domingo, 25 de dezembro de 2011

Sempre Natal...

Deveria ser sempre Natal. Não somente pela diuturna reverência e comemoração ao nascimento de Cristo, mas pelas expressões de solidariedade e ventura que se espalham pelos desejos de uns aos outros. Seria sempre Natal agora e sempre, nos abraços, nas felicitações, nos rogos de amor e paz onde todos se igualam na busca e na crença de um mundo melhor para mim, para você, para nós. Assim como nos versos de Vinicius em “Ai quem me dera”            
Ai, quem me dera terminasse a espera
Retornasse o canto simples e sem fim
E ouvindo o canto se chorasse tanto
Que do mundo o pranto se estancasse enfim
Ai, quem me dera ver morrer a fera
Ver nascer o anjo, ver brotar a flor
Ai, quem me dera uma manhã feliz
Ai, quem me dera uma estação de amor
Ah, se as pessoas se tornassem boas
E cantassem loas e tivessem paz
E pelas ruas se abraçassem nuas
E duas a duas fossem casais
Ai, quem me dera ao som de madrigais
Ver todo mundo para sempre afim
E a liberdade nunca ser demais
E não haver mais solidão ruim
Ai, quem me dera ouvir o nunca-mais
Dizer que a vida vai ser sempre assim
E, finda a espera, ouvir na primavera
Alguém chamar por mim

Como se fosse um Luan Santana qualquer...

A volta de João aos palcos que se daria em 28 de outubro a partir de Salvador, no TCA, foi sendo sucessivamente adiada até o seu cancelamento. Segundo sua esposa e empresária Claudia Faissal, o artista contraiu uma gripe muita forte que lhe impossibilitava de cantar, o que é compreensível em. um jovem de 80 anos.

Mas, parte da imprensa que cobre o mundo dos artistas e celebridades deu um outro viés ao recuo da temporada de João aos palcos nacionais. Mórbida e sensacionalista como costuma ser, esta imprensa marrom propagou que a suspensão da turnê se deu em razão do encalhe de ingressos e de reservas nas salas onde ele se apresentaria. É possível esta alegação, até porque com ingressos que variavam entre R$500,00 e R$1.000,00, a depender do local da apresentação, a baixa procura de ingresso pelos aficionados do mestre bossanovista poderia em verdade se dar. O que não se dá crédito nem importância é o caráter de prazer e de fofoca do baixo mundo de relés celebridades que esta parte da imprensa esta acostumada a divulgar, jogando no mesmo balaio, alhos e bugalhos, como se João fosse um Luan Santana qualquer.

O respeito nunca foi, principalmente nestes tempos de artistas fabricados numa mesma linha de montagem, o alvo de seus tortuosos e incompetentes textos. É o escândalo pelo escândalo e estamos informados!

sábado, 24 de dezembro de 2011

O que rola no MP4

Sempre renovando o repertório de MP4 busco em lançamento da MPB ou em canções que não tive acesso à época, mas agora descobertas, para montar a trilha sonora que me acompanha nas caminhadas matinais ou nos bares “pé sujo” da Baixinha, enquanto leio.

Assim descobri Adriana Maciel em Poeira Leve, lançamento de 2004 e músicas como Até mais ver e Solidão esta em parceria com Zeca Baleiro e que confirma a nossa capacidade de fazer surgir novas e belas vozes femininas. Marisa Monte é destas celebridades que não precisa de programa do Faustão, do sofá de Hebe, do picadeiro do homem do Baú, enfim destes expedientes baixo astral, para divulgar seus lançamentos, suas novas músicas. Seus admiradores tomam conhecimento da sua mais recente produção musical através da rede, ou dos cadernos culturais da grande e média imprensa. De “o que você quer saber de verdade”, o novo disco da diva pincei Ainda bem, Era óbvio, Lencinho querido, uma canção cafona gravada por Dalva de Oliveira, mas que na voz de Marisa ganha uma elegância transformadora. E claro no novo, surpreendente e ousado disco de Gal, vou me acostumando com a sonoridade e os versos de Recanto escuro, Neguinho, Miami Maculelê.

