quarta-feira, 4 de junho de 2014

Gilbertos Samba

Ao ouvir agora, na íntegra, o novo disco de Gil, o Gilbertos Samba, com que ele pretendia homenagear João Gilberto, percebe-se que o disco nada acrescenta a carreira do tropicalista e com relação ao “pai da bossa nova”, soa como uma reverência que ele poderia até dispensar, turrão como ele é. Há alguma tentativa de modernizar o que sempre será vanguarda, através de sutilezas nos arranjos e das participações de jovens músicos como Domenico Lancelotti, Moreno Veloso, Pedro Sá, Rodrigo Amarante além dos contemporâneos Caymmi, os irmãos Dori e Danilo. Mas, revela-se uma tarefa inútil, pois nada há a acrescentar ao que João eternizou em O pato, Aos pés da cruz, Doralice, Desafinado ou Você e eu. 

Sobra o extraordinário violão de Gil, como em Um abraço no João, uma referência a uma das poucas composições de João, na intrumental Um abraço no Bonfá, parte do repertório de “O amor, o sorriso e a flor”. A sua voz, hoje, se ressente dos excessos de vocalises, gritos, agudos e maneirismos vocais desnecessários ao longo de sua carreira, em que talvez o repertório de João venha servir como descanso para uma voz cansada, longe do brilho de outrora, cortados os excessos.

Homenagem por homenagem fico com a composição De palavra em palavra de Miltinho, Maurício Tapajós e Paulo César Pinheiro, gravação do MPB-4 em que várias frases de canções da bossa nova, imortalizadas por João, formam uma nova poesia em versos interessantes e originais como: “Eu tenho esse amor para dar/Agora o que é que eu vou fazer/Porque esse é o maior que você pode encontrar/Mas de conversa em conversa/Eu só quis dizer de palavra em palavra/João Gilberto um abraço em você”. Em determinado momentos da gravação a voz de Magro se assemelha a de João, o que torna de fato um reconhecimento agradecido ao grande músico, criador e inovador na música brasileira.


Foto: Gilberto Gil

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