respondendo, só falando em juízo, a tal Comissão não tardará a cair na bandalha, na gandaia que é a própria essência de sua criação. Assim como se revelou para Grampinho uma grande frustração pelo palco ou picadeiro perdido, o mesmo deverá, em breve, estar resmungando o senador Álvaro Dias do PSDB, que com aquele jeitão de galã de filme mexicano classe B, não verá, mais um vez, o seu histrionismo de ocasião testado pelos holofotes do mundo midiático. Mas, eles, os parlamentares, não deixam a bola cair, em matéria de ridículo eles sempre tem uma carta na manga, uma “buxa” de sena na mão. E tudo seguirá a caminho de uma grande pizza, salvando a pele de governistas e oposicionistas.

Mantido em segredo até a semana passada, a cena de um deputado que chegou esbaforido ao plenário da Câmara de Deputados, para votar na sessão já iniciada, (pela diligência e subserviência deveria ser deputado governista) no momento em que o telefone celular no bolso de seu paletó, tocou. Já na porta do Plenário meteu a mão no bolso, puxou o aparelho e com ele uma calcinha vermelha que sem perceber largou pelo meio do caminho, enquanto atendia a ligação. Um segurança percebeu a situação e chutou o objeto para próximo de um lixeira, outros, no entanto, viram a calcinha e entregaram à sessão de “achados e perdidos”, mas não demorou cair nas mãos do presidente da Câmara deputado Marco Maia.  

Não se sabe o destino da calçola, se será motivo de uma CPI, quem sabe mais atraente que esta garoa que é como tem se revelado a CPI do Cachoeira, com depoimentos e participações parlamentares próximos da Escolhinha do Professor Raimundo, ou um processo na Comissão de Ética. Quem viu a calçola vermelha disse que as suas dimensões são exuberantes e fora do padrão médio das freqüentadoras da casa, fazendo com que a imaginação vagueie pela porta dos fundos destas mulheres frutas e siliconadas que carregam no volume máximo do implante. Ou então nunca se sabe, a peça íntima pode ser de uso regular do parlamentar que não gosta de ver e ter o “bicho solto”

Uma seleção prá se chamar de brasileira.


Depois das vitórias sobre seleções desimportantes como Irã, Ucrânia, Gabão, Egito entre outras e que serviram apenas para não abreviar a permanência do treinador Mano Menezes à frente da seleção brasileira de futebol, enfim uma vitória convincente contra os Estados Unidos por 4 x 1, em Washington. Caso confirme o acerto na escalação do time contra o México, domingo em Dallas, o treinador afastará por enquanto a sombra de Guardiola, ex-técnico do Barcelona, do prédio da CBF e dos comentários de críticos desgostosos com a sua discreta passagem pela seleção.

Ontem deu prá respirar, contra uma equipe que encheu os olhos do mais exigente torcedor. Já se sabia que a defesa estava praticamente definida, em que pese as ausências ontem de Daniel Alves e David Luiz, titulares contundidos, mas substituídos por reservas que não comprometeram o setor defensivo da nossa seleção. Do meio prá frente é que estava a barafunda da equipe com tantas experiências e convocações sem sentido, mas que expressavam as dificuldades do Mano Menezes em formar a seleção. Mas parece que as peças vão se encontrando e o time mostrando a cara que terá na Copa das Confederações e mesmo na Copa de 2014. Tomara! A presença de Oscar no meio de campo parece dizer que o lugar de Paulo Henrique Ganso e suas intermináveis contusões, é mesmo o banco de reservas. O por enquanto desconhecido, mas não menos importante Hulk, pode se transformar na versão 2014 de Ronaldo Fenômeno, futebol tem prá isso. Prá frente Brasil!    

quarta-feira, 30 de maio de 2012

Fora de linha e da ordem.


Ninguém desconhece o buxixo que corre na cidade, pelo menos em Salvador, que por traz de cada greve de rodoviários existe o sindicato patronal estimulando e tramando na calada da noite com os pelegos rodoviários, a deflagração do movimento grevista. Esta relação promíscua entre patrão e empregado, nas circunstâncias em que se dá esta união, tem como objetivo conceder o aumento aos grevistas, para depois provocar o poder público com o aumento das tarifas para compensar aquele aumento ente outros custos represados.  

Não deu outra. Mal os ônibus começaram a circular após acordo mediado pela Justiça do Trabalho, os empresários bateram à porta da Prefeitura em busca de aumento das tarifas. E não é um aumento qualquer não, se comparada a qualidade e a insegurança dos serviços oferecidos. A tarifa atual de R$2,50 em Salvador é a mais caras das capitais do Nordeste, passando para os R$3,15 pretendidos pelos empresários gananciosos deverá se tornar uma das mais caras do país. E a qualidade ô!

terça-feira, 29 de maio de 2012

Roze - A volta da Asa Branca


Conheci Roze no pensionato onde moramos nos Barris, Rua Professor França, 89-A, hoje entrada e saída para a Estação da Lapa. Roze havia passado no vestibular para Arquitetura da UFBA, assim como o amigo Brando nossa colega de pensionato, também aprovado, e bom aluno como sempre foi, recebia a visita de Roze para estudo de prova e elaboração de trabalhos. A Arquitetura não afastou Roze da música, que paralelamente ao curso continuou fiel a sua origem sertaneja exibindo seus dotes artísticos em feiras musicais promovidas pelos diretórios acadêmicos de várias faculdades. Roze era, à época, uma jovem alta, morena, cabelos pretos escorrendo pelas costas e um despojamento no jeito de vestir, misto de reminiscências do movimento hippie e de mulher sertaneja.


