sexta-feira, 30 de agosto de 2013

Morra! Renasça!

Sou mais ouvinte que leitor do Blog do Noblat, por razões ideológicas, preferências e crenças políticas.  Explico. No blog do jornalista há um link que lhe conduz ao Jazz e Tal, uma seleção primorosa de grandes nomes da música brasileira e americana, rock, Beatles, músicas de filmes, Elis, Tom, Chico, Milton, Caetano, música clássica, enfim, tem para todos os gostos. Dia desses ouvi no Jazz e Tal uma música do disco Índia de Gal, em 1973, de autoria de Caetano e Pedro Novis, chamada Relance que havia tempo não escutava, o que me remeteu aos velhos arquivos musicais e voltar a ouvir Relance

A canção é um curioso jogo de palavras a partir da primeira pessoa do presente do subjuntivo de vários verbos que traz às vezes o seu oposto em frases como quebre – requebre, cite – recite, toque – retoque, vele – revele e assim sucessivamente até o seu desfecho com o curioso “morra – renasça”. Relance tem um ritmo frenético pontuado pelo endiabrado acordeom de Dominguinhos, figura de destaque neste disco também pelo arranjo de Desafinado, que conduz a um final apoteótico onde Gal exibe os seus privilegiados agudos e leva a dúvida, ainda hoje, se em alguns momentos palavra cantada é “morra” ou “p....”, o que para os dias que vivíamos era mais que pertinente o palavrão.

Índia, este disco de Gal, é uma espécie de acerto de contas, um “tô fora” do conceito de musa do desbunde, da contracultura que assumiu desde os primeiros discos tropicalistas, onde os agudos, os gritos, a rebeldia nos gestos e nas roupas foi dando lugar a cantora extraordinária cuja formatação já se delineava neste disco e se confirmaria no seguinte, Cantar, um dos grandes momentos da música brasileira. 

Não que antes de Índia, a baiana fosse uma cantora sem rumo, uma Janis Joplin tupiniquim, uma rebelde sem causa, nada disso, ao contrário, a postura cênica e musical de Gal servia ao momento político e na medida do possível expressava um descontentamento que era avalizado pelo seu “alter ego”, Caetano e por tabela Gil, ambos exilados em Londres. Mas a vida era mais que isso e, Gal era uma cantora popular e não uma guerrilheira e a cada um conforme suas armas. “Tempo bom,  tempo ruim”.

Foto: Gal Costa (Contracapa do disco Índia)

quinta-feira, 29 de agosto de 2013

Da Câmara para a Penitenciária da Papuda.

Só mesmo um poder desacreditado, com a envergadura moral de uma galinha poderia protagonizar cena de tão explicito ridículo em doses cavalares e constrangedoras de cinismo. Um deputado preso e condenado em todas as instâncias em que foi julgado, Natan Donadon (PMDB – RO), recebeu do STF a pena de 13 anos por desvio de recursos da Assembleia Legislativa de Rondônia foi absolvido pelos seus iguais na votação pela perda de mandato de deputado federal, ontem no plenário da Câmara dos Deputados.

Presente à sessão em que seria decidida a cassação de seu mandato, o deputado-presidiário (uma redundância como se vê, pois eles, os parlamentares, são potencialmente presidiários) como um ator canastrão representou sem qualquer convicção seu papel de “coitadinho”. Chorou, se ajoelhou, jurou inocência, mostrou as marcas das algemas, reclamou da boia da carceragem e tocou fundo os corações dos acanalhados representantes do poder legislativo que comovidos lhes pouparam o mandato.

Mais uma razão entre tantas para minar este penduricalho do sistema democrático em nosso país, não desperdiçando o seu voto com esta pilantragem que envergonha e desonra a atividade parlamentar, conduzida com alguma dignidade, a duras penas quem sabe, por menos de 10% de uma enorme organização criminosa de 513 membros. 

Foto: O deputado entre assessores 

O povo não é bobo, vendo ou não a TV Globo.

