Poucas vezes fui ao cemitério de minha cidade. Até
mesmo naquelas ocasiões em que teria de
levar meus próprios mortos. Afinal não se vai a cemitério, nem se é convidado a
ir, a não ser impelido por duros sentimentos de perda e desamparo.
Quando Pedro, meu pai, deixou a nossa casa pela porta
principal do número 13 da praça, fiquei com meus nove anos agarrado à mãe
Maria, procurando entender entre estupefato e triste o que seria de nós sem
ele. A nossa casa escureceu. Não apenas pelo luto preto trajado
em nossas vestimentas diárias, mas pela incerteza daqueles dias que se seguiram
na contagem de um outro tempo.
Os manos conduziriam as suas e as nossas vidas,
agora, sob o olhar contemplativo e distante de mãe Maria. Ela própria também
nos deixaria oito anos depois. Era uma morte anunciada, prevista, que acompanhávamos
solidários todas as noites, a cada crise, seu definhamento e nem assim menos morte.
Enquanto o cortejo que a levou já voltava disperso
pelas ruas da cidade, sacolejávamos com a mana, dentro de um carro de praça que
se arrastava entre buracos, lama, desvios naquela que seria a mais importante via
da região, a estrada do feijão.
Ontem, em visita aos meus, quando voltava da sua
morada, parei em um dos bares que aprisionam o cemitério, e pensei em pedir que
a sua música estridente cessasse pelo menos um dia em respeito aos mortos, mas
decidi pelo silêncio, já que ninguém compreenderia qualquer trégua naquela histeria musical.
Foto: Ilustrativa
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