terça-feira, 31 de julho de 2012

É a greve pelo monopólio da greve.


A greve dos professores estaduais continua em Salvador, já que no interior do estado a adesão que já foi significativa hoje se resume a meros focos localizados de insatisfação cansada, distante de qualquer acordo ou negociação. É a greve pela greve e estamos conversados. Quem conhece as figuras que dirigem o sindicato dos Professores Estaduais identifica estes grevistas profissionais encastelados na instituição, assim como o dos bancários, por anos e anos sem de lá arredar a sua liderança e sua intransigência. É uma disputa entre centrais sindicais em que os professores servem de massa de manobra por um poder monopolista entre CUT, CTB, Força Sindical, CGTB, em sua maioria atrelada a partidos de esquerda ou o que isto possa significar. Até o PSDB achou engraçada a disputa e tenta estabelecer um vínculo com os movimentos, criando o seu braço sindical. Não é sério!

Esta queda de braço entre estes grupos pretensamente defensores dos trabalhadores serve tão somente para enfraquecer o seu poder reivindicatório, enquanto o comando de greve conduz o movimento e as assembléias usando camisa Lacoste (ainda que made in China) e colocam seus filhos em colégios particulares numa “mea culpa” da porcaria dos serviços que prestam a educação e aos jovens de seus estados. Haja aumento, sem qualificação!

Londres 2012 como espelho a Rio 2016


A bonita festa inglesa que ocorre em Londres por conta das Olimpíadas 2012 e que teve sua abertura na sexta feira, 27.07, teve um dado olímpico pouco citado e muito a ser comemorado e principalmente a ser refletido por nosso país que promove evento semelhante em 2016. Esta reflexão terá que partir dos órgãos fiscalizadores das contas públicas, como Tribunal de Contas da União, Corregedoria Geral da União, Advocacia Geral da União e todo este instrumental de análise dos gastos em obras públicas, as condições de licitações dessas obras, a idoneidade das empresas licitadas, mesmo sabendo que parte delas já se encontra em execução e que só Deus pode nos salvar dos donos do alheio. Mas não se pode deixar as portas dos cofres escancaradas como costuma acontecer sempre nas grandes obras.

Todo este desejo de ver coibidas tantas práticas odiosas de apropriação indébita por empresários em conluio com políticos nasce não apenas pela ilegalidade do gesto, mas pela perda de verbas que poderiam ser alocadas em nossas tão claras prioridades sociais. Na Inglaterra, as obras olímpicas ainda em andamento tiveram redução de seus custos em 20% por conta da crise europeia, mas principalmente da quebradeira de países membros, sem que houvesse perda na qualidade e importância das obras em fase de conclusão. Mesmo não fazendo parte da Euro e tendo sua moeda fora de seu sistema monetário, a Inglaterra preferiu a prudência ante o furacão que abala a economia da Europa e que não excluirá a Grã Bretanha das consequências desta crise que se alastra, chegando bem próximo de quem parecia deter as rédeas do seu controle, a Alemanha.

Que o exemplo sirva ao nosso país que não pode imaginar viver num mar de tranquilidade ante a turbulência internacional que afetará a todos, ainda que em diferentes gradações. Somos tão desiguais, como políticos e administradores que não custa nada imaginar que o inesperado faça uma surpresa e afaste do caminho da Rio 2016, a ladroagem que nos espreita a cada esquina

segunda-feira, 30 de julho de 2012

Homem-morcêgo, Aranha e outros bichos


Nada representa mais o imperialismo americano, ou a força de seu capitalismo predador, que a indústria do entretenimento, tendo à frente a música e o cinema, mais este que aquela. A entrada em cartaz sexta feira, 27.07, em Salvador, do novo filme do homem morcego Batman: O cavaleiro das Trevas Ressurge significou a ocupação maciça de salas em horários ininterruptos em todos os locais de exibição da cidade. Como estes locais são os shoppings da cidade, todos eles estiveram a disposição do homem e da mulher morcego, Robin e ouros bichos em mais uma mega produção e lançamento da indústria cinematográfica americana. Se somarmos esta invasão animal a outras produções americanas já em cartaz e ocupando outro grande número de salas como O espetacular Homem-Aranha, A Era do gelo 4, Valente, sem falar de outras produções que ainda dão seus últimos suspiros como Chernobyl, Madagascar 3 – Os Procurados fica traçado o perfil e cenário do poder devastador do cinema americano em todo mundo ocidental, quiçá mundial.

Diante deste quadro de dominação alienígena o cinema nacional procura sobreviver com comediazinhas protagonizadas por atores globais e de qualidade mais que duvidosa. Enquanto que as produções fora deste esquemão global vivem de prêmios em festivais, das salas de arte e da ausência destes brutamontes americanos para fazerem jus a um lançamento digno dos grandes diretores talentosos que heroicamente lutam e fazem seus filmes serem vistos e aplaudidos onde conseguem chegar.  

De volta ao começo


Nova estada em Salvador, novas caminhadas em volta do Dique do Tororó e uma nova visão da celeridade das obras da Arena Fonte Nova. Sem dúvida é um dos estádios em que seu cronograma se encontra em perfeita sintonia com a finalização dos trabalhos prevista para dezembro. Pelo menos neste tocante a Copa do Mundo de 2014 já pode começar se fosse apenas esta etapa das muitas obras a serem realizadas para o inicio do grande evento.

Andar pela cidade sobre passeios arrebentados, sem manutenção; contornar o lixo que se amontoa em cada esquina; perder a paciência com o trânsito que não flui em avenidas que levarão ao local dos jogos; andar pelo centro histórico driblando os zumbis que vagueiam por suas ruas, vergados pelo “crack”; passar por casarões em ruínas sob o risco de ter uma parte de suas fachadas caídas aos seus pés ou cabeça; viver o sobressalto constante de ter seus pertences surrupiados por meliantes de pequena ou total periculosidade, enfim por os olhos ainda que por instantes sobre muitas de suas paisagens de rara plasticidade, como neste domingo de verão invernal, é reconfortante, mas não menos perigoso.

Sempre que voltava prá casa e se aproximava a hora de bater em retirada rumo à cidade alegre era tomado por uma melancolia, uma vontade de não voltar e pedir a compreensão dos que me trouxeram que hoje já não machuca tanto. Volto “como se ter ido fosse necessário para voltar”, recuperando as energias gasta com os breves dias em uma cidade irresponsavelmente mal cuidada, quase abandonada, prato feito para “salvadores da pátria” em ocasiões como a que vamos e já estamos vivenciando. Por aqui me acalmo o suficiente em noites bem dormidas, em leituras que faço silenciosamente, nas músicas que escuto nos finais de semana, andando despreocupado certo de que voltarei  de onde saí, mesmo que pequenos tropeços cheguem a assustar, sem contudo impedir a caminhada.  
     

segunda-feira, 23 de julho de 2012

Os filhos do metrô


O metrô de Salvador é apenas uma das tantas obras inconclusas espalhadas pelo país, sem data certa de término de seus intermináveis trabalhos. Só uma coisa é certa, a voracidade com que são pedidas suplementações orçamentárias para que os serviços cheguem ao fim e o metrô comece afinal a rodar e a conta bancária de uns e outros engordar.