Muitos ainda ouvirão falar em Karina Bhur, uma pernambucana da pesada de voz diferenciada, repertório moderno e parte de um contingente que hoje dá as cartas na nova musica brasileira, como Tulipa Ruiz, Marcelo Jeneci, Tiê, Céu, China. De Karina, tenho ouvido de seu primeiro disco, Eu menti prá você e Vira poeira, exemplos do que ela capaz de agora por diante. 

quinta-feira, 22 de dezembro de 2011

Amigo oculto e raro


Charge: Amarildo

1001 lugares para conhecer antes de morrer

Há uma coleção de livros que lista várias atitudes para serem tomadas antes de morrer. Assim surgiu a serie 1001. “1001 discos para ouvir antes de morrer”; “1001 livros para ler antes de morrer”; “1001 lugares para conhecer antes de morrer”; “1001 lugares para fazer sexo antes de morrer”; “1001 filmes para ver antes de morrer”; 1001 peças de teatro para assistir antes de morrer e assim as opções mais inusitadas possíveis vão surgindo ao gosto do freguês.

Já folheei em uma livraria o livro “1001 discos...” e pude conferir em algumas páginas a abrangência da escolha de críticos internacionais para a divulgação da lista final. Como era de se esperar, a participação de artistas americanos e ingleses na lista é quase majoritária e há o predomínio do jazz, pop, rock, cantoras negras americanos, country, piscodelia, muito Beatles, Rolling Stones, Pink Floyd, Bob Marley e o som rolando sem parar. Impossível que não houvesse brasileiro na parada, pelo menos um João Gilberto ou um Tom Jobim, mas há e, muito mais. Pela seleção canarinho também comparecem Construção de Chico, Circuladô de Caetano, Gil & Jorge, dos próprios, Sepultura, Milton e até as esquisitices de Carlinhos Brown. Mas música brasileira está mesmo muito bem documentada em um trabalho do ex-crítico de O Globo, Antonio Carlos Miguel, que formou uma discoteca básica de nossa música com a análise de 500 CDs da rica e variada produção musical brasileira, pelos seus compositores e interpretes. Tá todo mundo ali.

Tô pensando em acompanhar a serie 1001 lugares para conhecer antes de morrer. Se no meio de percurso a bruxa com seu cutelo ameaçador mandar aviso ou me procurar, digo que estou passando por Gramado e Canela o que corresponde ao 57º lugar, tendo ainda muito que andar e a “coisa feia” prá esperar.

Barcelona - Catedral da Sagrada Familia - Antonio Gaúdi

quarta-feira, 21 de dezembro de 2011

O sertão vai virar mar. Da bandidagem!

Em qualquer estudo realizado por um instituto de pesquisa passar de 23º lugar para a 7ª colocação é uma ascensão que merece comemoração e elogios. Festa esta que pode representar a redução do analfabetismo, um admirável índice de desenvolvimento humano, baixo percentual de mortalidade infantil entre outras mazelas próprias dos países subdesenvolvidos. Mas se este ranking reflete a escalada da violência em nosso estado, por exemplo, dá vontade de sentar no meio-fio e chorar. Pois é este quadro desolador que o Instituto Sangari em parceria com o Ministério da Justiça retrata em recente pesquisa sobre a violência nas principais cidades brasileiras. A redução dos índices de criminalidade em estados potencialmente violentos como Rio e São Paulo, contrasta com o aumento desta mesma violência em estados como Bahia, Alagoas, Maranhão e Pará, como se a barbárie de lá migrasse prá cá e, com certeza sim.

Recente estudo publicado pela Folha confirma, hoje, a existência em vários estados do Nordeste de núcleos de uma organização criminosa nascida nos presídios paulistas e cariocas que, fugindo da repressão maciça naqueles estados procuraram outras paragens para suas ações. Para não divagar muito sobre a explosão criminosa em nosso estado, basta ficar com aqueles, entre outros crimes praticados, que dizem respeito aos assaltos a banco em todo interior da Bahia. São ações de uma ousadia surpreendente, armas de grosso calibre e quantidade sempre numerosa de bandidos que costumam paralisar a cidade alvo de suas investidas. Nestes locais que hoje se tornaram preferidos por estas gangs, se roubavam armazéns, postos de gasolina, padarias, imagens de santo, muitas galinhas e moças casamenteiras, quando havia moça e ainda mais casamenteira. Mas o tempo virou e, o que era uma atitude romântica tipo Robin Hood, Padre Dimas ou Charles Anjo 45, desaguou num tiroteio, explosões de caixas eletrônicos, carros possantes, armas pesadas, pessoas seqüestradas e feitas reféns, um inferno astral e as cidades em estado de torpor.

