Após o nosso casamento em 25 de dezembro a primeira má noticia que nos chegou foi pelas ondas do rádio, também pelas imagens de TV. Habitávamos o nosso primeiro espaço residencial no apartamento 101, Bloco B, do Conjunto Recanto dos Pássaros, no Cabula quando soubemos da morte de Elis. A reação instantânea foi sair em direção à estante onde se encontrava parte do nosso acervo discográfico e botar prá rodar qualquer vinil de Elis no prato de pick-up, acompanhado de um conhaque Macieira prá desfazer o nó da garganta, naquele incomum 19 de janeiro.
Todas as vezes que ouço Billy Holiday, mesmo sem entender um real de inglês, sei que ali há uma voz, uma verdade, uma vida, assim como Elis cujo canto derrama alegria, esperança, angústia e dor. A voz de Elis era desafiadora. Sempre me vem à mente um especial seu na TV Globo em que Elis recebia convidados e com alguns deles protagoniza belos duetos. Certa feita Gal Costa foi uma das suas vítimas e, nesta apresentação ficou nítida a intenção dela, Elis, em derrubá-la musicalmente, por força de um balanço irrepreensível e às vezes desnecessário que imprimia as suas interpretações. Elis não se contentava em ser a melhor, a maior, para isto ser de fato comprovado tinha que ser posto à prova mediante a subjugação do outro. Coisas de diva, de estrela, de narciso. Elis vive e é o que importa.
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