domingo, 18 de setembro de 2016

Nara vive!

Os detratores de Nara sempre foram minorias, muitos barulhentos por nada que conseguissem abalar a legião de seus admiradores e seguidores em vida e após vida afora. Pequeninos detalhes de nós dois como voz sem extensão, como se fosse imprescindível a gritaria; desafinação, como se todos nós não fôssemos filhos de João, a simpatia, o carisma e a ousadia de Nara se sobrepuseram e se transformaram em uma figura indelével em nossa música.

A onda de Nara era a sua própria onda, sem parâmetros, sem referências, estando onde sempre devia estar, sem fio condutor, nem amarras. A bossa nova se delineou em seu apartamento, em Copacabana, sendo a sua revelia musa e estandarte, mas saltou de banda ao gravar seu primeiro disco, escolhendo para o seu repertório, sambas de compositores do morro.

Não havia gravadora, nem diretor musical para lhe indicar o quê, e quando gravar determinado disco ou compositor, era dona de sua luz e direção, apontando os seus caminhos, sua liberdade. 

Lembro um disco em que ela relembra canções que cantava para ninar seus filhos Francisco e Isabel, que são não apenas sinais desta sua independência, mas parte da memória afetiva de cada um de nós, companheiros de geração e dessas sentimentalidades como Atirei um pau no gato, Casinha pequenina, Fiz a cama na varanda, Meu primeiro amor, Cabecinha no ombro e mais. Pura delicadeza.

Foto: Nara Leão

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