Próximas daqui, sinal de que eles não tardarão em nos fazer uma indesejada visita, os municípios sedes de Cafarnaum e Tapiramutá são cartas mais que conhecidas no baralho da bandidagem. Eles já estão tão acostumados com as suas presenças em agencias de Correios e Bancos que nem reagem mais com espanto e medo, mas com a serenidade ou resignação de mulher de malandro para quem uma bordoada a mais é simplesmente uma porrada a mais.

terça-feira, 20 de dezembro de 2011

Escrito pelas estrelas: Barcelona 4 x 0 Santos.

O time do Santos e seus torcedores poderiam passar as festas de final de ano sem este presente de grego, ou melhor, espanhol, que o Papai Noel catalão atirou sobre os meninos da Vila. Tava escrito que naquele domingo o time santista não deveria sair da Vila Belmiro, não atravessar a rua, oceanos, espaços aéreos, ondas de japoneses em busca de autógrafos, nada, o melhor lugar era mesmo a cama, não importa se em cima ou em baixo dela. Quem sabe assim teria perdido a aula que o Barcelona ministrou a um rival, que poderia ser qualquer outro menos o time da Vila Belmiro.

Mas, quis os astros corintianos, palmeirenses, peruanos e chilenos que o adversário do time espanhol naquele manhã sombria de domingo fosse o Santos, “aquele quem dá bola agora”, como quer o seu hino oficial. Alguém não avisou que não pisasse no chão devagarinho, mas com a altivez que um dia foi marca de nosso futebol. Mas não, quais colegiais obedientes, assistiram embasbacados o desfile de atletas diferenciados, únicos, geniais em seu toque e posse de bola que lhes permitiriam fazer os gols que quisessem a hora que quisessem. 4 x 0 parece um placar modesto diante de tanta superioridade, tanta técnica, de tanto show de bola ante o complexo de vira-lata do time santista.

O recém-findo campeonato brasileiro em que verdadeiras bombas de mediocridade como Vasco ou Corinthians poderiam vir a ser o Campeão de 2011, pouco importando qual, é o retrato da pequenez futebolística que atravessamos. As eliminações na Copa Libertadores para times peruanos e chilenos demonstram esta inferioridade que não é de agora, mas que se viu elevada a enésima potência diante de um Barcelona professoral em gramado japonês, neste domingo inesquecível, sim inesquecível, para os adeptos do bom futebol.

Recanto escuro para uma clara voz.

Ao contrário de Drummond que se disse cansado de ser moderno querendo, no entanto, ser eterno, Gal trilha caminho inverso deixando a eternidade na música popular, em busca, mais numa vez, de uma modernidade em que ela na música brasileira já foi porta-voz. Foi a voz feminina do tropicalismo, das experimentações estéticas de Caetano naquele movimento que sacudiu e revolucionou a nossa música. Pois é este mesmo Caetano que tomou Gal pelos braços ou pela voz e a jogou no caldeirão eletrônico de sons, ruídos, estridência de guitarras, distorções, batidas de pista de dança que rodeiam a voz de Gal para os versos dele, o idealizador do disco.

Novamente eles estão juntos, assim como no inicio de suas carreiras em Domingo em que Gal empresta a sua voz às canções bem comportadas e clássicas de Caetano, nos idos de 1967. A Gal de Recanto está há anos luz de distância de Domingo. Estranho, moderno, eletrônico e anticomercial. Duvido que a gravadora Universal que lançou o disco, neste dezembro/2011, tivesse a ousadia de lançá-lo em outros tempos, naquele em que um artista alcançava a soma de hum milhão de CDs vendidos, já que nos tempos de agora em que ninguém compra CD mesmo, a multinacional apenas capitaliza e registra o ato criador e interpretativo destes dois ícones de nossa música. Não adquiri o disco como tantos não compraram nem irão e, já ouvi e estou ouvindo as 11 faixas deste que sem dúvida será o disco mais discutido deste final de ano. 

