Corria o ano de 1968, com a bossa nova ainda se fazendo ouvir, mas sem o impacto de
novidade, pelo tempo e, agora com a concorrência da Jovem Guarda e do Tropicalismo.
O samba em geral andava em baixa, quando a TV
Record, de São Paulo, teve a
ideia de promover a Bienal do Samba,
onde as guitarras não entrariam.
Caetano
tentou participar, mas vetaram a sua presença, dizendo que ele não era sambista
(como se houvesse necessidade de carteirinha ou atestado) e poderia colocar
guitarra no samba, como já havia feito no festival de música popular
brasileira, em 1967.
Aracy de Almeida que era do ramo, a eterna intérprete
e voz de Noel Rosa, inscreveu uma
composição do Miguel Gustavo que não
se sabe porque e foi desclassificada, o que mexeu com o brio da sambista, cujo
linguajar era pouco familiar. Aracy
encontrou com Caetano e não deixou
barato em suas queixas: “Pô, me tratar como glória nacional, pensando que vão
me salvar? Puta que o pariu, salvar o c(*)! Estão pensando que vão salvar o
samba na televisão? Salvar o c(*)"!
"Quero que você faça um samba, porque você é
o verdadeiro Noel, porque você é
violento, você é novo”. Caetano já
tinha a metade da letra pronta e não fez por menos, assim nasceu A voz do morto.
Fonte: Texto de Abílio Neto
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