Nas várias vezes que fomos a Juazeiro- Bahia, desfrutando da hospitalidade do casal de amigos familiares Dário e Uiara que muito tempo morou por lá, assistimos um show de Roze em uma casa noturna que apresentava aos sábados música ao vivo. O repertório seguia a linha do que ouvíamos nas feiras musicais dos diretórios da UFBA, em que a terra, a saga nordestina passava por sua voz agreste e cortante como uma verdade doída. Pelo que se depreende de seu jeito de cantar e do que cantava Roze nunca pretendeu o estrelato, a glória, a fama, assim como Elba Ramalho de quem trazia um pouco de semelhança na voz e no repertório, mas seduzida pelo esquemão do mercado Elba virou uma Madona do agreste, esticada e modernosa. Isto porem pouco ou nada interessa.  


No inicio deste mês, como uma das muitas homenagens ao centenário de grande Luiz Gonzaga, vários músicos de raízes e origens nordestinas se reuniram no show Baião de Nóis em que reverenciavam o mestre Lua. Passaram pelo palco do TCA os artistas Elomar, Xangai, Gereba Targino Gondim, o Coral do Mosteiro de São Bento, Cicinho do Acordeon e Roze. Não assisti ao espetáculo em 05 de maio, já que cheguei a Salvador, dia 09.05.12, para o show de Chico, no dia 10.05.12, mas vi alguns momentos do show na TVE Bahia e alguns áudios no site do IRDEB. Em uma destas imagens Roze canta Boiadeiro de Luiz Gonzaga, acompanhada pelo violão de Elomar, que não é de tocar prá ninguém, além dele próprio. A voz de Roze continua a mesma, a imagem também, ainda que marcada pela força dos anos que não diminuiu a força de seu canto bruto e seco como o sertão.  A sua presença depois de tanto tempo me levou a buscar o download de uma das faixas dos discos que gravou e consegui, A volta da Asa Branca em um arranjo bonito à base de violões.

domingo, 27 de maio de 2012

Deixa o boi dormir!



 Charge: Simanca

De olho nas ruas


Andar, aos domingos, por nossa cidade, sem compromisso, atento apenas aos nomes de suas ruas, travessas, becos e praças pode ser uma viagem por nossa história e seus personagens que foram imortalizados com a homenagem. Nominar um logradouro público com figuras da política e da cultura nacional como Getulio Vargas, Rui Barbosa, Castro Alves entre outros, é fácil a identificação do homenageado, já que são figurinhas carimbadas no inconsciente coletivo.

Mas, se a sua rua tem a denominação de Maria Regina Gomes Vieira, você em dúvida, dirá: Quem é ou quem foi D. Regina? Pois é! Maria Regina Gomes Vieira entre outros atributos de grande matriarca piritibana é mãe de João Gomes Vieira (João Rico), contador, auditor fiscal do estado, professor da Faculdade de Ciências Contábeis da UFBA, Fundação Visconde de Cayru, Universidade do Estado da Bahia – UNEB, onde também integrou o Conselho de Pró Reitores dessa instituição. Homenagem merecida a esta ilustre dama piritibana, que já nos deixou, e a sua prole!   

Foto: Rua da Igreja 

"Quero que você me aqueça neste inverno"


Domingo nublado e frio como tem sido estas manhãs na cidade alegre, a espera da chuva que ameaça, prepara, forma nuvens, balança, balança, balança, mas na cai. E sem que se saiba porque amanheci ouvindo “quero que você me aqueça neste inverno/e que tudo mais vá pra inferno” do disco Jovem Guarda do Rei, de 1965, que deflagrou o movimento que aglutinaria toda musica jovem que se fazia no país naquela metade dos anos 60. Mas em que pese a novidade, hoje vista de longe eram canções ingênuas, quase bobas, num tempo em que íamos perdendo lentamente esta inocência, mas era bom ouví-las. Bem mais que ouvirmos Orlando Dias, Nelson Gonçalves, Silvinho, Carlos Alberto, Anísio Silva que nos falavam de uma realidade de amores, dramas, perdas e paixões arrebatadoras que ainda viveríamos, naquele momento não.


Mas a maturidade do Rei, a perda também da sua inocência, o seu crescimento musical viria em discos antológicos como o gravado em 1968, que traz o título de O inimitável, o que não é comum na carreira do Rei, dar títulos aos seus discos. Neste disco é perceptível a mudança em sua musicalidade com a influência do “soul music” americana e a utilização de metais nos arranjos de musicas como Se você pensa, Ciúme de você, além de canções importantes em seu repertório como E não vou mais deixar você tão só, (Antonio Marcos) e As canções que você fez prá mim.


O disco do ano seguinte, 1969, traz o Rei sentado na praia rabiscando alguma coisa e mantém a mesma pegada criativa do anterior e vai de cabeça na “black music” em arranjos como o de Não vou ficar de Tim Maia e em As curvas da estrada de Santos que são gravações primorosas, definitivas em sua carreira. Faz parte também deste disco Sua estupidez e As flores do jardim de nossa casa, bons exemplos do que um dia o Rei foi capaz, até ir aos poucos se afastando deste universo criativo ao tempo que sua carreira se consolidava como um grande vendedor de discos e, então foi se dedicar a compor canções impróprias para diabéticos.

Fotos: Capas dos discos do Rei

Limpando a área para os aviões em carreira.


Depois que o cão de guarda da casa vazia do saudoso Rubão ameaçou e atacou alguns caminhantes matinais em direção ao aeroporto da cidade alegre, resolvi mudar o roteiro antes de ostentar na perna a marca dos dentes da fera furiosa que protege o patrimônio do querido amigo. Assim saio de casa até o Colégio Paulo Renato e volto subindo, descendo e contornando as ruas da Baixinha até completar o horário de 50 minutos ou uma hora.

Mas, neste domingo, resolvi voltar à pista do aeroporto e pude constatar que talvez a ação desastrada do evangélico possuído surtiu algum efeito junto às autoridades municipais. Passaram a máquina na capoeira e a pista que de longe era encoberta por esta vegetação se mostrou por inteira em toda a sua extensão e com uma ampla visibilidade que facilitará a observação de quem quer seja e de onde esteja a sua segurança.  

