É contraditório. Servidores que são pagos para proteger a sociedade seu patrimônio e seus cidadãos, de repente se voltam contra as suas obrigações constitucionais e saem por aí, eles próprios, gerando a intranqüilidade, fomentando o caos, entregando o estado à sanha devoradora de sua banda podre. Longe de Salvador acompanho apreensivo estes momentos de angustia e tensão vividos pela cidade através dos noticiários de rádio e televisão, alem das informações de amigos, sobrinhos, Moema e Camila que estão por lá. Está ausência longe de me tranqüilizar, preocupa, pelos que estão próximos e expostos ao olho do furacão.
Em 2001, onze anos antes, pude experimentar esta mesma sensação de pânico provocado por estes elementos que mais uma vez se insurgem contra a autoridade do governo estadual e de seus próprios comandantes, como naquele ano. Trabalhava na Rua Chile, morava na Vila Laura e eventualmente almoçava no Largo 2 de Julho, aonde cheguei sem perceber qualquer movimentação nos trechos da Carlos Gomes e Avenida Sete. Nada indicava que alguns instantes depois estes mesmos trechos seriam tomados por uma multidão em polvorosa correndo em qualquer direção. Ao sair do restaurante escolhi uma das direções e também saí correndo sob a ameaça de arrastões e saques naquela zona comercial. A correria me levou para as dependências da Igreja da Piedade um dos poucos locais que ainda não tinha cerrado as suas portas, já que as lojas, restaurantes, supermercados por precaução resolveram encerrar o expediente, enquanto as pessoas em desespero procuravam abrigo.
Desta vez as cenas se repetem, porem, com ousadia redobrada. Policiais encapuzados tomando ônibus de assalto e atravessando o coletivo na pista da Avenida Paralela provocando longos e intermináveis engarrafamentos, os mesmos encapuzados exibindo suas armas ao alto como prova de sua força selvagem são expressões sintomáticas da desobediência e da desrespeito a população de quem deveriam ser guardiã. Um vídeo postado na internet acompanhando o saque de um supermercado em Pirajá é o retrato perfeito do abandono a que chegou uma população desassistida, ignorada, tratada com o desprezo a que nem os animais são submetidos, até se transformarem de fato na banda podre de uma sociedade egoísta, excludente e insensível.
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