quarta-feira, 16 de março de 2016

Ora pro nóbis


Caymmi cantou que a “Bahia tem 365 igrejas”, mas, creio que a informação seja apenas um recurso poético e de estilo, que propriamente um dado estatístico. A ser verdade o dado musical de Caymmi, não chego a conhecer nem 10% deste contingente de templos religiosos espalhados pela cidade, apesar de morar por aqui há tanto tempo e frequentar com certa regularidade estes locais sagrados, que na verdade já foi bem maior, esta frequência.

Das igrejas que conheço tenho predileção pela Igreja de São Bento, na ladeira de mesmo nome. Ela foge àquele padrão de estilo que privilegia o ouro e a ostentação em linhas barrocas como marca do poder da igreja e do agrado do colonizador, numa demonstração de força e poderio que já desfrutou a Igreja Católica.

A Igreja de São Bento representa um majestoso templo de linhas arquitetônicas neoclássica, despojada em suas colunas e altares sem brilho, a ausência daqueles santos e anjos rechonchudos, coloridos, embora esteticamente belos. Não que a Igreja de São Bento exiba uma pobreza franciscana que nos apiede e comova, ao contrário, esta simplicidade de sua arquitetura de origem clássica, mas que virou na medida de sua construção ao longo dos anos, uma bagunça estilística de difícil catalogação, dá sentido a sua beleza e a sua imponência.  

As suas missas, em especial as de domingo pela manhã e ao final da tarde, eram e ainda são assistidas por uma grande maioria de fieis, em especial jovens, em parte atraídos pelo coral de canto gregoriano dos Monges Beneditinos. Mesmo sem entender uma palavra sequer destes cânticos em latim, sente-se que são reverências de amor e temor a Deus, em momentos de reflexão e paz. 

A Igreja de São Bento, nas passeatas estudantis do final dos anos 60, mantinha as suas portas sempre abertas para que a estudantada lá se refugiasse quando perseguida pelos milicos e seus cassetetes ameaçadores. Pagaram um preço por isso, mas ganharam o reconhecimento de tantas cabeças grisalhas, jovens à época, que se fazem presentes em todas estas celebrações. Cantar no Coral de Jovens do Mosteiro de São Bento era uma glória que poucas vozes alcançavam e, por muitas tentadas, sem sucesso, como a minha.  

Foto: Igreja de São Bento

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