quarta-feira, 12 de julho de 2017

A voz do morto


Corria o ano de 1968, com a bossa nova ainda se fazendo ouvir, mas sem o impacto de novidade, pelo tempo e, agora com a concorrência da Jovem Guarda e do Tropicalismo. O samba em geral andava em baixa, quando a TV Record, de São Paulo, teve a ideia de promover a Bienal do Samba, onde as guitarras não entrariam.  

Caetano tentou participar, mas vetaram a sua presença, dizendo que ele não era sambista (como se houvesse necessidade de carteirinha ou atestado) e poderia colocar guitarra no samba, como já havia feito no festival de música popular brasileira, em 1967.

Aracy de Almeida que era do ramo, a eterna intérprete e voz de Noel Rosa, inscreveu uma composição do Miguel Gustavo que não se sabe porque e foi desclassificada, o que mexeu com o brio da sambista, cujo linguajar era pouco familiar. Aracy encontrou com Caetano e não deixou barato em suas queixas: “Pô, me tratar como glória nacional, pensando que vão me salvar? Puta que o pariu, salvar o c(*)! Estão pensando que vão salvar o samba na televisão? Salvar o c(*)"! 

"Quero que você faça um samba, porque você é o verdadeiro Noel, porque você é violento, você é novo”. Caetano já tinha a metade da letra pronta e não fez por menos, assim nasceu A voz do morto.

Fonte: Texto de Abílio Neto

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