Tanto pode ter sido o milagre ao avesso do evangélico em transe como uma ação das autoridades municipais para recepcionar seus iguais estaduais nesta pré temporada eleitoral onde o céu da cidade será riscado com aeronaves pousando e decolando após conchavos e arranjos políticos amarrados na cidade alegre e nas tristes da região que também se beneficiam da pista sob o controle do DERBA.

Prá inglês ver


Não há nenhum reparo a fazer, nem um lamento a chorar com a participação dos clubes baianos na Copa do Brasil. Foram ao limite de suas capacidades e alem das nossas expectativas; mais que isso seria o sonho impossível da conquista do titulo e de uma tão almejada participação na Copa Libertadores das Américas. Mas sejamos realistas, já que nem o nosso Vitória nem o Barcelona de Itinga formados em sua maioria por chinelinhos e bancos de reservas dos clubes paulistas e cariocas são equipes cujo potencial de disputa serve ao campeonato regional ou para medir forças contra clubes nordestinos constituídos da mesma massa de que os nossos se formaram.

A deficiente estrutura administrativa e financeira desses clubes e a falta de um patrocínio de peso, como suporte, impedem que os atletas diferenciados revelados por nossos clubes aqui permanecem, já que o clube precisa de grana para a sua manutenção e estes craques são moedas de troca frente às grandes equipes européias ou asiáticas. O exemplo mais atual e próximo a nós é o David Luiz, campeão europeu pelo Chelsea de Londres, em 2012 e titular da seleção brasileira de Mano Menezes, criado e formado nas divisões de base do Vitória. Por falar em divisão de base não há uma convocação para seleções brasileira sub-20 que não tenha um jogador do Vitória convocado, o que mostra a capacidade do clube na formação de novos craques, infelizmente, para exportação.

Foto: David Luiz

sábado, 26 de maio de 2012

Falou e disse: Eça de Queiróz



"Os políticos e as fraldas devem ser trocados frequentemente e pela mesma razão"

Com a perna na mão.


Nos acostumamos a ter com os médicos uma relação de reverência e cerimônia que transcende o respeito profissional. São para nós criaturas sobre-humanas a quem depositamos todas as esperanças de cura ou alivio para os nossos males, antes de passarmos no padre, no bispo, no pastor, no terreiro, nas sessões de descarrego ou em tudo mais que a crença ou descrença permita. Toda esta gama de possibilidades é posta em prática depois de um desengano médico, onde aí qualquer coisa vale, até raspar a cabeça e botar ebó em encruzilhada. Recebemos um diagnóstico médico como quem aguarda o anjo Gabriel, trazendo as boas novas ou as péssimas noticias sobre o que se passa em nosso interior e a revolução silenciosa que se opera bem dentro de nós.

Após mais de um ano sem visitá-lo voltei a Dr. Nery, um dia após ter participado da Lavagem do Bonfim, este ano, em que algumas de suas sábias instruções nestes doze anos de acompanhamento foram irresponsavelmente descumpridas. Recebi do médico amigo todo o tipo de reprimenda possível, ouvi pelo menos umas dez vezes a palavra “sal”, que eu repetia silenciosamente “afasta de mim, este sal”. Restabeleceu a medicação que eu havia deixado de tomar, sem saber explicar por que e, por um momento cheguei a imaginar que ele sacaria de sua gaveta uma régua ou palmatória e começasse ali mesmo consertar o que ainda havia jeito de remendar. Hoje, quase cinco meses depois, o carro passou a funcionar como dantes, após duas passagens logo após aquela, pela oficina, quer dizer seu consultório.

Mas, os médicos são gente como a gente, pessoas também inseguras, vaidosas, egoístas, obsessivas, temperamentais conforme depoimentos de alguns cirurgiões em reportagem que li recentemente na revista Isto É. Um deles conta que a primeira amputação que fez, foi de uma perna o que lhe causou desconforto e um quase ataque de apoplexia. Com a perna na mão começou a tremer, suas mãos pareciam não suportar o membro amputado que acabou se espatifando no chão, para espanto da equipe que participava do procedimento. Em outro momento narra o descuido que pode ocorrer em alguma incisão, feita onde não devia, deixando o cirurgião em crise, gritando e atirando os instrumentos no chão. Outro fala da experiência acumulada com o passar dos anos em centros cirúrgicos e que, contraditoriamente, o deixa mais próximo do erro. O que é inaceitável já que existe uma tendência em se achar dono da verdade, próximo de Deus, o que é um problema.  

Enfim, os médicos podem, mas não podem tudo. Por isso não custa nada fazer o sinal da cruz ao passar na porta de uma igreja, usar roupa branca às sextas feiras, um passe na sessão espírita próxima de sua casa, tomar banho de pipoca oferecido pelas Iaôs em iniciação, se render a um galho de arruda de uma rezadeira, tudo aquilo por onde o saber médico não possa ir.

Foto: Quadro de Jan Van Neck (1683)

sexta-feira, 25 de maio de 2012

Radicalizando na coleta do dízimo.


O fato aconteceu. Se foi do modo como se propagou na cidade é outra história. Faz tempo que há algo no ar alem dos aviões de carreira, ou em carreira, fazendo do aeroporto da cidade alegre uma muvuca aeronáutica digna de Cumbica, Tom Jobim ou do nosso destronado, mas nunca esquecido Aeroporto 2 de Julho. Este vai e vem de aeronaves por sob o céu da cidade tem explicações confiáveis ou dedutíveis que vão da entrega de numerário às instituições bancárias oficiais, a contatos políticos de deputados em peregrinação de votos.  