Recanto começa com a voz sombria de Gal em Recanto escuro, em que os versos são cantados/declamados envoltos em sons esparsos sem que cheguem a configurar um ritmo, apenas pontuam o bonito texto. A voz de Gal afinada e precisa, embora sem o frescor e o viço de outrora, recebe um quase tratado do ato de cantar em Autotone aerótico. Não há samba, canção, rocks, fox ou baião apenas a voz de Gal e os versos de Caetano em achados poéticos que confirmam o grande poeta e letrista que quando acerta é insuperável. Aliás, os ritmos estão presentes em Neguinho e em Miami Maculelê, onde os tambores da Bahia se fundem com o funk carioca e versos do hip hop que tendem alcançar o amplo espectro da modernidade pretendida. Estas canções talvez sejam as únicas a figurarem nas programações das rádios FMs, o que talvez não signifique nada, a não ser a divulgação do novo canto de Gal, como sonham os diretores da Universal. Perfeitamente dispensável, já que Recanto deverá ser cultuado pelos seus antigos seguidores ou pelos adeptos dessas excentricidades musicais que Caetano soube tão bem retratar.

O disco foi composto quase integralmente por Caetano para este projeto tocado por Gal, mas há um lugar para uma canção de 1999, também de Caetano, e entregue à época a interpretação de Jane Duboc, que é Mansidão. Uma das mais belas melodias de Caetano, Mansidão, na voz de Gal a canção não chega a fazer sombra a bela interpretação de Jane, que encontrou a sua interpretação perfeita e definitiva. Recanto é um momento único na carreira de Gal, podendo será amado e odiado com a mesma intensidade sem que, no entanto, quaisquer dos lados estejam sendo injustos. Do meu lado, pretendo ouvir muitas vezes mais e, captar os seus versos, suas estranhas melodias e sons, mas de antemão quatro canções já me conquistaram e estarão presentes em meu MP4: Recanto escuro, Neguinho, Miami Maculelê, Autotone auterótico e sei que outras virão. Ponto para a ousadia de Gal.       

terça-feira, 13 de dezembro de 2011

Flamengo campeão do mundo - 30 anos depois.

Numa iniciativa esportiva louvável a Rádio Globo, Rio, homenageou o Clube de Regatas Flamengo e sua legião de adoradores com a transmissão na madrugada de hoje de zero hora às duas da manhã da narração da conquista do Titulo de Campeão do Mundo interclubes, diretamente de Tóquio, no Japão, em 1981. Os 30 anos desta conquista foram revividos com a forte emoção de quem relembra os 3 x 0 sobre o Liverpool da Inglaterra e o time mágico do Flamengo e seus astros e guerreiros comandados Zico, Junior, Andrade, Leandro, Adilio, Tita. Nunes, Raul, Mozer. Quanta diferença se compararmos este elenco dos anos 80 com embustes tipo Ronaldinho Gaúcho e outras nulidades mais preocupados em baladas, pagodes e marias chuteiras que propriamente o futebol para o qual são imerecidamente pagos.  

Outro dado interessante da narração esportiva foi voltar a ouvir a voz radiofônica de seus locutores que foram em termos de audiência e popularidade a voz do rádio carioca e brasileiro por muito tempo. Não havia narradores como Jorge Cury, Waldir Amaral, Antonio Porto, Kleber Leite, Loureiro Neto, Gilson Rodrigues nem comentaristas como João Saldanha ou Mário Viana que eram destaques na programação esportiva da Rádio Globo, naquela época.. Voltar a ouvir os gols da vitória do Flamengo sobre o time inglês nas vozes de Waldir Amaral e Jorge Cury e que significou a conquista do primeiro titulo mundial pelo rubronegro, foi uma alegria que compensou qualquer noite em parte perdida, ou ganha. Dá-lhe Mengão!

domingo, 11 de dezembro de 2011

Ama teu vizinho como a ti mesmo.

