quinta-feira, 7 de abril de 2016

Todo mundo gosta de acarajé


Caymmi cantou em A preta do acarajé (se fosse hoje, o grande Dorival teria que fazer uma adaptação de seu lamento para: “a afrodescendente do acarajé”, que como percebemos, dificilmente daria liga, muito menos samba) que “todo mundo gosta de acarajé, o trabalho que dá, pra fazer é que é”. Trabalho que atravessou séculos sofreu ao chegar à Bahia, quando passou a ser oferenda de santo, várias transformações ao sair da África, e mesmo ainda lá, foi passando por etapas de adaptações.

Estudiosos da cultura africana afirmam que os nativos do continente não dominavam o uso da fritura, de óleos, de graxas, que pode ter sido influência de muçulmanos da África ocidental que já manipulavam o azeite na cozinha, além do falafel, bolinho à base de favas e grão de bico. Daí para o feijão fradinho, se não foi um pulo para a história, foi para a gastronomia baiana, que substituindo isso por aquilo, nos levou à frente do tabuleiro das negras e boas quituteiras da Bahia.

Mas, tinha que ter um freio nessas transformações para não se chegar à suprema heresia de constatar no Largo da Missão em Jacobina, no inicio dos anos 90, a baiana ter a sua disposição, como recheio do acarajé, o caruru, vatapá, camarão, pimenta e “devagar com o andor”, carne moída. 

Puxa vida, até que o Instituo do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional – IPHAN procurou por ordem na casa, reconhecendo o acarajé como patrimônio cultural da Bahia e do Brasil, estabelecendo normas para a sua produção e comercialização como arrumação do tabuleiro, trajes próprios das baianas. “Todo mundo gosta de acarajé, o trabalho que dá, pra fazer é que é”.

Foto: Ilustrativa

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