Em Morro de Chapéu, neste final de semana, pude verificar em uma Praça na Pedra Grande a construção de uma quadra poliesportiva coberta, dotada de palco para apresentações musicais, encenações de peças teatrais, bem como a realização de congressos, seminários, colações de grau, convenções segundo a placa do Ministério dos Esportes. Ali estavam informações como o custo da obra, o início em 02.01.2012 e o término em 07. 07.2012. Assim, a depreender da data de conclusão dos serviços na placa, a quadra já estaria pronta. Estaria, mas o que está à vista mesmo são colunas laterais sustentando enormes estruturas de metal que sustentará a cobertura e, isto é tudo que se tem para sinalizar a obra. Esta é uma prática tão corriqueira da qual o metrô em nossa capital é o exemplo mais patético da administração pública que vai espalhando seus filhotes também desafortunados pelo estado. 

Foto: Ilustrativa   

sexta-feira, 20 de julho de 2012

Valeu Neto!


Mais uma vítima da claudicante infraestrutura do futebol baiano, nordestino e mesmo do futebol brasileiro em toda a sua abrangência. Só que por aqui o estrago é maior, já que o que se consegue com a venda de jogadores formados nas divisões de base de nossos clubes é para quitar débitos com a manutenção destas mesmas divisões, além do dispendioso departamento de jogadores profissionais. Agora é a vez de Neto Baiano, a estrela maior do Esporte Clube Vitória, a deixar o nosso clube num momento em que se vibra com a excelente performance do rubronegro na Serie B do Campeonato Brasileiro. A lacuna que Neto deixará no Vitória não será em preenchida em curto espaço de tempo, já que peças de reposição não existem e quando elas acontecem são jogadores problemas descartados pelos times do sul que vem para nosso futebol com salários fora da realidade do clube, em busca de sol, praia, baladas, cerveja, acarajé e outras milongas mais.

Por outro lado, é mais que justo que o jogador busque em centros financeiramente mais estáveis a sua independência financeira, algo que o Vitória jamais poderia oferecer a Neto, como profissional. Neto é Vitória, mas antes de tudo é cidadão com obrigações pessoais e familiares e que merece pelo muito que fez pelo nosso rubronegro, sucesso em seu novo clube e muitos gols, como os que vão ficar por aqui em nossa memória vermelha e preta. Boa sorte Neto, “arigatô”!

quinta-feira, 19 de julho de 2012

Bahia, terra da (in)felicidade!


O instituto de pesquisa Proteste, associação de defesa do consumidor, aplicou em várias capitais brasileiras um questionário que avaliou a qualidade de vida destas cidades. Este questionário abordava temas como a educação, habitação, saúde, mobilidade urbana, emprego e segurança, estabelecendo graus de satisfação que iam de boa a ruim e um meio termo como satisfatória. Quem vive em Salvador podia prever que o resultado para a nossa capital não seria nada animador, tem em vista a degradação e decadência experimentadas nestes últimos anos. Mas, nada que pudesse nos entristecer e humilhar tanto como os resultados apresentados entre as capitais avaliadas.

Salvador é apontada, segundo os critérios que balizaram o estudo e de acordo com seus moradores e visitantes, com a pior colocação em mobilidade urbana e habitação e o segundo pior lugar em termos de segurança, saúde e emprego, sendo passada prá trás por Maceió, Natal e João Pessoa, respectivamente. É de se perguntar, onde foi que erramos. Não faltarão culpados, mesmo entre aqueles que hoje se fazem de estilingue, de olho no Palácio Tomé de Souza, esquecendo o “mandonismo” de seus familiares que empurrou para as favelas e barrancos da periferia aqueles que contraditoriamente sempre lhes deram o poder. O abandono, a falta de moradia, educação e saúde era a senha que futuramente se valeria seus descendentes para optar pelo crime, pelo roubo, para o tráfico numa cidade que não crescia, mas inchava com todas as causas e infecções que provocam um inchaço social. Pegar este pobre coitado do João Henrique para atirar pedras e toda a nossa indignação é pouco, é o bode expiatório para problemas que ele não criou nem ajudou a minorar nestes inúteis 08 anos.

O triste desta história, que deve continuar, são as candidaturas postas à disposição do cidadão no próximo pleito municipal, para a escolha de quem lhe dirigirá nos próximos quatro anos, mais um empurrar com a barriga mazelas que só Oxum e suas águas poderão lavar. “Triste Bahia! O quão dessemelhante e Triste Bahia./A ti tocou-e a máquina mercante/Quem emtua larga barra tem entrada” (Gregório de Mattos).

terça-feira, 17 de julho de 2012

Morro do Chapéu dá a largada


Já tinha ouvido falar da iniciativa do comércio de Morro do Chapéu – Ba, em uma campanha que visava premiar o desempenho escolar de alunos da rede pública do município. A ideia do empresário Luciano da Casa do Pão deu largada na premiação de um computador para o aluno que tivesse o melhor aproveitamento nas avaliações durante o ano letivo e uma assiduidade às aulas com poucas ou nenhuma falta no período. A receptividade no meio estudantil foi tamanha que outros empresários na sede do município se puseram em disponibilidade para novas premiações e a busca de metas mais ambiciosas a serem atingidas. Outros empresários do comércio se sensibilizaram com a ideia e se cotizaram e ampliaram os prêmios para notebooks, motos, bicicletas entre outros brindes. Uma agência bancária ofereceu uma poupança de R$2.000,00 (dois mil reais), uma dentista bancou um tratamento ortodentário por ano e outros profissionais, lojistas, entidades associativas foram se juntando ao projeto que hoje é vitorioso.

A evasão escolar foi reduzida em mais da metade e, principalmente, os indicadores que atestam a qualidade do ensino no município já dá demonstrações de elevação em seus índices. Ao estado competiria em termos constitucionais uma educação básica para os seus cidadãos, mas se esta obrigação pública nem sempre vem, a iniciativa privada pode tomar parte desta rédea e promover uma revolução educacional com o apoio de professores e em especial da estudantada. Parabéns a Morro do Chapéu que precisa de cópias, muitas cópias da iniciativa a ser espalhada por todo o estado.

