terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Atrás do trio elétrico, só não vai quem já morreu

Não cheguei a conhecer o Professor Cid Teixeira, mas não tenho dúvidas de que os meus conhecimentos de música popular brasileira e da cidade de Salvador vieram de seus programas na Rádio Cultura e Educadora da Bahia. Sua voz grave, seu tom mais coloquial que do grande mestre que ele sempre foi, fazia de todos nós ouvintes, um amigo a quem escutávamos atentamente. Hoje aos 93 anos de idade goza de merecido descanso a que tem direito este baiano imortal e célebre contador de histórias.

Ontem em sua coluna Trilhas, no Correio, a jornalista e dramaturga Aninha Franco cita o Professor Cid Teixeira em tom profético sobre o Carnaval de Salvador. Escrito em 1995, vale muito conhecer o que pensava o grande mestre sobre a nossa maior festa popular, que é o Carnaval e sua visão profética e desanimadora do que ela se transformou.

“Tenho muito medo do Carnaval da Bahia. Longe de ser uma festa popular, no meu entender, está se tornando numa festa perigosamente sectária. Já se chama de pipoca uma pessoa que não sai em bloco, como uma espécie de segundo time do Carnaval. Ora, se a festa é, por definição popular e participativa, quem é demais na festa é o bloco. No Rio de Janeiro não há Carnaval. É uma falta de cabimento vernáculo. Há um belíssimo macro-show. O que você vê no Rio é um ritmo profundamente monótono, que é suprido pela beleza visual. Quando se começa a fechar o Carnaval, a crescer as arquibancadas, a privilegiar o bloco, ou a estrutura organizacional burocratizada, você está matando toda a espontaneidade, que no meu entender é a força essencial do Carnaval. Este ano fiquei impressionado com a marginalização do povo no Carnaval da Bahia”. (Cid Teixeira, 1995)

Foto: Ilustrativa

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