O mês passado uma grande passeata e concentração em frente a sede da TV Globo, no Rio, protestava contra o monopólio da mídia e pedia a democratização dos meios de comunicação. Amanhã, 30.08.13, novos protestos estão programados contra a emissora do “Plim Plim” e o seu nefasto domínio da informação. Entre outras bandeiras que conduzirão a marcha anti-Globo estão a instalação de uma CPI para apuração das denúncias de sonegação do conglomerado global, respeito à cultura e a regionalização da produção, fim das licenças para TV e rádio de políticos corruptos, garantia de uma internet livre etc.

Lembro que nestas últimas manifestações em que ataques foram dirigidos a TV Globo, uma repórter que transmitia as manifestações de um modo mais amplo e generalizado fez, no ar – ao vivo, referência a este fato, dos protestos contra a emissora, o que causou espanto pela fidelidade aos acontecimentos, naquele instante, algo que a emissora nem sempre prima em suas matérias jornalísticas É bom acreditar que “o povo não é bobo”, vendo ou não a TV Globo.

Fonte: Blog Viomundo

É a poesia necessária? A de Manoel de Barros é.


O rio que fazia uma volta
atrás de nossa casa
era a imagem de um vidro mole...

Passou um homem e disse:
essa volta que o rio faz...
se chama enseada...

Não era mais a imagem de uma cobra de vidro
que fazia uma volta atrás da casa.
Era uma enseada.
Acho que o nome empobreceu a imagem.

Autor: Manoel de Barros

Tijolo com tijolo em paredes flácidas.

Não é necessário ser engenheiro, arquiteto ou mestre de obra para perceber que a partir dos destroços do prédio que veio abaixo no bairro São Mateus, em São Paulo, havia alguma ou muita coisa errada naquele amontoado de placas de cimento e ferros retorcidos. Para uma estrutura pesada como aquelas lajes dos pavimentos que desabaram não se podia esperar que aquelas colunas, as poucas que ficaram de pé ou mesmo a maioria que se espatifou junto com toda a obra, pela sua pequena dimensão na largura e pelos vergalhões e ferros que mais pareciam arames, podia se prever que o desmoronamento era o que de mais concreto havia em torno da construção.

Além de perderem seus familiares, as famílias terão nestes primeiros momentos seu sofrimento dimensionado pelo jogo de empurra entre a construtora, a empresa responsável pela supervisão da obra, a prefeitura e a justiça que não determinou o embargo da construção pedido pela prefeitura. Tão grave quanto tudo isto só mesmo o Ministro Edson Lobão explicando as causas do apagão da tarde de ontem em todo Nordeste que deixou às escuras todas as capitais e a maioria dos municípios de seus estados. 

Em situações semelhantes, já que os apagões não são mais novidades, mas quase rotina, o ministro se mostra tão perdido e desinformado, como quem não teve tempo de decorar o script, assim como os engenheiros trapalhões responsáveis pela obra que desabou em São Paulo. A omissão ou a confissão de culpa, improvável, seria o melhor nesta hora de tanta desorientação. “A resposta é o silencio que atravessa a madrugada”.

Foto: Ilustrativa do apagão 

quarta-feira, 28 de agosto de 2013

Quem sabe o próximo será o nosso.


A exemplo do que já ocorre em Brasília, Rio e São Paulo, foi inaugurado ontem, 27 de agosto de 2013, o Centro Cultural Banco do Brasil, o CCBB, de Belo Horizonte com as mesmas propostas culturais já implantadas naqueles centros e sua principal característica e função. Promover eventos nas áreas de artes cênicas como teatro, dança e ópera, além de cinema, exposições, ideias, música e educação, oferecendo às populações destas cidades intervenções artísticas e do pensamento da melhor qualidade a custo zero.

Em Salvador já dispomos do Centro Cultural da Caixa com uma política cultural semelhante, em que pese as limitações do espaço e a crescente descoberta pelos aficionados de uma programação disponível sempre de elevado conceito. Esperemos que o próximo CCBB seja em Salvador, dotando a cidade de mais este equipamento cultural, levando em conta a sua importância e visibilidade histórica no contexto nacional. Vários espaços, para instalação do CCBB poderão ser apresentados à direção do Banco para escolha, visto a quantidade de prédios tombados pelo Patrimônio Histórico na cidade, sem uso e o pior sem conservação, sendo que o escolhido deverá passar por reforma semelhante a sofrida pelo bonito casarão do CCBB de Belo Horizonte. Torçamos para o receber o próximo CCBB.