Verso de um dos muitos sucessos do trio Sá, Rodrix e Guarabira que nos anos 70 espalhou pelas ondas do rádio o seu “rock rural” e músicas deliciosas e despretensiosas como Ama teu vizinho, Sobradinho, Espanhola, Pendurado no vapor, Mestre Jonas, O pó da estrada, Hoje ainda é dia de rock, Blue Riviera e mais, muito mais. Lembrei da canção do saudoso trio, Ama teu vizinho, pelas circunstancias que me levou na cidade a estar comprimido entre vizinhos que em parte reflete versos da música quando diz “ama teu vizinho como a ti mesmo, mesmo que ele não precise, mesmo que ele seja um grilo na comunidade”. É verdade que o termo “grilo” era uma gíria da época, mas que hoje poderia ser substituído por “zumbi” que faria o mesmo efeito e daria o mesmo resultado em termos qualificativos a pessoas para quem viver em comunidade é um estorvo, um mal, uma dificuldade social.

Presenciei vizinhanças que batiam na porta de seus iguais em busca de uma pitada de sal, duas colheres de açúcar, um xícara de café, uma agulha com dedal, um pedaço de sabão tudo porque inesperadamente faltou, a padaria estava fechada, a venda da esquina não abriu aos domingos enfim, o inesperado fez uma surpresa. Mandava-se entregar ao vizinho ao lado em prato coberto com panos apropriados, bolos inteiros, pratos de canjica, tigelas de mungunzá, oferecidos e recebidos com solene reverência e muitos agradecimentos. Eram vizinhos na comilança, na festa e na dor. Sorria-se e sofria-se por igual. Tudo era partilhado, confidenciado como numa grande e harmoniosa família. Era a solidariedade expressa em seu mais pleno significado, uma hospitalidade que com o passar dos tempos foi-se esgarçando, ruindo até a total indiferença ou a absoluta hipocrisia para uma cidade que se quer alegre, mas cuja alegria está mais para o riso da hiena que do principio do prazer. Nega-se ao seu vivinho ou ao passante o mais elementar dos cumprimentos sociais quando não obtendo em resposta algo que mais se aproxima do rosnar de um inimigo.

É sintomático que o evento mais característico da cidade seja a cavalgada, onde a maior parte dos cavaleiros faria melhor o papel de montaria que de montador e, a quem deveria ser responsabilizado pelo recolhimento dos dejetos espalhados pelas ruas da cidade como medalha pela cavalgadura que representam.

Um aeroporto sob a vigilância do Derba.

Há no aeroporto da cidade, ou melhor, em sua pista de pouso para aeronaves fantasmas, uma pequena velha construção abandonada, com sua porta arrombada onde se supõe seria a torre de controle do aeroporto ou de algum órgão aeroviário tipo Infraero, Anac um troço desses. Mas não, prosaicamente está grafado DERBA, talvez em homenagem as antigas rodovias baiana, caracterizadas pela falta de asfalto, ou da má conservação deste onde antes havia, assim como está a sua pista de pouso.

Tudo ali lembra uma estrada velha abandonada rasgando a capoeira, ligando o nada ao quase nada e utilizada em caminhadas matinais ou nos finais de tarde pelos cultores de um corpo sadio ou de barrigas descompensadas que jamais chegarão a tanquinho, mas se tenta.

segunda-feira, 5 de dezembro de 2011

Lampião, aquele machão, era frutinha.

Quem diria, neste processo de desconstruir mitos e reputações sobrou até para Virgulino Ferreira da Silva, Lampião, o justiceiro macho que arrepiou meio mundo do sertão nordestino vingando a morte de seus pais, era. Ou pelo mero prazer de matar mesmo, já que seu espírito sanguinário não carecia de motivações ou razões para apertar o gatilho, empunhar a peixeira contra quem cruzasse seu caminho e não caísse no agrado de seus belos olhos. Pois, Lampião e Maria Bonita que já tiveram suas vidas vasculhadas por jornais, revistas, livros e filmes ganha agora mais uma versão apimentada de suas conturbadas trajetórias. Segundo o escritor e advogado Pedro Morais, em seu livro Lampião: O Mata Sete, o cangaceiro estava mais para a parada gay que propriamente para vingador de qualquer coisa. Lampião matava a cobra e escondia o pau.

O ícone da cultura nordestina costurava prá fora e prá dentro, já que os adornos das indumentárias do bando eram bordados por ele, uma espécie de Clodovil do cangaço. Mas a surpresa maior do livro viria com a revelação de que Lampião tinha um namorado no bando, que era o cangaceiro Luiz Pedro, que por sua vez também era amante de Maria Bonita. Este triângulo amoroso do agreste faz valer para Maria Bonita a máxima de um personagem de Regina Casé, em Programa Legal, quando dizia: “onde me come um, come dois”.

