A ignorância política vinha da falta de livros,
da excassez de informação, de uma visão crítica do mundo, ao contrário de hoje
em que o alheamento político e o seu conservadorismo vem, contraditoriamente,
do excesso de informação e do seu dirigismo midiático.
A revolução de 64 me
pegou como secretário do grêmio do Ginásio
de Piritiba, na imaturidade de meus 15 anos, sendo orientado a esconder,
destruir ou queimar os livros de capa vermelha de nossa biblioteca, mesmo que
entre eles tivessem exemplares de Reinações
de Narizinho de Monteiro Lobato
ou as 20 mil léguas submarina do Júlio Verne. O vermelho denunciava algo
que nem de leve suspeitávamos ser, mas que era atentatório ao movimento em
curso.
Na verdade a nossa única expectativa quanto a revolução
em marcha, era que fosse decretado um, dois, três dias, uma semana de feriado,
adiando pras calendas a prova de Matemática
marcada para aquela semana, trazendo a reboque seus infernais e indecifráveis quase
50 teoremas. Qual o quê, pelo que se
viu a revolução não estava com essa bola toda e, se estava não chegou até nós,
pois nenhum feriado, ponto facultativo, nada em respeito à redentora e, a nossa temida prova foi aplicada conforme determinado
por nosso professor.
E os teoremas caíram sobre nós com seus catetos, ângulos retos, agudos e obtusos, além da hipotenusa, causando um estrago de que só as hipotenusas no cio são
capazes. Um, dois, três podiam sinalizar a cadência dos coturnos militares em
treinamento de tropa na defesa da revolução, mas não, na verdade eram as notas
de nossa prova de Matemática,
entoada por nosso professor numa cantilena sádica, prenunciando os dentes
brancos da revolução que nos espreitavam além.
E nós que nada sabíamos da revolução,
fomos apresentados a dita cuja, após receber a primeira cacetada nas costelas
já nas ruas de Salvador como aluno
do Central. Outra história.
Foto: Ilustrativa
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