Foto: CCBB de Belo Horizonte

Salve, salve os cubanos!


O Ministro Joaquim Barbosa está fazendo escola, não pelo seu saber jurídico, mas pelo não saber conviver com o seu dessemelhante, com os que não rezam pelo seu catecismo e se opõe às suas decisões e julgamentos. Mas, o paladino da moral e dos bons costumes, o candidato preferencial dos politizados dos shoppings center, das clientes louras das lojas fashion da Delfim Moreira, da Oscar Freire ou do Caminho das Árvores, dos colunistas e palpiteiros do "facebook", não está sozinho nas diatribes e grosserias, na deselegância e incivilidade de seus gestos.

Agora são os nossos médicos, os nossos doutores, a turma do guarda-pó branco que se insurge de modo despropositado e mal-educado contra os seus colegas cubanos, pela suprema heresia de poderem estar onde eles, nossos médicos, relutam em viver, por não quererem trocar seus condomínios e apartamentos à beira-mar, os restaurantes colunáveis das grandes cidades, as academias de ginásticas, a aragem de sargaço e mar do litoral pelos grotões desassistidos do nosso imenso país. E partem para agressão, a descortesia com aqueles que provêm de um pequeno país, com problemas conhecidos, por dificuldades financeiras e odiosos bloqueios econômicos, mas portadores de uma medicina que se não é, já foi referência para países como nosso, não só pela excelência de seu ensino, como pelas pesquisas desenvolvidas no tratamento de certas doenças. 

Salve, salve os cubanos sim, não somente por serem parte de uma formação oficial em um ensino acadêmico e em qualquer outro nível sob as rédeas do poder central, independente, no momento, de qualquer pensamento crítico sobre o governo cubano, são bem-vindos os cubanos, voluntários ou não, nesta cruzada de solidariedade humana em que o egoísmo e o partidarismo político de nossos médicos se sobrepõe a gestos de grandeza humana.

Foto: Chegada dos médicos cubanos

Globo Esporte Clube Bahia



Creio que como qualquer rubro-negro também reluto em assistir o Globo Esporte local, produzido pela TV Bahia e exibido no mesmo horário em que a Globo transmite a sua edição nacional. Há um misto de asco e irritação que só não é maior porque felizmente sua duração é mínima, menor, 25 minutos e, ocupado também por reportagens de interesse nacional, gerado pela emissora mãe, a TV Globo. O seu apresentador, por aqui, já inspira falsidade, a parcialidade vem depois, até no nome, pois pouco provável que seja mesmo Thiago Mastroiani, ao invés do demérito (para ele) de ser da Silva, ou dos Santos ao se apropriar como alcunha artística o sobrenome do grande astro italiano dos anos 60, 70.

Em nenhum momento se percebe ali um jornalista esportivo, um apresentador, mas um reles integrante de um bando corintiano em termos de ferocidade e inconsequência, mas próximo mesmo de sua fidelidade clubística, a organizada e fora da lei, Bamor. É patético ver o sorriso, a alegria, o contentamento do “pau mandado tricolor” com as pífias conquistas de seu clube a cada rodada do Brasileiro, e a subversão de verdades por convenientes comentários a incensar o time cuja mediocridade, limitação é constatada pela própria diretoria do clube. 

Já o que não lhe diz respeito, como deveria, sobra a acidez de suas observações e o regozijo pelos tropeços adversário exibido em dissimulados risos de canto de boca e escancarados com a intervenção bizarra da dupla Jahia e Vicentino, ridículos como o próprio programa e seu apresentador. 

Foto: Thiago Mastroiani e Patricia Abreu

terça-feira, 27 de agosto de 2013

Dossiê Jango.

Por um erro de informação que imaginei ter lido ouvido em algum jornal ou noticiário esperava assistir, desta última vez que voltei a Salvador, o documentário “O que fui nunca escondi” sobre Geraldo Vandré, figura emblemática da música brasileira engajada, do final dos anos 60 e, inimigo preferencial dos militares golpistas no meio musical. Mas não perdi a viagem se o caminho era mesmo um outro personagem preferencial dos militares golpistas que foi o ex-presidente João Goulart, através do documentário o Dossiê Jango do diretor Paulo Henrique Fontenele que joga luz nas trevas que ainda hoje envolve a morte do político brasileiro exilado na Argentina e Uruguai desde a sua deposição.