Luzes da Cidade

As ruas e a praça principal da cidade, a Getulio Vargas, receberam uma bonita e funcional iluminação decorativa com temas natalinos. A inauguração foi sábado com show de artistas locais e a presença inusitada de um trio elétrico, perfeitamente dispensável. Assim como misturar alhos com bugalhos, farinha com macarrão, carne moída no acarajé, axé com Rock in Rio, esta heresia de misturar Natal com Carnaval talvez obedeça a critérios insondáveis aos pobres mortais.
Mas, importa mesmo as luzes que a cidade ganhou, instaurando de vez o espírito natalino nos corações e mentes da população que reconhecida agradece e elogia.

Foto: Caline Vilas Boas

domingo, 4 de dezembro de 2011

Partido sem definição.

O poeta e colunista da Folha, Ferreira Gullar foi cirúrgico ao definir o Partido Social Democrático - PSD, criado pelo prefeito de São Paulo, Gilberto Kassab. Deu-lhe a definição precisa de “partido sem definição”, bem mais apropriado para este ajuntamento de oportunistas e sem qualquer compromisso ideológico, programas, diretrizes, bandeiras que deveriam nortear a criação de um partido político. Assim indefinido, pode ser qualquer coisa o que na verdade é, alem de mal assombrado, pois descobriram nas listas de adesões, pelos rincões do país, várias assinaturas de mortos em eleições passadas. Nem os mortos escapam da picaretagem e da insanidade desta gente.
Sem definição fica mais fácil aderir ou encostar em qualquer candidato de suas conveniências nos próximos pleitos. Tanto pode ser de centro, direita ou esquerda, não importa, os indefinidos servem a qualquer coloração partidária, o importante são os senadores, deputados, vereadores, prefeitos, e governadores que poderão eleger e servir de massa de manobra e barganha em futuras cobranças por um ministério, uma diretoria financeira de empresa estatal, enfim um boquinha na mamata federal. Esse Kassab não é bobo nada, embora dê a maior bandeira, parecendo ser o que na verdade é.   

Amigo é coisa prá se guardar...

Esta semana a cidade viveu um momento dramático e surpreso com a morte de um jovem, embora não piritibano, mas com fortes laços afetivos com a comunidade e sua juventude, despertando manifestações comoventes de solidariedade, saudade e dor. Pelas redes sociais pipocaram demonstrações de apreço, espanto e principalmente de confissões deste sentimento tão distante que é a amizade. Não cheguei a conhecer o jovem ou se conheci não guardo lembrança que as fotografias postadas pudessem avivar a minha memória, pouco importa, o que ficou foram momentos de resignação e indignação pela perda prematura de um companheiro. Não há duvida que pelas palavras dedicadas ao que partiu, tratava-se na verdade de boa gente, um camarada, o cara. Sendo assim mais que pertinentes as citações de trechos de músicas do Legião, Cazuza, Cássia Eller ou a Canção da América de Milton e Brant ou mesmo dos tocantes versos de Vinicius de Moraes: "Se eu morrer antes de você, faça-me um favor. Chore o quanto quiser, mas não brigue com Deus por Ele haver me levado. Se não quiser chorar, não chore. Se não conseguir chorar, não se preocupe. Se tiver vontade de rir, ria. Se alguns amigos contarem algum fato a meu respeito, ouça e acrescente sua versão. Se me elogiarem demais, corrija o exagero. Se me criticarem demais, defenda-me...”

É triste a perda de um jovem, não importa se saudável ou irrecuperável, é sempre um a menos na construção utópica de um mundo melhor, no sonho impossível de homens bons, na convivência pacifica e fraterna entre irmãos. Mesmo nada dando certo, fica a alegria, a disponibilidade, o impulso aguerrido da juventude em levar adiante a certeza de que viver vale a pena, ainda que por linhas tortas, que às vezes não os levará a canto algum, alem da morte na busca de seu prazer solitário, sem volta.