Foto: Cachoeira do Ferro Doido - Morro do Chapéu - Ba.

segunda-feira, 16 de julho de 2012

Flamengo - Um bando desordenado


Não tenho assistido jogos do Flamengo, mas acompanhado através das resenhas no rádio e das páginas esportivas dos jornais, alem de sites dedicados ao esporte. Ontem vi o jogo contra o Barcelona de Itinga, em Pituaçu, apesar do triunfo por 2 x 1, não tinha perdido nada em não ter vistos os seus jogos anteriores. O time é um bando desordenado, sem padrão de jogo, sem técnico, sem comando e entulhado por jogadores medíocres que não fazem jus ao manto rubronegro. Pobre Flamengo!
Mesmo assim desarrumado sai a campo para mais contratações internacionais como Diego ex-Santos, que joga na Alemanha ou Riquelme do Boca Juniors, já em fim de carreira. Estes jogadores e seus empresários devem saber o risco que é jogar no Flamengo. Os contratos, como de costume, envolvem cifras mirabolantes, fantasiosas, cujos salários são pagos nos primeiros meses e os subsequentes só serão recebidos através da Justiça do Trabalho em ações escandalosas com ofensas de ambas as partes. Toma vergonha Flamengo!


domingo, 15 de julho de 2012

Quem sai aos seus não degenera



A primeira vez que ouvi Maria Rita foi em uma participação na faixa de um disco de Milton Nascimento em que eles cantavam a bela Tristesse. Pensei, no momento, tratar-se de Elis em uma música antiga, agora relançada. Mas não, a composição e gravação eram recentes, velha era a minha desinformação, ante aquele perturbadora semelhança da voz de Maria Rita com a de sua mãe. Veio o seu primeiro disco e a semelhança com o timbre e o balanço de Elis continuavam como se fosse uma mera imitação e não algo de origem genética talvez, natural, com o que acabaríamos nos acostumando. Elis vive também, através de Maria Rita.

Mas, nada em termos de semelhança de voz como a de Diogo Nogueira e seu pai João Nogueira. Aqui as coisas ficam mais difíceis a identificação, já que o Diogo grava composições do pai, que alem de cantor também era compositor e sambista dos bons. E deixa reencarnar, principalmente artistas que foram em vida amados e respeitados como Elis, que gravou músicas do João, alem do próprio João.

Foto: Maria Rita

O que é meu é meu, o que é teu é nosso.

Charge: Simanca

"Nos meus comunistas mando eu"!


O empresário e jornalista Roberto Marinho é uma das controversas figuras da imprensa brasileira. Detentor de um império das comunicações comandando, quando vivo, uma cadeia próspera de televisão, rádio, jornal, editora, gravadora e tudo mais ligado área de entretenimento e informação. Desde a concessão para a criação da Televisão Globo, o Dr. Roberto, como era conhecido, se envolveu  em um negócio nebuloso com o grupo americano Time-Life que lhe permitiu o inicio da modernização daquela que viria a ser uma das maiores redes de televisão comercial do mundo. Foi um dos primeiros grupos de comunicação a apoiar a Revolução de 64, colocando a sua rede como capacho dos militares o que causou a sua televisão algumas nódoas. Uma delas foi a omissão ao movimento popular pelas Diretas Já ,bem como a edição do debate entre Collor e Lula na eleição de 89, uma das páginas mais indignas da nossa imprensa, mas em troca recebeu a concessão de vários canais de televisão por todo o país.

Até o momento, este e muitos outros fatos carecem de detalhes e explicações, até porque seus biógrafos foram e ainda são seus empregados, como o José Bonifácio Sobrinho, o Boni e Pedro Bial., cuja credibilidade fica comprometida pelo o envolvimento emocional e natural com o biografado. Uma passagem interessante de sua vida é relatada pelo Boni em um texto de seu livro sobre a TV Globo, reproduzido pela revista Piauí. Admirador dos textos de Ferreira Gullar, Dias Gomes e do ator Mário Lago, comunistas filiados ao PCB, tendo emprestado uma grana ao Mário para saldar uma dívida fez um cheque no valor e um bilhete: “Se os comunistas assumirem o poder, peça para me enforcarem com uma corda de seda, bem fininha”. Pelo menos não se pode queixar de sua falta de humor e sua indiferença à ideologia de seus funcionários, sobre os quais costumava dizer: “Nos meus comunistas, mando eu”.

Charge: Netto

Ele tá de olho é na butique dela.


O sempre bem informado e equilibrado jornalista Ricardo Boechat publicou, meses atrás, em sua coluna na revista Isto É, sobre um jantar que houve ou haveria entre José Serra e Paulo Maluf, em casa deste, quando seria tratado o apoio do partido da “besta do apocalipse” a sua candidatura à Prefeitura de São Paulo. Não se sabe o que foi discutido, qual foi o “é dando que se recebe”, qual o valor do dote posto à mesa. O certo que não chegaram a um acerto, tanto que o repulsivo Maluf acabou nos braços do PT de mãos dadas com Lula e seu afilhado candidato.

Os jornalões paulistas não noticiaram o fato, de certo para não manchar a camisola das vestais do PSDB e guardaram a munição, o ódio, a discriminação, a pureza de cabaré para atirar na primeira aliança envolvendo o PP e sua “Maria Machadão”. Não deu outra. O mundo caiu sobre ex-presidente Lula pelo acordo costurado, como se o mesmo fosse o detentor da pureza ideológica, da moral e da ética na política nacional, virtudes que não têm, mas sempre estão a cobrar de seus desafetos.   

Flamengo joga amanhã, eu vou prá lá.


“Flamengo joga amanhã, eu vou prá lá/vai haver mais um baile no Maracanã” uma correção circunstancial ao samba do grande compositor Wilson Batista. O Flamengo joga hoje e em Pituaçu, Salvador. Mas de amanhã em diante, com mais uma vitória, o Samba rubro negro volta a sua condição irretocável de belo exemplar da malandragem carioca dos anos 40.

Mas em se tratando de retoque à letra que diz “mais querido tem Rubens, Dequinha e Pavão” que era o meio de campo do Flamengo, muito tempo depois sofreu uma adaptação por João Nogueira, um rubro negro por inteiro, em 79 para “o mais querido tem Zico e Adílio e Adão”, trazendo o samba para a realidade do time à época.

Mais recentemente, o filho de João, Diogo Nogueira que herdou do pai a voz, o timbre e o balanço, a pedido de um programa esportivo da TV Globo, trouxe o samba para bem mais próximo com a citação de “o mais querido tem Souza, Obina e Juan”. É perceptível que a cada nova adaptação a qualidade dos homenageados e citados vai descendo ladeira abaixo cujo exemplo maior é a fase atual do Mengão.

Foto: Joâo Nogueira

Transa - 40 anos depois


O disco de Gil - Expresso 2222, de 1972 é apenas um dos muitos exemplares do transbordamento de criatividade que permeou toda a década de 70. Agora também, comemorando 40 anos de seu lançamento é o disco Transa de Caetano, gravado ainda em Londres, mas lançado no Brasil após a sua volta do exílio. Transa, é um dos mais bem acabados discos de Caetano, graças ao violão, guitarra e arranjos de Jards Macalé que conseguiu uma sonoridade pouco encontrada em discos brasileiros, em que pese a economia de poucos músicos na composição da banda. Além de Macalé nas cordas, Caetano violão, Áureo de Souza no baixo, Tutti Moreno na bateria e percussão deram brilho e luz a Triste Bahia, It´s a long way, Mora na Filosofia, Nine out of ten em um dos momentos excepcionais da música brasileira.

