Como tudo que o jornalista e escritor Ruy Castro faz, seu último livro, A noite do meu bem, traz uma espécie de radiografia do samba-canção
nos anos 40 e 50 com uma riqueza de detalhes, em que os personagens, para aqueles
que detêm um mínimo de conhecimento da música brasileira e mesma da política nacional,
são seguidos com enorme curiosidade o tropeço e a glória daqueles senhores e
senhoras.
Tá todo mundo ali. Francisco
Alves, Orlando Silva, Dorival Caymmi, Sílvio Caldas, Elizete Cardoso, Nora Ney,
Herivelto Martins, Dalva de Oliveira, Helena de Lima ao tempo que vão
surgindo novas vozes e composições que se descolam daquele ambiente trágico e de
paixões dilaceradas, presentes no moderno canto de Dolores
Duran, Maysa, Doris Monteiro, Lúcio Alves, Dick Farney, Silvinha Teles.
As canções se apresentam em pequenos trechos que é quase
obrigatória uma pausa para que aqueles versos sejam cantarolados, fazendo jus a
riqueza musical do jornalista, que paralelo àquelas vozes são apresentados os
bares e boates onde elas de fato foram acontecendo. São tantas, são muitos os
locais que se multiplicam pelo território de Copacabana, o ponto de encontro de playboys, políticos da velha capital,
deputados e senadores, até presidentes como Getúlio Vargas e Juscelino
Kubitschek e suas escondidas aventuras amorosas na calada da noite.
As suas 500 páginas fluem com um prazer característico dos grandes
livros, não apenas por aqueles que se interessam por nossa música, mas por
aqueles que vão acompanhando os tempos de pré-mudança para a nova capital que
já se anuncia.
Esta perspectiva da transferência da capital para Brasília cria um desespero na grande
noite carioca que vai definhando com a ausência de seus políticos, repartições,
congresso nacional, o mapa da mina enfim, da velha senhora e, com os clarões de
uma nova música que vai se anunciando: a bossa nova, João Gilberto, Tom Jobim, Menescal, Vinicius, Carlos Lyra... mas aí
é uma outra história que o próprio Ruy já nos contou. Chega de saudade!
Foto: Ilustrativa
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