Estacionado na área própria do aeroporto da cidade alegre, administrado pelo DERBA, uma aeronave trazendo numerário ou levando, já que o detalhe não muda o surrealismo da história, foi vitima de um inusitado ataque. De portas abertas, com as sacolas de dinheiro à mostra, os seguranças lanchavam ao lado da aeronave, enquanto aguardavam o momento de fazerem a escolta da grana até o seu local do destino, despreocupados e envoltos pela brisa daquela manhã. Como num passe de mágica surge da capoeira, ao lado direito da pista, um tresloucado meliante que astuto se apodera de uma das sacolas e sai em correria pela pista do aeroporto com os seguranças da aeronave em seu encalço. A cena causaria inveja aos Irmãos Marx. A maluquice do ladrão trapalhão não foi alem de 500 metros, pois logo foi alcançado, dominado e o dinheiro recuperado, sendo levado para a delegacia da cidade onde tomou os corretivos correspondentes ao delito.

Sabe-se que sobre a figura atrapalhada paira uma certa aura de cidadão familiar e religioso com militância diária pelas ruas da cidade com a Bíblia na mão, fazendo entrega de folhetos da Igreja Universal. Segundo Marilene, secretária da casa da sogra, a criatura infortunada foi seduzida pelo inimigo que o transformou em instrumento do mal, já que o mesmo tem a capacidade e o dom de pregar a palavra na ausência do pastor titular da sua igreja. Pode ser. Como também pode ser uma radicalização na coleta do dízimo.

Zezo é o cara!


Quem estranhou a presença de Paula Fernandes na programação junina da cidade alegre em 2011, não sabe o que os espera este ano. Abrindo os festejos, sexta feira, dia 22, nada menos que a figura cafona e abolerada de Zezo com seus quase dois metros de altura, bigodinho de cafajeste latino, visual de bicheiro carioca entulhado de colares e pulseiras de ouro e um repertório prá lá do brega de Rosália. Zezo é capaz de engatar numa mesma marcha, Gente Humilde de Garoto, Chico e Vinicius com a pior trivialidade do arrocha, via Silvano Sales e companhia. É como se pusesse tudo em um liquidificador e como resultado se obtivesse uma massa disforme em conteúdo, mas constituindo uma liga compacta de mau gosto musical única.

Mas, bom gosto, qualidade musical não é o biscoito fino que a massa anseia e merece, visto que a principal atração da festa e a senha para a arregimentação de incautos para a praça é a notória e quatrocentona Aviões do Forró. Neste caldeirão dos horrores em que transformaram a festa junina, a presença de Zezo não é nada estranha e chega a fazer todo sentido. Quanto a Rabello Gonzaga resta puxar o fole com a competência comprovada e iluminar com sua música pelo menos uma noite junina da cidade alegre, pois para o ano quem sabe, não apareça por aqui o NX Zero, Restart, Gabi Amarantos ou bagulhos similares.

quinta-feira, 24 de maio de 2012

Os 50 anos dos Stones



A banda Rolling Stones completa, este ano, 50 anos de estrada, enquanto as figuras centrais e carismáticas de Mick Jagger e Keith Richards, com 68 anos, encarnam tanto tempo depois a rebeldia e a ousadia que marcaram o começo de suas carreiras no inicio dos anos 60. Os Stones em termos de apelo mercadológico seriam a antítese dos Beatles que já incendiavam o mundo com suas baladas e seus rockzinhos “maneiros”. Eles ao contrário eram feios, caras de maus, bêbados e com uma musicalidade visceral tendo como base o rock, o blues e letras que refletiam insatisfação e questionamento próprios de uma juventude atenta por mudanças nas estruturas sociais e já caindo de boca nas drogas pesadas. Estouraram com uma rapidez impressionante ao redor do mundo e conviveram com a fama dos Beatles civilizadamente, afinal de conta eles todos eram ingleses e sabiam como se comportar à mesa.

Não por coincidência o último disco com o baixista Brian Jones, membro fundador da banda, morto por overdose, tem no primeiro disco do Stones de visibilidade mundial, Beggars Banquet, de 1968, com os sucessos Street Fighting Men e Symparty for the devil. Antes eles já tinham experimentado o sucesso, com a explosão do compacto duplo que trazia Satisfaction (I can’t get no). Logo depois viria Sticky Fingers, com o sucesso Brown Sugar, cuja capa foi criada pelo artista plástico Andy Warhol que trazia uma foto de calça jeans com um zíper na braguilha que podia ser aberta, sem que nada saísse de dentro a não ser o encarte e o vinil, felizmente.

Já nesta fase geriátrica os Stones ainda podem surpreender. Para este ano está previsto o lançamento de um documentário com entrevistas de todos os seus integrantes, aqueles que já passaram pela banda e deram depoimentos antes de morrer ou sair, e dos atuais quatro membros da banda mais longeva da história do rock mundial. Alem da promessa de um novo disco de inéditas para 2013 e uma turnê, quem sabe a última, mesmo que se espere que não.    

Laços de Família - Feliz Aniversário


Minha menina, Camila. Cheguei arrumar os panos na mochila para pegar o rumo da capital, onde comemoraríamos o seu aniversário, juntos, em nossa casa, hoje. Mas, entre a cidade alegre e a nossa casa havia a Estrada do Feijão e nela rodoviários em greve em busca de aumento salarial, este mesmo aumento que buscam os professores, há mais de um mês, sabendo de antemão que não terão. Mas eles sabem o que fazem, ou não.

Tanto lá como aqui a minha alegria é a mesma, apesar da distância e da saudade, que não impede de reafirmar o carinho e amor que tenho por vocês, que verei sempre como as minhas meninas, cujo crescimento e profissionalismo serão qual Peter Pan e continuarão sendo aos meus olhos e ao meu coração, as minhas meninas.