A gravadora Universal Music, em homenagem aos 40 anos reeditou Transa que passou por em processo de refinamento acústico realizado pelos estúdios da Abbey Road, Londres, e foi relançado em várias mídias inclusive no formato originalmente, em vinil. Transa é um dos discos mais importantes da música brasileira.

sexta-feira, 13 de julho de 2012

Expresso 2222 - 40 anos depois.


Longe de preocupar, pois muito há para comemorar com a passagem dos anos para os nossos ídolos, Gil, Caetano, Paulinho da Viola, Milton, Chico, Betânia, Gal, Rita chegarem aos 70 ou próximos desta idade cabalística, assim como a nossa geração de fieis admiradores, às vezes exibindo um frescor quase juvenil como se o velocímetro do tempo estivesse adulterado como os dos taxistas da rodoviária de Salvador, por exemplo. É certo que a criatividade vai diminuindo com a inexorável proximidade de um fim que não consta do show de nenhum deles, mas que é inevitável como comprova a exuberância musical mostrada por estes artistas na década de 70 e que, nas raras exceções, não se repetiram dali por diante. Também é de se dizer, fazer o que fizeram naqueles anos dourados lhes deram munição mais que suficiente para trocar de táxi e seguir confirme seus próprios passos, sem pressa, sem querer provar nada, ousando de acordo suas próprias convicções sem querer ser moderno, nem eterno, embora já tenham se tornado.

O disco de Gil, gravado logo após sua volta de Londres, em 1972, é desses arroubos de gênio, cidadão do mundo e do sertão nordestino que ele conseguiu repetir em trabalhos posteriores, mas neste que traz na capa o seu filho Pedrinho, falecido em acidente de carro, é a marca do grande musicista e letrista que ele é. O lado regional com a Banda de Pífanos de Caruaru, sucessos de Jackson do Pandeiro como Canto da ema e Chiclete com banana estão impregnados de sua visão cosmopolita expressa nos arranjos concebidos pelo seu violão, a guitarra de Lanny Gordin e dos sons do baixista americano Bruce Henry. Regional e universal. O Gil compositor aparece no rock Back in Bahia, composto em Londres e que revela o incontido desejo da volta do exílio, já prevista, ao tempo que fala da saudade dos “também tão lindos parques de lá”. Em Expresso 2222, uma das mais representativas obras de Gil e, composta sob um estado de percepção alterado que lhe permitiu viagens musicais e literárias delirantes é acompanhada por seu violão que começou a circular com o expresso “Que parte direto de Bonsucesso pra depois/Começou a circular o Expresso 2222/Da Central do Brasil/Que parte direto de Bonsucesso/Prá depois do ano 2000”.
Grande, eterno e sempre moderno Gil.

Vista a roupa meu bem!


Alguns ex-jogadores de futebol estão vivendo, se não um inferno astral, pelo menos vivenciando uma preocupante caça as suas filhas pelas páginas das revistas masculinas. Recentemente, foi a bela filha de Renato Gaúcho que chegou a chantagear o pai, pedindo dois apartamentos, um em Miami, sob pena de tirar a roupa para as lentes dos fotógrafos a serviço de publicações que lhe assediavam oferecendo mundos e fundos, em troca da visão panorâmica de seu playground, área de serviço e demais dependências. Renato estrilou, deu conselhos, fez promessa que surtiram, temporariamente, efeitos. Não se sabe até quando ela irá segurar a calcinha e o sutiã.

Agora é Bebeto, ex-jogador do Vitória, Flamengo e Vasco, que está às voltas com sua filha Stephannie, sendo assediada pelas lentes indiscretas de algumas revistas do gênero família, embora nua, querendo um ensaio sensual da modelo, prá desespero do pai. As propostas estão balançando o coreto de Stephannie, como se dizia no tempo de Bebeto, que evoca a condição de evangélica para afastar os inimigos do caminho de sua filha, como quem diz: “esse corpo não te pertence”. É pagar prá ver. Breve nas bancas. 

Foto: Stéphannie Oliveira (modelo)   

De onde vêem os vices.


Não votei na eleição em que Jânio Quadros se tornou presidente do país, cavalgando uma vassoura com que faria a limpeza do país. A limpeza continua ainda por ser feita e vassoura serviu para que usasse como meio de transporte e fuga da presidência num episódio de nossa história que nunca foi bem explicado, a não ser que “forças ocultas” possam sinalizar algum problema tão grave assim que justificasse a covardia. Na ocasião os vices de cada chapa eram votados independentes da “cabeça de chapa”. Assim, Jânio que era de uma coligação de vários partidos, teve como vice eleito o cunhado de Brizola, o Jango, candiadto de outra chapa e cuja posse deixou setores da linha dura militar a ver fantasmas, aliás, a própria sombra. Mas isto é história e não vem ao caso, já que a questão é a eleição ou não dos vices.

Por meio destas manobras legislativas, tão próprias, o Congresso Nacional acabou com a eleição do vice, deixando-o atrelado a vitória do candidato majoritário. Resumindo, a zona era tudo que eles queriam, até por que prestavam uma homenagem a origem de muitos de seus pares que tornaram o cargo de vice em um monopólio da família, uma espécie de nepotismo consentido. Candidatos em disputas a cargos como a presidência da república, governador, senador, prefeito valeram-se do que tinham em mãos e foram distribuindo uma “boquinha” para um filho abestado, um cunhado enconstado, uma mulher de forno e fogão, uma secretária e amante, o ex-esposo de sua atual esposa enfim, aberrações constitucionais compatíveis com o governante ou legislador eleitos.

A CPI do Cachoeira fez a sua primeira vítima com a cassação do Senador Demóstenes Torres, pelo Senado Federal, por suas ligações com o contraventor Cachoeira. O seu vice e que irá substituí-lo com a vacância do cargo é ninguém menos que o Senhor Wilder Moraes, também filiado ao DEM, e ex-esposo da atual mulher de Demóstenes Torres, além de reconhecidamente agradecido ao contraventor Carlos Cachoeira, por tudo que tem na vida, conforme escutas telefônicas realizadas pela Policia Federal. Durma-se com um barulho desses! Em família tudo se sabe.

Foto: O ex-presidente João Goulart (Jango)

Rosa Passos - É luxo só.


Estive com viagem programada para Salvador este final de semana, que acabou não se confirmando, para tratar de alguns compromissos, adiáveis e, em especial assistir o show de Rosa Passos no Teatro Castro Alves – TCA, sábado e domingo. Este compromisso, lamentavelmente inadiável, uma perda irreparável. A presença de Rosa entre nós é um acontecimento cuja frequência é imprecisa em face de sua carreira internacional, já que ela é uma dessas talentosas artistas expatriada pelo mau gosto de seus patrícios, mas que foi acolhida por um público cativo, respeitoso nos teatros e casas de shows do Japão e Estados Unidos.

