“Abra a porta e a janela e venha ver o sol
nascer...” na verdade o sol ainda tardaria um pouco a nascer, mas mesmo assim
resolvemos deixar a área do festival de rock na Praia de Conceição e fomos caminhar pela praia, fascinados pela
intensa claridade do luar. O efeito produzido pela luz da lua sobre a placidez
daquela baia, nos fez quedar na areia da praia em atitude contemplativa diante
de tanta beleza, bebendo em silêncio mais esta manifestação da presença de Deus. Será que foi um sonho ou uma
alucinação? Tanto faz, depois de tudo que tomamos e fumamos... As meninas
extenuadas pelo cansaço do dia ensolarado e com sono foram para a barraca,
enquanto nós ficamos um pouco mais, vagando na noite, insones.
A noite e o que dela restou estava
irremediavelmente comprometida. Fomos para a Brasília azul, juntamente com Bira, aguardar o sol nascer, enquanto
ouvíamos música pelo rádio. Uma noticia nos entristeceu. Maysa tinha falecido naquele entardecer de 22 de janeiro de 1977, vítima de uma coalizão de seu veículo contra
a amurada da ponte Rio - Niterói.
Procuramos sintonia com o simpático programa do
Adelzon Alves, na Rádio Globo do Rio e fomos agraciados com uma seleção primorosa de sucessos da
grande cantora. “Suas mãos”, “Molambo”, “Meu mundo caiu”, “Resposta” “Chuvas de
verão” , “Bom dia tristeza”, “Três lágrimas” e muito mais, além de seu cartão
de visita “Ouça” e seus versos tocantes de um sentimentalismo denso e trágico,
como foi quase todo o seu repertório e a sua vida regada a álcool, boemia e
amores não correspondidos.
Maysa foi
uma intérprete da mesma linhagem de Dalva,
Isaurinha, Piaff ou Bille Holiday,
pela dramaticidade do seu canto a serviço de sua verdade existencial, exposta
com intenso desassombro. E assim como na canção popular, “o mundo compreendeu e
o dia amanheceu em paz”.
Foto: Maysa
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