Depois do Pequeno
Príncipe, os primeiros livros que li foram Cadeira de balanço, de Carlos
Drummond de Andrade e Ai de ti,
Copacabana, de Rubem Braga que
se tornaram responsáveis pela instituição da crônica como gênero em nossa
formação literária e assim permanecem. Drummond,
no entanto deu passos adiante em seu versejar universal até ser considerado um
dos nossos maiores poetas desde Gregório
de Mattos.
Mais de 30 anos depois voltei a ler “Ai de ti, Copacabana”, de Rubem Braga, através de um exemplar
retirado na biblioteca do Morro do
Chapéu. O prazer da leitura despertado pelas crônicas do segundo filho mais
importante de Cachoeiro de Itapemirim -
ES, o primeiro é o Rei, continua
o mesmo, onde a simplicidade de fatos do cotidiano são transformados em belas
lições de humanismo e valorização da vida. As crônicas que era e são pequenos
relatos de acontecimentos diários abrigados nas páginas dos jornais, ganharam
status literário através da singeleza e momentos de rara poesia pelo cronista Rubem Braga.
O documentário Rubem Braga – olho nuvens vagabundas, visto recentemente no Canal Brasil traz depoimentos de amigos
e pessoas que conviveram com ele em relatos curiosos e bem-humorados que
revelam a sua docilidade de espírito, uma ingenuidade quase infantil
aprisionada em um sujeito carrancudo, cara de poucos amigos e movido a doses e
doses de uísque. Do alto de sua cobertura em Copacabana cuja vista para o mar foi se perdendo à medida que a
especulação imobiliária ia erguendo suas palafitas chiques, como uma muralha
frente ao Atlântico, o velho Braga praguejou contra a outrora “Princesinha do mar”:
“Ai de ti, Copacabana, porque a ti
chamaram Princesa do Mar, e cingiram
tua fronte com uma coroa de mentiras; e deste risadas ébrias e vãs no seio do
noite”.
“E os escuros peixes nadarão nas tuas ruas e a
vasa fétida das marés cobrirá tua face; e o setentrião lançará as ondas sobre
ti num referver de espumas qual um bando de carneiros em pânico, até morder a
aba de teus morros; e todas as muralhas ruirão”
“Ai de
ti, Copacabana, porque os badejos e as garoupas estarão nos poços de teus
elevadores, e os meninos do morro, quando for chegado o tempo das tainhas,
jogarão tarrafas do Canal do Cantagalo;
ou lançarão suas linhas dos altos do Babilônia”.
Foto: Copacabana
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