A última vez que Rosa este por aqui foi em um show na Concha Acústica do TCA, em que ela fazia a abertura da noite para a apresentação de alguém, que nem me lembro quem, mas que mereceria uma fechadura e não um “esquenta a plateia” com uma artista da qualidade e talento de Rosa Passos. Coisa do show business e de uma mídia despreparada e desinformada musicalmente. Na ocasião Rosa lançava o seu novo disco, Azul, dedicado a obra de Djavan, João Bosco e Gil, acompanhada de uma banda de craques a exemplo do seu violonista preferido Lula Galvão.

Não estarei no TCA, é uma verdade física, mas meus olhos e ouvidos estarão na presença dos amigos Mirinha/Edilson, que me passarão a emoção, em especial Mirinha, com o repertório que imagino norteará o “set list” do show, calcado na lembrança de Elizete Cardoso, através do disco lançado o ano passado Rosa Passos - É luxo Só. Já ouço algumas faixas na Rádio UOL e a homenagem está a altura da “divina”, através das músicas de Cartola, Noel Rosa, Ary Barroso entre outros, a exemplo de uma seleção que inclui As rosas não falam, Acontece, Olhos Verdes, Diz que fui por aí, Último Desejo, Saia do caminho, Três apitos e por aí vai... É verdade que algumas músicas escolhidas para o disco, e que devem compor o show, embora gravadas por Elizete não são tão representativas de sua carreira, como é a canção de Zé Keti para Nara, ou de As rosas não falam para Beth Carvalho, mas nada que a lembrança de Elizete, a voz, a afinação e o balanço de Rosa não compensem. Modulem a luz, abram o vinho e deixem a música brasileira passar.  

quinta-feira, 12 de julho de 2012

O Blog é 40!


Não conheço o muro com opção política, talvez o pé, mas aí deixa de significar omissão, indiferença, pelo contrário, em que pese a passagem do tempo e seu apagador ou esmaecedor de velhas lembranças, sempre me posicionei politicamente. Lembro de uma capa da Revista Argumento, surgida em 67, mas que não era propriamente uma publicação da imprensa alternativa como este apanhado que fiz no post abaixo, até porque tinha como suporte uma grade editora a Paz e Terra e um corpo editorial luxuoso, com o Prof. Antonio Cândido, Celso Furtado, Fernando Henrique Cardoso, Francisco Weffort, Luciano Martins e Paulo Emilio Salles Gomes. Já a imprensa “nanica” era da bandalha, uma cooperativa de abnegados, profissionais exemplares. Mas, o caminho não é esse e estou sempre perdendo o foco, a direção, enveredando por outras trilhas.  

A lembrança da Argumento vem da capa de um dos seus exemplares que estampava um desenho de um cidadão de paletó e engravatado, mas sem cabeça. No lugar da cabeça havia um balão, este recurso que os chargistas, cartunistas e desenhistas de historinhas em quadrinhos utilizam para dar voz a seus personagens, com a frase “Sou apolítico, entende?” Não, ninguém entende o apolítico. Queiramos ou não sempre estamos optando por algo que voluntariamente ou não nos exige definição, por isto ou aquilo, este ou um outro, até a neutralidade ela é aparente e, acaba por revelar aquilo que “não dá mais prá segurar” como no bolero de Gonzaguinha.  Assim esta questão, que não me diz respeito, vem à tona diante da realidade de estar temporariamente residindo na cidade alegre, fora do meu domicilio eleitoral. O fato talvez me desobrigasse de uma posição clara quanto às chapas postas em disputa no pleito majoritário da cidade, mas não, sou e estou com Ivan e Jorge e modestamente participando da campanha, dentro do possível, já que o assunto a partir de agora fará parte destas abobrinhas diárias, aqui no blog. Não é nada, não é nada, mas o blog é 40, ainda que a chapa não traduza o ideal de renovação e juventude que imagino para a cidade, estou certo que Ivan e Jorge em caso de vitória abraçarão o novo para sucedê-los.  

quarta-feira, 11 de julho de 2012

Imprensa Alternativa - O bom jornal anos 70.


Talvez tenha havido alguma revista ou jornal da imprensa alternativa no final dos anos 60 e década de 70 que não tenha conhecido, lido e conservado até certo tempo da minha juventude, a partir do PASQUIM. Acho pouco provável que tenha fugido a minha curiosidade e interesse tudo ou quase do que se publicou naqueles anos sombrios, abrigados sob o mesmo teto da imprensa alternativa. Assim foi classificada toda publicação fora dos padrões da grande imprensa que por conveniência ou por afinidade ideológica aceitava submissa e cabisbaixa os rigores da censura e dos censores encastelados em suas redações. Tentando fugir ou driblar estas limitações jornalísticas e de pensamento, surgiu esta imprensa crítica, moderna na linguagem e no formato que procurava enxergar além do permitido e brincar, gozar e ridicularizar os novos donos do poder, já que havia um consenso quanto à burrice e a truculência também mental dos que detinham o poder de vetar, cortar, proibir, suprimir, cassar, fechar jornais e prender jornalistas. Os jornais mais representativos desta tendência eram o Opinião, Movimento, EX, Versus etc

No âmbito destas publicações voltadas para a política, o humor e a crítica dos costumes, foi surgindo um jornalismo dirigido a um novo público, não alienado, mas que virou as costas à luta armada e a formação de núcleos urbanos contra a ditadura. Partiram por outros caminhos, outros assuntos muitos que não tinham espaço nos jornais tradicionais e tambem na imprensa alternativa como a liberdade sexual, o homossexualismo, a ecologia, drogas, rock and roll, movimento hippie, minorias raciais e religiosas, maconha e ácidos, comportamento, ambientalismo, enfim temas subterrâneos, era o “underground”. Eram reflexos do desencanto de intelectuais, estudantes e operários com os rumos dos movimentos de Maio de 68 na Europa, em especial na França, Alemanha e Itália, alem dos desdobramentos da invasão da Polonia pela União Soviética, episódio que ficou conhecido como a Primavera de Praga, levantando a possibilidade de reflexão sobre uma nova esquerda, já que aquela dava sinais de saturamento e cansaço.  A For do Mal, Lampião, Verbo Encantado (editado em Salvador por Alvinho Guimarães), JA (um jornal do Tasso de Castro) a revista O Bondinho são algumas das publicações que refletiam esta tendência.

Em chamas!


O crime não é novo, mas a capacidade de nos indignarmos terá que ser sempre nova, renovada, sob pena de acelerarmos nossa volta à barbárie, abstraindo momentaneamente, pelo menos em termos teóricos, as implicações e causas sociais dos fatos. Já ocorreu em Brasília, Rio, São Paulo um crime semelhante ao que vitimou um morador de rua em um dos acessos à Estação da Lapa, em Salvador, na madrugada de sexta para sábado. Um grupo de quatro pessoas se aproximou da vítima com um recipiente contendo gasolina, derramou sobre o seu corpo o combustível e ascendeu com um isqueiro a tocha humana.