Deus haverá de me dar, não muitos anos de vida, mas, alguns outros anos mais, para que eu possa amar, brincar e encher de chocolate os meus netos que virão e verei, como vejo e faço com Clarinha.
Feliz Aniversário, te amo. Bjs.

Foto: Camila com 04 meses

quarta-feira, 23 de maio de 2012

A motoserra tambem passou pela cidade alegre.


Charge: Bessinha

Cachoeira mesmo é Dona Andressa


Fotografias do contraventor Carlinhos Cachoeira antes e depois das operações Monte Carlo e Las Vegas que esmiuçaram as suas atividades clandestinas e as suas ligações com empresários da construção civil, políticos, jornalistas, e quem mais estivesse à venda, mostram que a corrupção traz um bônus generoso ao corruptor, mas por outro lado é como se um tsunami passasse sobre seu corpo levando alguns anos de sua vida.

Isto no aspecto físico, no envelhecimento demonstrado pelo cliente de Dr. Márcio Tomaz Bastos, em sua presença frente aos membros da CPMI que investiga ou tenta investigar seus negócios nebulosos.


Por outro, a bela que o acompanhava no interrogatório que não houve é outra mostra de como é generosa a grana da corrupção. A já eleita a musa da CPMI, Andressa Mendonça, fechou o tempo nos corredores do Congresso sob os flashes e holofotes da mídia que nada ouviu, mas que fotografou a sua acompanhante como quem clica uma celebridade cuja beleza e elegância escorriam em cachoeiras por onde passava.    

Represando as águas de Cachoeira.


Não tenho nenhum apreço pela advocacia, nem pelos advogados. O centro desta antipatia vem de um direito constitucional legítimo que concede a qualquer acusado o mais amplo direito de defesa, cometa o delito que cometer. Tudo bem, concordo com o “amplo direito de defesa”, mas entre acusados e acusados existe uma distancia equivalente entre o céu e a terra e saracoteando no meio uma gama de picaretas e vestais que nem Sodoma, nem Gomorra agüentariam.

Causa espanto, mesmo em nome do direito constitucional, que um homem como o Dr. Márcio Tomaz Bastos, ex-ministro da Justiça, professor das mais conceituadas universidades do país, autor de livros, um criminalista de porte internacional, se preste a um espetáculo pobre como o depoimento ou a sua falta do cliente Carlinhos Cachoeira na CPMI que investiga suas atividades no mundo do crime. Para um cliente sobre quem são derramadas cachoeiras de gravações, documentos, escutas telefônicas, contatos suspeitos com jornalistas e políticos, acusações as mais cabeludas era de se esperar que procurasse se defender das denúncias ou jogasse de vez farofa no ventilador sobre o mundo político, talvez em muitos daqueles que estavam ali para lhe inquirir. Mas, não, preferiu ou foi orientado por seu advogado para silenciar. E o que se viu foram deputados à beira de um ataque de nervos com o cinismo silencioso do acusado, gozando com a ópera bufa que se armou em seu nome.

Comportamento como esses só fazem desmerecer ainda mais a carreira e o profissional da advocacia, que deve ter lá seus méritos sociais, mesmo que Drª Eliana Calmon não canse de descer da sua decência exemplar para puxar a toga de magistrados 171 clientes de Cachoeira e similares. Que coisa!

Recanto não é Araçá Azul


O mercado do disco nacional mostrou sinais, se não de recuperação, após a avalanche da pirataria, mas de que continua vivo sem ostentar, no entanto, aqueles índices espetaculares de artistas vendendo um milhão de discos. Aquele tempo passou e não voltará. Segundo se informa, estes sinais de lenta recuperação se devem aos desempenhos de vendas alcançados por artistas como Luan Santana, Michel Teló, Aviões do Forró e outros do mesmo falso brilhante. Agora, aqui prá nós, um mercado que se sustenta com a vendagem de artistas como os citados merece é desprezo, ou a pirataria mesmo.

Este mercado do disco em que artistas como Maria Betânia, O Rei, Djavan já atingiram vendas em torno de um milhão de unidades vendidas foi o mesmo que experimentou o maior número de devolução de um lançamento, em razão da sua enorme rejeição tanto da crítica como do público. Tratou-se de Araçá Azul, o disco experimental de Caetano, após sua volta do exílio, onde o baiano radicalizou nos sons, ruídos, gritos, sussurros, falas nordestinas, colagens, sem uma grande canção que o sustentasse, Araçá Azul foi um retumbante fracasso de vendas e voltou ao forno de onde saiu, a sua gravadora. Lembro de ter ouvido o Araçá quando do seu lançamento e guardo o estranhamento que o disco me causou. Hoje ele é cultuado por modernos de todos os matizes, mas na época foi uma porrada que poucos, só os “entendidos”, a quem o disco era dedicado, assimilaram.


Hoje, com o mercado de discos ainda com o pires na mão, vivendo de relançamentos de seu rico acervo, pode experimentar o mesmo grau de devolução e o mesmo fracasso. Trata-se de Recanto, o novo disco de Gal, produzido e composto pelo parceiro Caetano, que se não tem a ousadia de Araçá Azul, foge a um padrão de canção institucionalizado pela Marisa Monte e que é seguido por tantas novas cantoras surgidas no cenário da nossa música. Recanto é radical neste universo, mas tem boas canções, a poesia de Caetano brotando em um ou outro verso e a voz de Gal sem a mesma delicadeza que os anos corroeram, mas que continua bela e extremamente agradável. O contexto em que Araçá foi urdido é bem outro, que não o de hoje onde Recanto foi lançado. A cada dia ouço uma nova ou a mesma canção de Recanto, quanto à Araçá Azul é história, e isto basta a quem soube fazê-la.

terça-feira, 22 de maio de 2012

Renovando o velho centro de Salvador





A Praça Castro Alves, no Centro Histórico de Salvador, foi e continua sendo palco das mais diversas manifestações. Tanto podem ser sindicais, políticas, religiosas, como e principalmente carnavalescas quando nos anos 60 e 70 foi o termômetro da folia na cidade. Além da estátua do poeta que lhe dá nome, a praça tem uma das mais belas vista da Baia de Todos os Santos, o ex-Cine Guarani, hoje Espaço Unibanco de Cinema, o Palácio dos Esportes, no mesmo local onde funcionou o primeiro teatro de Salvador, o Teatro São João e, o prédio onde o quase centenário jornal A Tarde era editado e distribuído.

