sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Eparrei Iansã!

Começa hoje o ciclo das festas populares de Salvador, com as homenagens a Santa Bárbara ou para o povo de santo, a poderosa Iansã, rainha dos raios e das tempestades. Às seis horas da manhã os foguetes já espocavam anunciando a festa que logo mais irá começar se espalhando por todo o Largo do Pelourinho, Igreja Nossa Senhora do Rosário dos Pretos, Mercado de Santa Bárbara, Taboão, inicio da Ladeira Além do Carmo e mais espaço que houver. De longe parece um ensaio do Salgueiro, tal a profusão das cores vermelho e branco, as cores de Iansã, mais especificamente o vermelho.

Disse de longe, e é ao pé da letra mesmo, já que é sempre bom manter uma distancia regulamentar entre os seus pertences e a muvuca profana, já que a vagabundagem que de santo não tem nada, muito pelo contrário, barbariza ante aos desatentos ou que se inebriam rapidamente com os batuques e os cânticos de louvor. Estava trabalhando na Rua Chile em um escritório de advocacia e tinha que fazer uma diligência no Centro Empresarial Iguatemi.  

Na volta peguei um ônibus para o terminal da Barroquinha e de lá seguiria para o escritório. Ao chegar no Aquidabã, o trânsito estava interrompido pela passagem da procissão de Santa Bárbara em toda extensão da Baixa dos Sapateiros. Desci, como os demais passageiros, e fui caminhado ao longo de toda avenida. Ao chegar próximo do mercado de Santa Bárbara parei para presenciar a chegada do andor da santa no ponto comercial que leva seu nome. 

Não devia. Aos poucos fui sendo comprimido de encontro à parede de uma loja que já havia cerrado a suas portas temendo o pior. E o pior era a multidão sempre crescente ao meu redor que inviabilizava qualquer possibilidade de sair dali, naquele momento. Restava proteger a pasta com os documentos que carregava e a carteira de cédulas, (sem cédulas) no bolso traseiro da calça. Achava que os vinte reais que estavam no bolso frontal da lateral esquerda da calça estivessem seguros, em vista da profundidade do mesmo. Ledo engano. 

Consegui sair, assim como os vinte reais do bolso profundo da calça, pelas hábeis mãos do grupo de maloqueiros que me cercava sem que eu pressentisse sua intenção. Se fosse um vagabundo gay teria me bolinado à vontade que do mesmo modo nada veria ou sentiria. Estava manifestado. Eparrei Iansã!

Foto: Ilustrativa

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