Ao ouvir agora, na íntegra, o novo disco de Gil, o Gilbertos Samba, com que ele pretendia homenagear João Gilberto, percebe-se que o disco nada
acrescenta a carreira do tropicalista e com relação ao “pai da bossa nova”, soa
como uma reverência que ele poderia até dispensar, turrão como ele é. Há alguma
tentativa de modernizar o que sempre será vanguarda, através de sutilezas nos
arranjos e das participações de jovens músicos como Domenico Lancelotti, Moreno Veloso, Pedro Sá, Rodrigo Amarante além
dos contemporâneos Caymmi, os irmãos Dori e Danilo. Mas, revela-se uma
tarefa inútil, pois nada há a acrescentar ao que João eternizou em O pato,
Aos pés da cruz, Doralice, Desafinado ou Você e eu.
Sobra o extraordinário violão de Gil, como em Um abraço no
João, uma referência a uma das poucas composições de João, na intrumental Um
abraço no Bonfá, parte do repertório de “O amor, o sorriso e a flor”. A sua voz, hoje, se ressente dos
excessos de vocalises, gritos, agudos e maneirismos vocais desnecessários ao
longo de sua carreira, em que talvez o repertório de João venha servir como descanso para uma voz cansada, longe do
brilho de outrora, cortados os excessos.
Homenagem por homenagem fico com a composição De palavra em palavra de Miltinho, Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, gravação do MPB-4 em que várias frases de canções
da bossa nova, imortalizadas por João,
formam uma nova poesia em versos
interessantes e originais como: “Eu tenho esse amor para dar/Agora o que é que eu vou fazer/Porque
esse é o maior que você pode encontrar/Mas de conversa em conversa/Eu só quis
dizer de palavra em palavra/João Gilberto
um abraço em você”.
Em determinado momentos da gravação a voz de Magro se assemelha a de João,
o que torna de fato um reconhecimento agradecido ao grande músico, criador e inovador na música
brasileira.
Foto: Gilberto Gil
Nenhum comentário:
Postar um comentário