O homem ardendo desceu as escadarias da Estação clamando por socorro e foi ajudado por três policiais que faziam ronda no local. Sem água nas dependências da Estação, o que não surpreende quem conhece aquele inferno que é a Estação da Lapa e suas clamorosas deficiências, foi sugerido pelos policiais ao homem em chamas que se atirasse sobre a poça d’água ao pé de uma das escadarias como forma de amenizar a sua agonia e o desespero. Um dos policiais entrevistado e emocionado disse que em seus oito anos de serviços não tinha visto nada igual. Tudo que se tratar de afronta, degradação, desrespeito à condição humana terá que ser sempre novo, nunca visto, algo inaceitável; velha, antiga, medieval terá que ser sempre as punições para estes crimes.

Mas, como se diz, a mentira e o crime também têm pernas curtas. Dois dos bandidos ao derramarem o combustível sobre o corpo do indigitado, recebeu respingos do líquido em seus rostos e peitos. Ao ascender a chama receberam de volta também em seus corpos labaredas que queimaram partes expressivas de alguns de seus membros. Temendo alguma associação com o crime praticado foram para as suas residências e no outro dia pela manhã, visto o grau de queimaduras procuraram atendimento. Os atendentes da unidade hospitalar ao providenciarem o internamento de ambos informaram à policia sobre aqueles dois pacientes. Ali mesmo em seus leitos, frente a autoridade policial confessaram o crime, após negativa inicial, onde receberam voz de prisão. Os demais criminosos não demoraram ser identificados. A vítima, que era usuário de drogas, razão de ser morador de rua, foi enterrada ontem ante a revolta familiar.

Foto: Esta é uma das muitas fotos drámaticas da Guerra do Vietnã, em que crianças vietinamitas queimadas fogem do bombardeio americano a sua aldeia (1972).

terça-feira, 10 de julho de 2012

A Jovem Guarda que poderia ter sido.


As noites frias do inverno no sertão, quando o sono insiste em não vir aguardo a sua chegada sintonizando a Rádio Globo, Rio, e o programa do Beto Brito, o Planeta Rei, de meia noite às 03 horas da manhã. Além de bem produzido, boa programação musical é intercalado por muitas curiosidades em torno da música brasileira e seus personagens mais ilustres. Uma noite dessas fiquei sabendo que o programa Jovem Guarda da TV Record de São Paulo (esta não, a outra) que detonou a carreira do Rei e de tantos outros jovens cantores seria comandado pelo artista também jovem, Demétrius. O cantor Demétrius já tinha uma carreira consolidada, com sucessos nas paradas, a exemplo de Ritmo da Chuva e fazia com outros artistas como Cely Campelo, Ronnie Cord, Sérgio Murilo, Cleide Alves, Carlos Gonzaga a música jovem do país, influenciados por Elvis Presley, Bill Haley e os Cometas, Chuck Berry os papas daquilo que mais tarde chamaríamos de rockzinho antigo.

Mas, aí entra o acaso, o destino, a estrela de quem nasceu prá brilhar. O cantor Tony Campelo que era diretor e produtor de programas da TV Record resolveu investir em um cara que estava surgindo, carismático e com potencial para se tornar ídolo, vaticínio que se confirmaria com a escolha de Roberto Carlos, ao invés de se contentar com sucesso de quem tá tinha, no caso o Demétrius. O programa Jovem Guarda paralisava o público jovem aos domingos e que acompanhávamos por aqui pela TV Itapoan também aos domingos à tarde, através de videotapes da semana anterior. A nova atração da TV Record arrastou para a fama, a glória, o estrelato, o Rei, Erasmo, Wanderléa, Renato e seus Blue Caps, Golden Boys, Rosemary, Os Vips, Jerry Adriani, Trio Esperança e uma quantidade incalculável de novas vozes. E como em uma seleção natural os talentosos ficaram os nem tanto são lembranças, carreiras sem consistência, poeira de estrelas. O resto é história.

Foto: Demetrius (Posando de Elvis Presley)

Odvan, aquele zagueiro do Vasco.


O zagueiro Odvan teve uma participação brilhante no Vasco no final dos anos 90 e inicio de 2001, ao lado de Mauro Galvão. Odvan era daqueles zagueiros que não perdia a viagem, como se costuma dizer no jargão do futebol, entre a bola e o jogador um dos dois passa os dois não. Ganhou títulos importantes pelo Vasco e entrou para o folclore do futebol pela sua simplicidade e ingenuidade, atributos que os atacantes, seus adversários, nunca confiaram muito, tampouco suas canelas, vítimas constantes das investidas de Odvan.

Certa feita, sendo entrevistado por um repórter, destes que não se dão por satisfeitos com respostas do tipo “estou trabalhando forte para voltar ao melhor da forma física e técnica”, quis saber a origem de seu nome, já que não conhecia nenhum xará seu de nome Odvan. Foi aí que o mistério se desfez e a curiosidade do mundo do futebol foi saciada. Ele contou que quando nasceu um tio que era muito fã de Roberto Carlos sugeriu a sua mãe que colocasse o nome de Odvan, o que foi de agrado geral. Como o repórter, nenhum presente conseguiu estabelecer uma ponte entre o Rei e a palavra Odvan. Alí todos que acompanhavam a entrevista fizeram cara de paisagem por não entender a estranha associação, foi então que ele cantarolou a canção O Divã para espanto e alivio da plateia.

O tio de Odvan era apenas fã do Rei e pouco ou nada conhecedor da motivação daquela canção que acabou dando nome a seu sobrinho. O Divã é uma das canções mais tristes e sombrias do Rei, já que lembra suas sessões de análises, com um psicanalista e, toca de modo poético e por imagens um episódio tabu de sua infância e que ainda hoje parmanece oculto em sua biografia. O Rei perdeu a canela de sua perna direita em um acidente, quando brincava de “pongar e despongar” do trem em movimento. “Estas recordações me matam, por isso eu venho aqui”. Uma coisa Odvan se manteve fiel ao Rei, em sua carreira futebolística, a busca incessante pelas canelas de seus adversários. (Sacanagem. Desculpe Rei!).

domingo, 8 de julho de 2012

Em busca da verdade encoberta


Charge: Jean Galvão

Érico Brás, nas graças do Sul-maravilha.