Este prédio de A Tarde continuou fechado desde a mudança do jornal para a Avenida Tancredo Neves até ser adquirido pelo grupo hoteleiro responsável pela rede de Hotel Fasano, especializado em hospedagem de alto nível e, que irá se integrar a um processo de revitalização do decadente e problemático centro de Salvador. As obras ainda não começaram, mas o prédio já se encontra envolto por tapumes com imensos painéis contando um pouco da história do jornal e da Praça Castro Alves, revelando a intenção de vir fazer parte da história da cidade, com a conservação e a manutenção de prédios que contam um pouco da nossa história. Iniciativas privadas como essas são sempre bem-vindas, já que o poder público nem sempre consegue alcançar problemas da magnitude do Centro Histórico de Salvador, até porque existem prioridades e urgências em áreas sociais cujas chagas humanas são expostas cotidianamente, ao longo já de muitos anos.

segunda-feira, 21 de maio de 2012

Lei Antibaixaria


Foi sancionada nesta terça-feira, 15.05.12, pelo prefeito João Henrique, a Lei nº 8.286/2012, que estabelece que a prefeitura não pode contratar artistas e bandas cujas letras incentivem a violência ou desvalorizem e exponham a mulher a situações de constrangimento através de letras e coreografias.

O projeto de lei municipal foi proposto pela Comissão de Defesa dos Direitos das Mulheres da Câmara Municipal em apoio à Lei Antibaixaria, elaborada pela deputada estadual  Luiza Maia (PT).

Fonte: Site Jacobina FM

domingo, 20 de maio de 2012

A volta da Rê Bordosa



Talvez a criação mais famosa do Angeli está de volta. Não pelo traço sempre genial de seu criador, em tirinhas de jornal onde nasceu e aprontou, mas em edição luxuosa da Companhia das Letras.  A Rê Bordosa faz a sua ressurreição em 220 páginas de um livro ao preço de R$64,00, em um cenário bem diferente daquele que viveu como a desbocada e escrota personagem. Angeli matou a Rê Bordosa no final dos anos 90, apesar da lamentação ainda hoje de seus seguidores, após quase 10 anos de muita sacanagem, bebedeira e de cinismo escancarado nas páginas da Folha de São Paulo.
O Angeli buscou em seu desaparecimento, sua morte, a maneira de se livrar de um personagem que pela desenvoltura ficou maior que o seu criador, fugindo de seu controle como uma desvairada cuja camisa de força parecia extrapolar os limites da imaginação do autor. A Rê Bordosa viveu porres homéricos, ressacas incontroláveis, nua dentro de uma banheira, tendo como companhia doses cavalares de vodca e cinzeiros transbordantes de bagas de cigarro.

Juntamente com Os Skrotinhos, Wood & Stock, Bibelô, Meia Oito, Bob Cuspe outras das muitas criações geniais do Angeli, nenhuma alcançou a popularidade e a fama de Rê Bordosa.  Quanto mais bandalha e inconveniência, lá estava Rê Bordosa alheia a tudo em sua volta, exceto o copo de vodca e cigarros, muitos cigarros e o reconhecimento como uma das mais conhecidas personagem do quadrinho nacional. Volta !

Pilares, pilantras, mal educados.




Charge: Simanca

O campeão voltou... a perder



Nada como uma derrota em pelo Estádio de Pituaçu, e que Falcão incorporando o espírito, sem noção, da malta, chama de nossa casa, para por as coisas em seus devidos lugares. O time é limitado e serve apenas para ganhar de Serrano, Juazeiro, Atlético de Alagoinhas e de vez em quando ganhar o campeonato baiano, alem de constatar que existe não um abismo, mas um fosso entre a estrutura e a qualidade dos times do Sul em relação ao Nordeste. Sem querer com isso posar de coitadinho, de inferior, mas de reconhecer que as conquistas nordestinas, como as tais duas estrelas, são obras do acaso, mero acontecimento, assim como o cometa Halley, o cajueiro de Natal, sem qualquer possibilidade de repetição.

Não tenho lembrança de um órgão de imprensa ser tão parcial e clubista como a editoria de esportes e seus jornalistas da TV Bahia foram com a conquista, após 10 anos, do titulo do Barcelona de Itinga, causando, acredito, náuseas em seus próprios adoradores. A derrota para o Grêmio, por 2 x 1, quinta feira passada, veio trazer a realidade para frente do espelho e mostrar que respeito é bom e nos torcedores de qualquer outra agremiação merecemos. A gente não se vê por aí.

sábado, 19 de maio de 2012

Cancion por la unidad de Latino América.



O segundo disco do Clube da Esquina, lançado em 1978, traz uma música do compositor cubano Pablo Milanês, com parte de seus versos traduzidos por Chico, enquanto outros são mantidos em espanhol e interpretada por ele e por Milton, que é a “Cancion por la unidad de latino-américa”. A canção sonha com a união dos países da América Latina transformados em repúblicas populares, de matiz socialista, mas que com o que o passar dos anos só fez realçar as suas diferenças ao invés da união sonhada. Ainda assim no século 20, o Chile conseguiu eleger o seu primeiro presidente marxista, Salvador Allende, que a direita raivosa, aliada ao imperialismo americano, assassinou em um golpe de estado cruel, sangrento e torturador. Estava dada a senha que o continente continuaria sendo área de interesse das grandes potências imperialistas e imune a querelas ideológicas. Quanto ao nosso país, estas diferenças são nitidamente acentuadas pela língua, pela colonização de origem espanhola ao contrário da nossa portuguesa e, a formação antropológica dos países com origens étnicas tão díspares. A recente criação do Mercosul é um exemplo de que a unidade pretendida é muito  difícil tanto política como economicamente. Mas há saídas, sim!

