domingo, 11 de dezembro de 2011

Ama teu vizinho como a ti mesmo.

Verso de um dos muitos sucessos do trio Sá, Rodrix e Guarabira que nos anos 70 espalhou pelas ondas do rádio o seu “rock rural” e músicas deliciosas e despretensiosas como Ama teu vizinho, Sobradinho, Espanhola, Pendurado no vapor, Mestre Jonas, O pó da estrada, Hoje ainda é dia de rock, Blue Riviera e mais, muito mais. Lembrei da canção do saudoso trio, Ama teu vizinho, pelas circunstancias que me levou na cidade a estar comprimido entre vizinhos que em parte reflete versos da música quando diz “ama teu vizinho como a ti mesmo, mesmo que ele não precise, mesmo que ele seja um grilo na comunidade”. É verdade que o termo “grilo” era uma gíria da época, mas que hoje poderia ser substituído por “zumbi” que faria o mesmo efeito e daria o mesmo resultado em termos qualificativos a pessoas para quem viver em comunidade é um estorvo, um mal, uma dificuldade social.

Presenciei vizinhanças que batiam na porta de seus iguais em busca de uma pitada de sal, duas colheres de açúcar, um xícara de café, uma agulha com dedal, um pedaço de sabão tudo porque inesperadamente faltou, a padaria estava fechada, a venda da esquina não abriu aos domingos enfim, o inesperado fez uma surpresa. Mandava-se entregar ao vizinho ao lado em prato coberto com panos apropriados, bolos inteiros, pratos de canjica, tigelas de mungunzá, oferecidos e recebidos com solene reverência e muitos agradecimentos. Eram vizinhos na comilança, na festa e na dor. Sorria-se e sofria-se por igual. Tudo era partilhado, confidenciado como numa grande e harmoniosa família. Era a solidariedade expressa em seu mais pleno significado, uma hospitalidade que com o passar dos tempos foi-se esgarçando, ruindo até a total indiferença ou a absoluta hipocrisia para uma cidade que se quer alegre, mas cuja alegria está mais para o riso da hiena que do principio do prazer. Nega-se ao seu vivinho ou ao passante o mais elementar dos cumprimentos sociais quando não obtendo em resposta algo que mais se aproxima do rosnar de um inimigo.

É sintomático que o evento mais característico da cidade seja a cavalgada, onde a maior parte dos cavaleiros faria melhor o papel de montaria que de montador e, a quem deveria ser responsabilizado pelo recolhimento dos dejetos espalhados pelas ruas da cidade como medalha pela cavalgadura que representam.

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