É prazeroso ver um ator como o Érico Brás, que conheci no Bando de Teatro Olodum, em Salvador, ter a cada dia o reconhecimento de seu talento pelo centro cultural do país, o ex-sul maravilha, já que nós aqui de cima do eixo já havíamos constatado há muito tempo. Bastou a visibilidade de Reginaldo, seu personagem na mini-serie Ó pai ó, para Érico se firmar como um novo nome na dramaturgia nacional. Daí para Tapas & Beijos foi um pulo. Um pulo demorado após ralar algum tempo pelos palcos do Rio. Mas, mas valeu a espera, em que pese a cada vez menor participação nos episódios, bem como a de Flavio Migliaccio para abrir espaços para os caricatos e inexpressivos personagens de Fábio Assunção e Vladimir Britcha. Depois quando o movimento negro reclama, acham ruim!

Atualmente, Érico juntamente com a atriz Flávia Zillo protagonizam no Teatro Eva Herz, em São Paulo o espetáculo “O bom canário”. Bom sorte ao jovem talento baiano. Mais um!    

Marta!


A invenção da candidatura vitoriosa de Dilma Rousseff, pelo ex-presidente Lula, o deixou com a vaidade e arrogância para sair por aí desrespeitando lideranças do partido para impor nomes que só ele enxerga densidade eleitoral para vencer um pleito como a disputa pela Prefeitura de São Paulo. Esta mesma ingerência ocorreu em Recife e Belo Horizonte quando candidatos naturais, líderes em pesquisas de opinião, foram empurrados para fora da disputa para satisfazer caprichos personalistas do ex-presidente.

Mas, o caso mais gritante desta falta de educação democrática se deu mesmo em São Paulo, envolvendo a senadora Marta Suplicy e seus mandatos dentro do PT sempre a serviço da legenda. Liderando todas as pesquisas como a candidata mais representativa do partido na disputa paulista, Marta sequer foi ouvida pela opção de Fernando Haddad, nome imposto sem qualquer consulta partidária que na tora foram um por um aceitando passivamente a novidade como quem diz: "seja o que Deus quiser'. Marta pagou prá ver. Não assimilou a candidatura de Haddad, se omitindo na convenção que sacramentou seu nome, bem como da campanha que agora se inicia como quem diz “Tô fora! Quem pariu Mateus (aliás, Haddad) que balance”.

Bonita, rica, inteligente, cheia de sobrenomes quatrocentões Marta tem mais de 30 anos de serviços prestados ao PT. Perdeu a eleição de 2010 para Gilberto Kassab pela declaração imprevidente quanto a duvidosa masculinidade do atual prefeito; logo ela, mulher liberal, sexóloga, pisou feio na bola e pagou por isso. Desta vez a situação seria outra e com chances de vitória sobre o eterno candidato tucano, o vampiresco Zé Serra. Coisas da política.

ACM Neto é o candidato mais rico na disputa.


Segundo o jornal A Tarde, edição de hoje, ACM Neto, Grampinho, é o mais rico postulante à Prefeitura de Salvador, seguido por Nelson Pelegrino (PT) a léguas de distancia da baba carlista. De um patrimônio de R$2,541 milhões em 2010 como deputado federal em disputa também pela Prefeitura, Grampinho saltou para R$13,327 milhões, conforme declaração dada ao Tribunal Regional Eleitoral quando do registro de sua candidatura novamente ao palácio Tomé de Souza.

Uma beleza de evolução patrimonial desta monta nos faz lembrar um certo ministro da Casa Civil que sob alegação de uma empresa de consultoria, seus bens apresentaram em um ano um crescimento de 20 vezes, em quatro anos e que acabou demitido com a escandalosa riqueza de um consultor, em magia e ciências ocultas (ocultas demais!). No caso de Grampinho a evolução foi mais modesta 05 vezes e, segundo sua assessoria de imprensa foi conseqüência de “quotas da TV Bahia adquiridas em 2012”. Porque será que um cara, um político, com a solidez de um patrimônio assim, uma vida estável como empresário, se envolve em uma disputa desgastante por um cargo cujos problemas e dificuldades são tão evidentes? Deve ser idealismo, missão de servir a terra, coisa de escoteiro.

Trilhos/Terra Firme, o novo disco do Casuarina


Disco novo na praça é para os admiradores do grupo carioca Casuarina motivo de curiosidade e satisfação. A curiosidade vem do fato de que desta vez os jovens sambistas se dedicaram à concepção de um trabalho autoral, com músicas próprias, ao contrário de várias boas leituras de sambas de autores consagrados em seus trabalhos anteriores, intercalados com composições do grupo. Desta vez não há releituras da obra de João Nogueira, Adoniram Barbosa, Ataulfo Alves, Sérgio Sampaio, Novos Baianos, Sidney Miller, que mesmo fartamente conhecida o Casuarina imprimiu originalidade nas interpretações. O Canto do Trabalhador (João Nogueira) Já fui uma brasa (Adoniram Barbosa) Velho Bandido (Sérgio Sampaio) Swing do Campo Grande (Novos Baianos) ganham fôlego e ar de novidade em suas vozes

Em dez anos de carreira o Casuarina lança agora Trilhos/Terra Firme, tendo a companhia de bons letristas para os seus compositores e vocalistas, João Cavalcanti e Gabriel Azevedo, mostrarem que o samba não se aprende na escola, mas desperta como um caso de amor e identificação se tornando paixão. Numa primeira audição as melodias chegam a parecer já ouvidas, cantadas ou compostas por outros autores, mas é só impressão, já que daí em diante fica a convicção de que os caras já dominam o trabalho de composição. É prazeroso ouvir Trilhos (Gabriel Azevedo), Terra Firme um belo samba do João Cavalcanti que remete a Paulinho da Viola, Murmúrio (João Fernando) é outro exemplo da qualidade do repertório, provavelmente o mais bonito samba do disco e, por ai vai até Vaidade uma parceria dos compositores e vocalistas João Cavalcanti e Gabriel Azevedo. Samba dos bons, samba de bamba.

sábado, 7 de julho de 2012

O meu corrupto é menos pior que o seu!


Quando Lula, querendo arrastar seu candidato à Prefitura de São Paulo para as páginas dos jornais e alguma ascensão nas pesquisas de opinião, se reuniu com Maluf numa desastrada e incompreensível parceria política, não conseguiu pontos percentuais nas pesquisas, mas para a mídia tucana paulista, foi o prato. Editorialistas, chargistas, colunistas tiveram e têm assuntos e personagens para todo um ano, já que a besta fera da lama política nacional está de braços dados com a mais notória liderança popular do país.

Mas, como neste terreno não há mocinhos, nem heróis, tudo se igual na indigência política e moral da mesmice, os tucanos, o sal da terra da moralidade pública, escancararam as portas das mansões quatrocentonas para receber o apoio político do ex-ministro Alfredo Nascimento defenestrado do governo Dilma, por suspeita de corrupção no Ministério dos Transportes. A corrupção dos outros é inaceitável, a nossa se empurra prá debaixo do tapete com a conivência da mídia amiga, com o argumento cínico do eterno candidato a presidência, Zé Serra, que não fez acordo com pessoas, mas com o partido. Ah, sim!      