Musicalmente, nos anos 70, artistas como Elis, Fagner, Chico, Milton, Belchior, Diana Pequeno (onde andará Diana Pequeno?) entre outros tentaram esta aproximação com cantores e compositores de origem espanhola, revelando a beleza poética e sonora de Mercedes Sosa, Violeta Parra, Pablo Milanês, Fito Paez, mas o intercâmbio que poderia render mais frutos, não prosperou. Em Cancion por la unidad de latino-américa, os versos finais falam de uma estrela que surge nos céus do Brasil, que é uma celebração ao PT que acabava de nascer, para a esperança de tantos e a decepção de outros tantos como os anos, lamentavelmente, foram confirmando. Mas, mesmo assim, é o único partido brasileiro com uma proposição política originalmente bem clara e longe, bem longe dos arranjos oligárquicos que tem no seu umbigo o centro do mundo. “Já foi lançada uma estrela/prá quem souber enxergar/prá quem quiser alcançar/e andar abraçado nela”.

Foto: Mercedes Sosa

sexta-feira, 18 de maio de 2012

Cachoeira, tromba d'água, dilúvio.



A CPI do Cachoeira foi enfim instalada e pelas suas garras nas entranhas de governistas e oposicionistas deveria ser a “CPI tromba d’água ou diluviana”, como era de se esperar já se faz presente em todos os noticiários de jornais e TVs. Dá prá imaginar a depressão de Grampinho, que não foi escolhido entre seus poucos pares do DEM para compor o grupo de oposição na CPI, por perder estes holofotes midiáticos. Logo ele que se não fosse a influência familiar não teria embarcado na carreira política, mas quem sabe subiria nos palcos ou nos trios elétricos da axé music ou do pagode em busca da exposição generosa que aquele povo têm.

Mas por falar em DEM, impossível não lembrar que este partido é resto e migalha da ARENA, que já foi considerada pelos seus iguais como o maior partido do ocidente, um ocidente criado e permitido pelos militares autores do arranjo que também criou o MDB. A Arena foi transformada em PDS, algum tempo depois em PFL e agora DEM. Em cada uma destas mudanças foram ficando para trás parte significativa de seus militantes, mas abrigados em outros partidos em troca de cargos e vantagens como o seu ideário político permite. O que restou do “maior partido do ocidente” hoje cabe numa Van, numa Topic, que tenta fazer barulho, só conseguindo um bocejo.

Foto: Luis Carlos Amorim 

quinta-feira, 17 de maio de 2012

A verdade como o amor, só é bom se doer.



Não será por falta de pompa e cerimônia que a Comissão da Verdade instalada ontem, pela presidente Dilma, na presença de figurões da República, deixará de funcionar. Criada para apurar crimes cometidos contra os direitos humanos em períodos ditatoriais da nossa história, a Comissão tem amplitude de cobrir desde os crimes cometidos por Getulio Vargas em seu primeiro mandato e como ditador, até as arbitrariedades militares e sua revolução de 1964. Essa abertura do leque nas investigações destes crimes, desde Vargas, é certa que atende a setores duros, para não dar outro nome, do antigo regime que acusa a Comissão de revanchista e contra a uma Lei da Anistia que eles mesmos editaram, sem ouvir a sociedade e, um Congresso submisso e de quatro aprovou. A reação soa muito mais como uma confissão aos crimes cometidos que propriamente contrária a atitudes revanchistas ou de caça às bruxas.

A amplitude de identificar culpados por crimes contra os direitos humanos deveria ir alem de militares e outros servidores públicos junto aos órgãos de segurança, mas a setores da sociedade civil como empresários, banqueiros, donos de jornais que incentivaram, ajudaram e financiaram o golpe de 64. É conhecida a atitude do paladino das liberdades democráticas e hoje porta-voz do tucanato paulista, a Folha de São Paulo, que cedeu os seus carros de entrega de jornais para transportar presos políticos para as masmorras da tortura na OBAN ou DOI-CODI de São Paulo. A verdade como o amor só é bom se doer.

Charge: Leandro Franco

terça-feira, 15 de maio de 2012

No lugar certo, em dias nem tanto.



De volta à cidade alegre, após alguns poucos dias em Salvador, onde revimos familiares e amigos, assistimos ao show de Chico e acompanhamos pesaroso a final do campeonato baiano 2012. A lamentar a impossibilidade de não termos visto, por falta de horários disponíveis com o nosso tempo os filme Xingu – A saga dos Irmãos Villas Boas no coração do centro-oeste do país e Eu receberia de seus lindos lábios as piores noticias, com a bela Camila Pitanga. Mas sempre existirá uma cópia ou um original a nossa disposição em breve.  

A lamentar também, ter estado na cidade em dias não compatíveis com a apresentação na Caixa Cultural, de 16 a 20.05, do cantor e compositor Eduardo Dusek (sátira e bom humor) ou mesmo de Gil no Teatro Castro Alves, acompanhado da Orquestra Sinfônica da Bahia, nos dias 18 e 19 de maio. Tentaremos nos próprios deslocamentos para casa, equacionar a nossa presença com a movimentação cultural da cidade.

Levanta, sacode a poeria e dá a volta por cima.



