sexta-feira, 15 de abril de 2016

Aos fiéis de William Bonner

A ignorância política vinha da falta de livros, da excassez de informação, de uma visão crítica do mundo, ao contrário de hoje em que o alheamento político e o seu conservadorismo vem, contraditoriamente, do excesso de informação e do seu dirigismo midiático. 

A revolução de 64 me pegou como secretário do grêmio do Ginásio de Piritiba, na imaturidade de meus 15 anos, sendo orientado a esconder, destruir ou queimar os livros de capa vermelha de nossa biblioteca, mesmo que entre eles tivessem exemplares de Reinações de Narizinho de Monteiro Lobato ou as 20 mil léguas submarina do Júlio Verne. O vermelho denunciava algo que nem de leve suspeitávamos ser, mas que era atentatório ao movimento em curso.

Na verdade a nossa única expectativa quanto a revolução em marcha, era que fosse decretado um, dois, três dias, uma semana de feriado, adiando pras calendas a prova de Matemática marcada para aquela semana, trazendo a reboque seus infernais e indecifráveis quase 50 teoremas. Qual o quê, pelo que se viu a revolução não estava com essa bola toda e, se estava não chegou até nós, pois nenhum feriado, ponto facultativo, nada em respeito à redentora e, a nossa temida prova foi aplicada conforme determinado por nosso professor. 

E os teoremas caíram sobre nós com seus catetos, ângulos retos, agudos e obtusos, além da hipotenusa, causando um estrago de que só as hipotenusas no cio são capazes. Um, dois, três podiam sinalizar a cadência dos coturnos militares em treinamento de tropa na defesa da revolução, mas não, na verdade eram as notas de nossa prova de Matemática, entoada por nosso professor numa cantilena sádica, prenunciando os dentes brancos da revolução que nos espreitavam além. 

E nós que nada sabíamos da revolução, fomos apresentados a dita cuja, após receber a primeira cacetada nas costelas já nas ruas de Salvador como aluno do Central. Outra história.

Foto: Ilustrativa

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