Como todo documentário, o Dossiê Jango parte de entrevistas com políticos, jornalistas, historiadores e familiares como o seu filho João Vicente para ir costurando a trajetória do ex-presidente desde a sua saída do Brasil até a sua morte no exílio. A ditadura implantada por aqui, em 64, foi se alastrando como uma praga diabólica por países do cone sul como Chile, Argentina e Uruguai, além da Bolívia que já amargava seu destino ditatorial, o que tornava a vida de exilados brasileiros nestes países uma temeridade, um permanente risco de vida. Muitos foram para Cuba, Argélia, países europeus outros ficaram alimentando que a situação de nosso país logo se resolveria e o Brasil retomaria o caminho da redemocratização. Esperaram tanto, esperaram muito e perderam a vida.

O ponto central do documentário é a quase certeza de que Jango foi em verdade envenenado e não vítima de um infarto como atestaram as autoridades argentinas num sepultamento feito às pressas, sem autopsia como a esconder algo que o tempo vai revelar. Jango teria sido vitima da Operação Condor, idealizada pela CIA americana e posta em prática pelas ditaduras do Cone Sul com o propósito de monitorar e em alguns casos eliminar opositores destes regimes ditatoriais no Brasil, Chile, Argentina e Uruguai, com a participação de agentes militares destes países.

A Comissão da Verdade já pediu a exumação do corpo de Jango e os relatos e depoimentos contidos no documentário Dossiê Jango podem servir de subsídios importantes na elucidação do assassinato do ex-presidente, bem como na punição de militares brasileiros envolvidos na nefasta Operação Condor. O que fui nunca escondi!

Foto: Jango

segunda-feira, 26 de agosto de 2013

O silêncio como mercadoria.



Entre outros indicadores pouco edificantes, Salvador ostenta o nada honroso título de a capital mais barulhenta do país. E não são somente os carros de som que se multiplicam nas imediações de bares e barracas de praia, mas o vizinho do andar de cima de quem muitas vezes o vizinho de baixo é obrigado a privar de seus gostos musicais, dos filmes que assiste, as idas e vindas sobre os saltos dos sapatos, das conversas em volta da mesa e até dos gemidos e sussurros debaixo dos lençóis da alcova. Sem saída e sem nenhum interesse em participar deste “samba do criolo doido” do andar de cima restou ao vizinho incomodado dotar o seu apartamento de um revestimento acústico que lhe permitisse viver em paz, desfrutando do seu lar, em silêncio.

A Superintendência de Controle e Ordenamento do Uso do Solo – SUCON é o órgão responsável a quem se deve recorrer para denunciar ou coibir estes esporros sonoros viu passar de 20 mil reclamações em 2011para 69 mil em 2012 e, já acumula em 2013 mais de 33 mil queixas, o que significa que o desassossego cresce numa escala geométrica. A policia é acionada, o silêncio se instaura, mas quando as viaturas se afastam o pagode, o arrocha e agora o funk abundam o ar como uma tubulação de esgotamento sanitário que explodiu, empestando o ambiente.

Fonte: Revista MUITO - A Tarde

Beijando o sapo até virar príncipe.


Não ia meter a colher neste angu corintiano até porque não sou torcedor do clube, ao contrário, e por quem sinto grande antipatia e rejeição, mesmo sentimento que me desperta, com a mesma intensidade, o Barcelona de Itinga. Não propriamente pelos clubes em si, mas pelos bandos que se cercam dos mesmos travestidos de torcedores. 

Mas, a motivação do comentário que felizmente não fiz diria respeito à atitude do jogador Emerson Sheik, e o tal beijo em seu amigo num restaurante, que poderia ser considerado como um gesto de coragem em um meio nitidamente machista e homofóbico se revelou um comportamento característico dos pusilânimes. Pressionado pelo bando corintiano foi obrigado a desdizer o que foi dito e feito, pelo difuso comentário de que o futebol é “coisa de homem” não se prestando para demonstrações de afeto, nem para levantar bandeiras contra a homofobia. “Coisa de homem” que o bando não assumiu quando assassinou o jovem boliviano numa partida pela Libertadores, se escondendo em um improvável réu confesso, de menor, numa armação que revela mais a culpabilidade que propriamente uma impossível inocência do bando preso.