Foi uma disputa emocionante, própria do maior clássico do campeonato baiano. O empate em 3 x 3 beneficiou o Barcelona de Itinga, conforme o regulamento aprovado pela Federação Baiana de Futebol, que o deixou campeão após 10 anos sem saber o que era a comemoração de uma conquista como essa. O Vitória jogou para ganhar e só não conseguiu por falhas primárias de um goleiro que não vinha sendo o titular da equipe, mas demonstrou uma garra e uma vibração como só os rubronegros são capazes. Mesmo que não ganhasse o titulo, até pela campanha irregular durante todo o campeonato de 2012, mas a vitória pelo que o time foi em campo, naquele domingo de decisões, teria que ser rubronegra.

Mas, são coisas do futebol e, até conduta pouco esportiva, como do nosso artilheiro Neto Baiano, fica por conta do fervor da disputa, da busca da vitória, da incompreensão do resultado adverso, pelo que o time foi em campo. Agora é por a cabeça no lugar e lutar pela Copa do Brasil e por uma boa colocação na Segunda Divisão do Brasileiro e a volta à elite do futebol brasileiro, que é o seu lugar

domingo, 13 de maio de 2012

O malandro na praça outra vez.



Li na Isto É, ano passado, uma entrevista com Chico em que ele se dizia um músico sofrível, sem muito talento para criar harmonias e melodias, porem com relação às letras, às palavras, sem nenhuma modéstia, ele tinha habilidade. Aliás, muito hábil, hábil demais, já que faz com que as melodias venham a reboque de construções poéticas admiráveis, versos inesquecíveis em nossa música popular. Citar Rosa dos ventos, Construção, Retrato em branco e preto, Todo sentimento, Sinhá, Roda Viva, Olé olá, O que será é um exercício que beira a obviedade tal a gama de belas canções que Chico nos legou.

Pois, foi parte deste imenso e brilhante repertório que Chico nos brindou quinta feira passada, dia 09.05.12, com um show que só os grandes artistas são capazes. As canções do novo disco, lançado em novembro passado, não chegam a dominar a lista do repertório, mas servem como pano de fundo ou melhor pretexto para a apresentação de composições que não costumam frequentar os seus shows. Ana de Amsterdam, por exemplo, me remete ao seu espetáculo com Caetano no mesmo TCA em 1992 ou canções como Geni e o Zeppelin, De volta ao samba (“Pensou que eu não vinha mais, pensou. Cansou de esperar por mim”)Sob medida, refrescam a nossa memória como quem diz “a vida não é só isso que se vê, é muito mais”. Foi como uma espécie de suíte para a entrada de Se eu soubesse, sem a Thais Gulin, que estava na cidade, mas não como participação especial no show, teve o dueto preservado pela Bia Paes Leme, pianista, que se encarregou dos vocais. Nina, Sou eu, Sinhá foram apresentadas como quem dissessem há joia rara no pedaço.

Prezada Márcia, mais uma vez, nossos agradecimentos pela cortesia de nos proporcionar, de novo, uma noite de puro encantamento com a música deste grande artista brasileiro.    

sábado, 12 de maio de 2012

Coisas feias e de amor



A tecnologia, apesar dos inconvenientes, tem os seus e muitos encantos. A cantora Clara Nunes teve, após a sua morte, lançado um disco em que artistas convidados da gravadora Odeon na época, hoje EMI, se inseriram em gravações suas, fazendo duetos emocionantes e inusitados. Passeiam por sua voz e junto com ela, artistas como Milton Nascimento, João Nogueira, Chico Buarque, Alcione, Elba, Paulinho da Viola e Ângela Maria. Em um destes duetos fui surpreendido ao ouvir Clara com Ângela Maria na canção, mais que própria a ambas, À flor da Pele, com letra demolidora de Paulo César Pinheiro e melodia de Mauricio Tapajós, com trechos aqui transcritos:   
Me diz coisas feias e de amor
A luz da lamparina
Me devoro o corpo sedutor
Igual fera assassina
E você me arrasta nessa dor,
que aos poucos me arruína.
Ando já com meus nervos a flor da pele, já morfina.
Tenho olheiras fundas e pavor de álcool e nicotina
Minhas noites durmo com pavor
A base de aspirina

Salmo 91



“Não temerás os terrores da noite, nem a seta que voe de dia, nem peste que anda na escuridão, nem mortandade que assole ao meio-dia. Mil poderão cair ao teu lado, e dez mil à tua direita; mas tu não serás atingido”. A citação de trecho do belo Salmo 91 talvez ficasse melhor nas palavras da “samaritana das frases alheias” ou de um desses “fariseus festeiros” que oram pela chuva de olho na caixa registradora, serve como ilustração da bela peça do mesmo nome em cartaz na Sala do Corro do Teatro Castro Alves.

A partir do livro de Dr. Dráuzio Varella, Estação Carandiru, relatos de seu acompanhamento médico por vários anos aos detentos daquele inferno penitenciário, o texto em cartaz, com bons atores baianos, reproduz a experiência de sobreviventes do massacre ocorrido há dez anos. Humanos como nós são seres que não despertam qualquer sentimento de piedade ou compaixão. São ou se transformaram em seres bestiais, maus, indignos, repulsivos, carregando homicídios inclassificáveis, penas que nem Matusalém cumpriria vivesse o tempo que vivesse. É a humanidade que rasteja, a brutalidade em seu estágio mais degradante, criminosos de alta periculosidade, homens maus, bichas sórdidas compõem o inferno que explodiria a qualquer momento, como naquela noite assombrosa em que o presídio foi invadido por forças policiais e 111 execuções foram contabilizadas. Mas foram mais, bem mais...  

Os atores Fábio Vidal, Duda Woyda, Lúcio Tranchesi, Rafael Medrado dão ao texto uma autenticidade desconcertante, como uma espécie de soco no estômago, trágico e poético. Um teatro que faz pensar, refletir e que foge ao besteirol que povoa a maioria das salas da cidade.