O horário político da TV Bahia, já começou.


A freqüência com que a TV Bahia da família Magalhães e da qual Grampinho, hoje, é a mais proeminente e única flor do DEM(o), diariamente produz e veicula reportagens sobre a interminável greve dos professores estaduais. Nada demais em termos jornalístico. É noticia, ainda que requentada e insistentemente mostrada com objetivo mais político que propriamente informativo. Como a propaganda eleitoral, nas emissoras de rádio e televisão, ainda não começou oficialmente, a TV Bahia da qual o pai de Grampinho é um dos donos e diretor, busca subliminarmente, em um trabalho sujo, desgastar a imagem e a administração do governo do estado cujo candidato à Prefeitura de Salvador é adversário do candidato da TV Bahia. Simples, não.

Não há recurso a ser interposto visto que a alegação de conteúdo jornalístico pode ser invocada a qualquer momento em caso de alguma reação dos partidos que se sinta prejudicados e até beneficiados com as tais “reportagens”. Além da absurda passagem dos dias em greve, são entrevistados alunos inconvincentes em seus protestos pela falta de aulas, professores transtornados querendo mais do que ensinam e do que merecem, autoridades estaduais inflexíveis em seus argumentos contra um aumento além do concedido, pais de alunos acampados em locais públicos clamando por uma educação que foram incapazes de dar aos seus filhos, enfim um jogo falsamente informativo mais politicamente positivo para Grampinho e seus rodapés mais próximos.

Se Grampinho e sua obsessão desmedida rumo à Prefeitura de Salvador, dentro do figurino moldado pelo “velhote inimigo que morreu ontem” ganhará alguns dividendos eleitorais, só o andar da carruagem, dos debates, dos carros de sons, dos comícios, das carretas dirá.

Charge: Borega

sexta-feira, 6 de julho de 2012

Os olhos e ouvidos da ditadura


Foi divulgado esta semana pelo Arquivo Nacional centenas de fotografias do acervo do Serviço Nacional de Informação - SNI, os olhos e ouvidos da ditadura militar, flagrando pessoas públicas em manifestações pela anistia.  Visto agora, tanto tempo depois, pode parecer uma inutilidade típica de certos servidores públicos, cuja função nada inocente era bisbilhotar a vida privada de atores, cantores, jornalistas, cidadãos em geral em atividades próprias de regimes democráticos, mesmo não vivendo em um, mas agindo e tentando abreviar aquela escuridão repressiva dos militares.

No flagrante acima, Milton Nascimento em uma concentração na Cinelândia é apenas uma das mais de 5.000 fotografias disponibilizada pelo Arquivo Nacional. A que serviria estes flagrantes não é um exercício de difícil constatação, visto o terrorismo surdo que o estado espalhava em nome de uma Segurança Nacional que nada mais era que a manutenção do arbítrio, da violência, do medo institucionalizado. Apodreceram, caíram, mas não serão esquecidos, já que depositamos na Comissão da Verdade a esperança de que os torturadores sejam enfim identificados e se possível julgados, punidos pelos crimes cometidos contra a dignidade humana.

As contorções de um travesseiro em transe


Na infância acompanhei meus pais em alguns de seus deslocamentos a JuazeiroBahia. Meu pai, Pedro, viajava em missão comercial, buscando suprimentos para o seu armazém de secos e molhados, enquanto Mãe Maria procurava atendimentos médicos e visitava familiares. Em uma destas visitas machucou uma prosaica calosidade em seu dedo mindinho do pé esquerdo que por pouco não lhe custou a vida. Uma simples inflamação descambou rapidamente para um caso de tétano, requerendo uma intervenção cirúrgica de emergência, para amputação do dedo lesionado, sem os regulares exames pré-operatórios. Realizada a cirurgia e logo após os exames de laboratórios, contrariando a lógica para estes procedimentos, algo impensável nos dias de hoje, constatou-se um elevado índice de glicemia, tornando imprópria a intervenção cirúrgica. Mãe Maria era diabética. Mas, o estrago já estava feito e só restava a equipe do Hospital de Juazeiro, tendo à frente Dr. Muccini o inicio de uma luta contra a amputação de uma área maior do pé, ou todo o pé, pela difícil e talvez impossível cicatrização do pequeno local onde se deu a intervenção. Foram dias de tensão e de acompanhamento da dedicação de uma equipe médica que comovia e despertava a atenção de toda a unidade hospitalar pela tentativa de debelar um processo de necrose que se avizinhava, devido ao elevado percentual de açúcar no sangue de Mãe Maria. Enfim, a possibilidade de perda foi contida e o que se deu na área amputada, necessária pela celeridade da necrose, não impediu a sua locomoção e o uso de sapatos, alpercatas, sandálias ou tudo aquilo que a sua vaidade, que nunca teve, sinalizasse.

Essas lembranças infantis que vivi sem atentar para a gravidade porque passava Mãe Maria e que só era percebida pela expressão de familiares, quis reviver muito tempo depois, já nos anos 70, voltando a Juazeiro. Não por qualquer semelhança com o angustiante quadro clinico presenciado, mas pela cidade, pelo Rio São Francisco, a ponte, Petrolina, o apito do vapor, o movimento de uma cidade grande e bem diferente daquela onde vivíamos e que foram gravados por meus olhos de menino.

Em Piritiba, de férias da escola e do banco, para chegar até Juazeiro teria que ir a Jacobina e de lá embarcar em um ônibus no final de cada tarde. Passei praticamente o dia em Jacobina tendo me hospedado no Hotel Brasil, hoje transformado em uma das muitas casas comerciais do moderno calçadão da cidade. Após o almoço, me recolhi ao quarto onde estava hospedado, coloquei o travesseiro na cabeceira e me recostei para a leitura de um jornal ou revista que sempre me acompanharam. De vez em quando sentia que algo se contorcia em minhas costas, em um movimento esporádico, mas que despertou a minha atenção. Cada vez que comprimia minhas costas contra o travesseiro sentia que estas contorções aumentavam bem como a desagradável sensação de que havia alguma coisa viva sob a fronha. Pulei da cama, fitei o travesseiro e fui em busca de alguém da limpeza do hotel para me ajudar na tarefa de descobrir qual era o exu escondido debaixo dos panos. O auxiliar de limpeza entrou no quarto e sem esboçar nenhuma surpresa jogou o travesseiro na área em frente ao quarto e começou uma sessão de paulada sobre o mesmo. Logo nas primeiras bordoadas sobre a fronha branca o travesseiro foi adquirindo uma coloração vermelha encharcando de sangue quase toda sua extensão. Finalmente foi apresentado o causador do meu desconforto: um rato de esgoto bigodudo e sarado que poderia ser confundido com um preá, tal as suas dimensões.

Embarquei em direção a Juazeiro tendo a impressão de estar sentindo arrepios, febre, frio, a um passo da leptospirose. Foi só impressão e não um sonho como quem se acorda de um pesadelo.