Quanto ao Shiek, além de ficar de quatro para o bando corintiano ainda atacou quem nada tinha a ver com suas preferências sexuais, se confessando não ser “são-paulino”, mas homem, algo que nem ele mesmo acredita e o beijo no amigo não tenha sido mesmo um simples e inocente selinho, mas de língua.

Foto: Emerson Sheik e amigo.

domingo, 25 de agosto de 2013

Conversas prá boi dormir

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Charge: Simanca

Que onda, que festa de arromba!

Nesta altura do campeonato um artista se debruçar sobre as canções do Rei para montar o repertório de seu mais novo disco, pode parecer “mais do mesmo”, já que músicas datadas, gravadas e regravadas a exaustão não deve despertar qualquer intenção ou interesse em ouvir. Não deve ou deveria, pois não é o que acontece com o mais novo disco de Lulu Santos, o álbum Lulu canta & toca Roberto e Erasmo, obviamente com as canções do Rei e seu amigo de fé e irmão camarada, o Tremendão.

A curiosidade se estabelece na primeira faixa em que as Curvas da estrada de Santos ganha um arranjo meio blues e segue esta mesma pegada em Minha fama de mau, rockzinho “das antigas” e sucesso de Erasmo, já regravado também por Rita Lee. A criatividade do guitarrista competente como Lulu Santos se manifesta em Se você pensa com um clima de xaxado sem triangulo, sanfona ou zabumba, mas igualmente contagiante. Outros resgates de sucessos do Rei são bem sucedidos como Eu te darei o céu, Não vou ficar e Quando, pois aparecem com novo revestimento sonoro, graças aos arranjos da banda para o disco, assim como são bem-vindos os rocks e baladas antigos sucessos de Erasmo como Festa de arromba, Sentado a beira do caminho, Sou uma criança, não entendo nada. Despretensioso, mas bom de se ouvir, pois longe do óbvio, do previsível.

Foto: Lulu Santos

Viver é melhor que sonhar!

Quando o “pau quebrou”, principalmente após a edição do Ato Institucional Nº 5, em dezembro de 68, quando a juventude que tomava as ruas do país se viu acuada pelas forças da repressão buscou caminhos diversos. Muitos abraçaram a luta armada, o tal rabo de foguete de que nos fala “O Bêbado e o equilibrista”, outros caíram de boca nas drogas, no baseado, no barato, na contracultura e outros tantos, simplesmente, piraram. Os que desbundaram seguiram o canto de sereia do movimento hippie e da contracultura que se espalhava pela juventude americana desiludida e contrária a Guerra do Vietnã, assim como os jovens europeus sufocados pela falta de perspectiva em seus países.

Por aqui, uma das comunidades hippies mais conhecidas foi a de Trancoso, em Porto Seguro e em especial Arebempe, onde por lá passaram Janis Joplin, Mick Jagger, Novos Baianos e muitos adeptos da “paz e do amor”, de “plantar e colher com a mão a pimenta e o sal”, uma vida contemplativa cercada pela natureza, alimentação natural, o amor livre, o rock e a maconha. Muitos dos que por lá passaram hoje são executivos, jornalistas, artistas plásticos, profissionais liberais bem sucedidos como Pink Wainer ou o desbundado José Simão

A Revista da Cultura, recentemente, fez uma reportagem em que identifica muitos participantes destas comunidades e que hoje exercem funções de ponta dentro do sistema capitalista tão combatido por seu viés mais critico, o consumismo desvairado. A artista plástica Pink Wainer, filha da colunista Danuza Leão e do lendário jornalista e exilado político Samuel Wainer, morou por muito tempo em Arembepe onde encontrou o Zé Simão fazendo e vendendo artesanato. Segundo ela, “no movimento hippie ninguém lutava para derrubar a ditadura, mas, de certa forma, estava tentando derrubar caretices mais universais”. 

Parece que o tempo tem mostrado que derrubar ditaduras não é tão difícil, quanto a luta contra a caretice e todos os seus desdobramentos, como o preconceito, a intolerância, o egoísmo,  males que seguem a sua trilha neste Século 21.

Foto: Festival de Woodstock - 1969