Os detratores de Nara
sempre foram minorias, muitos barulhentos por nada que conseguissem abalar a
legião de seus admiradores e seguidores em vida e após vida afora. Pequeninos
detalhes de nós dois como voz sem extensão, como se fosse imprescindível a
gritaria; desafinação, como se todos nós não fôssemos filhos de João, a simpatia, o carisma e a ousadia
de Nara se sobrepuseram e se transformaram
em uma figura indelével em nossa música.
A onda de Nara era a
sua própria onda, sem parâmetros, sem referências, estando onde sempre devia
estar, sem fio condutor, nem amarras. A bossa nova se delineou em seu
apartamento, em Copacabana, sendo a
sua revelia musa e estandarte, mas saltou de banda ao gravar seu primeiro
disco, escolhendo para o seu repertório, sambas de compositores do morro.
Não havia gravadora, nem diretor musical para lhe indicar o quê, e
quando gravar determinado disco ou compositor, era dona de sua luz e direção,
apontando os seus caminhos, sua liberdade.
Lembro um disco em que ela relembra
canções que cantava para ninar seus filhos Francisco
e Isabel, que são não apenas sinais desta sua independência, mas parte da
memória afetiva de cada um de nós, companheiros de geração e dessas sentimentalidades
como Atirei um pau no
gato, Casinha pequenina, Fiz a cama na varanda, Meu primeiro amor, Cabecinha no
ombro e mais. Pura delicadeza.
Foto: Nara Leão
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