sexta-feira, 25 de agosto de 2017

Na travessia com o Cavalo Marinho

Triste manhã para nós baianos e para passageiros do barco Cavalo Marinho que fazia a travessia Mar Grande a Salvador, comovendo a cidade com marcas que só o tempo vai apagar, porque procurar as causas do naufrágio, com avaliações sobre as condições do tempo, em nada vai aliviar a dor da perda e da saudade de quem não volta mais dessa viagem para o fim.  

A mim, além da comoção trouxe lembranças que nem o tempo consegue sepultar, já que a experiencia de desamparo e solidão no alto mar bate com a força de um acontecimento que graças a Deus não se consumou, para quem era marinheiro de primeira viagem.

Era o meu primeiro ano na cidade, como aluno do Colégio da Bahia e o mar para mim era apenas belas paisagens nas revistas e nos filmes que conhecia até então. Fui escalado, juntamente com outros colegas, por coincidência também interioranos, que nada sabiam do mar, para um trabalho sobre a pesca em uma comunidade na ilha de Itaparica, conhecer ou não em nada impediu que fôssemos designados para esta tarefa.

A viagem transcorria sem sobressalto naquela manhã bonita de abril, quando o mar começou a se mostrar agitado, com ondas cada vez mais fortes, lançando um volume de água cada vez maior na embarcação, que íamos resistindo, contendo os vômitos e nos atracando às mesas onde havíamos sentados.

De repente, mulheres começaram a rezar, outras a gritar, os homens segurando seus filhos e os olhos de espanto e medo a cada balanço do navio da Baiana montava o cenário de desespero e pânico que também tomou cada um de nós, que resignados esperávamos o desenlace fatal. Finalmente o mar retomou a tranquilidade, a paz, e podemos concluir a travessia sem danos a embarcação e a integridade de cada um de nós passageiros e tripulantes.

Aos passageiros, vítimas, familiares da travessia no Cavalo Marinho, nossa solidariedade, e o descanso eterno para aqueles que não estão mais entre nós. 

Foto: Ilustrativa

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