Dilma Rousseff - Uma brasileira

Esta é a Presidente Dilma Roussef frente a um tribunal militar, em 1970, pelas atividades de oposicionista à ditadura instaurada em 64 por um golpe militar. O mundo dá volta, as voltas que o mundo dá. Dilma, integrante de uma facção de esquerda que se insurgiu contra o regime intolerante e antidemocrático dos milicos é hoje a representante maior do nosso país, a presidente eleito com 56 milhões de votos. Enquanto parte deles, guardiães de uma liberdade manchada de sangue terá que se explicar frente à Comissão de Verdade, que este Congresso Nacional que tanta vergonha causa o país, não poderá impor mais essa, negando a sua instalação e funcionamento, por covardia ou medo. Os torturadores, os assassinos, os mandantes e executores de ordens absurdas e desumanas terão que ser punidos e os seus nomes e imagens gravadas para sempre na memória do país, como certeza de tais desatinos não se repetirão.
Assim como ocorreu na Argentina, Chile e Uruguai os milicos desalmados terão que sentar no banco dos réus para o julgamento de seus atos covardes e insanos.

Campeões Brasileiro de 2011 - Flamengo e Santos

Chega ao fim o Campeonato Brasileiro 2011, em que Vasco e Corinthians foram as equipes que mais pontuaram em todo o Campeonato e pela mediocridade apresentada qualquer um dos dois podem se sagrar campeão brasileiro. A aparente disputa de pelo menos cinco equipes pela primeira posição mascarou, sem dissimular, a fragilidade técnica dessas equipes e seu futebol previsível e sem qualquer empolgação, a não ser aquele fervor costumeiro de torcedores fanáticos que só enxergam o óbvio e, para a sua equipe. Talvez a única partida representativa de um futebol que um dia já foi padrão nacional, tenha sido Flamengo e Santos na Vila Belmiro, em que a equipe rubronegra ganhou por 5 x 4 e que por isto mesmo, estas duas equipes deveriam ter sido consagradas como as verdadeiras campeãs, em nome de um futebol que um dia tivemos o orgulho de mostrar. Mas não, a lógica dos pontos corridos irá premiar o futebol brucutu do Corinthians ou o futebol dos velhinhos Felipe e Juninho Pernambucano pelo time vascaíno.
O estágio do futebol brasileiro pode ser medido pelas freqüentes eliminações de nossas equipes nas Copas Libertadores e Sul Americana, não por times argentinos, nossos então únicos rivais, mas por equipes do Peru, Paraguai ou Venezuela, eternas caixas de pancadas de nossos times, em um passado recente. Para um futebol vira-lata como esse, nada mais representativo que o titulo de 2011 entregue a Vasco ou Corinthians. Eles merecem!

Back in Bahia

Dentre as canções composta por Gil em seu exílio londrino, nenhuma é tão pessoal ou confessional, como se todas não fossem, como Back in Bahia. Gil fala da saudade do mar da Bahia, “cujo verde às vezes me fazia bem relembrar”, sem esquecer dos "também gramados verdes parques de lá". Back in Bahia é um rockzinho básico gravado com as limitações do estúdio disponível em que a guitarra de Gil e seus versos saudosistas conferem um prazer musical agradável e histórico.
Conhecia apenas a gravação de Gil e de Rita Lee para Back in Bahia, mas recentemente garimpando pela internet descobri duas outras gravações, a do Barão Vermelho (pós Cazuza) e uma de Wanderléa. A discografia do Barão poderia prescindir desta gravação, já que nada acrescenta ao original alem de Frejat quase distorcer a melodia, desfigurando a composição, quando não a violentando. Quanto a Wanderléa, o resultado obtido é um exemplo de como uma canção que se imagina já ter tido a sua gravação definitiva, surpreende de modo curioso, alegre e fiel a sua origem roqueira, via Jovem Guarda. A eterna Ternurinha das “jovens tardes de domingo”, mantém a pegada rock’n roll da música e une Back in Bahia a Banho de Lua em um casamento musical do jovem tropicalista com Cely Campello, fiel representante e referência aos primórdios da música jovem que nasceria a partir dela e de seu irmão Tony Campello. Aqui neste exílio piritibano, onde “por sorte ou por castigo dei de parar” ouvir Back in Bahia é uma forma de também matar a saudade do verde mar da Bahia. Saravá!