Triste manhã para nós baianos e para passageiros
do barco Cavalo Marinho que fazia a
travessia Mar Grande a Salvador, comovendo a cidade com marcas
que só o tempo vai apagar, porque procurar as causas do naufrágio, com
avaliações sobre as condições do tempo, em nada vai aliviar a dor da perda e da
saudade de quem não volta mais dessa viagem para o fim.
A mim, além da comoção trouxe lembranças que nem o
tempo consegue sepultar, já que a experiencia de desamparo e solidão no alto
mar bate com a força de um acontecimento que graças a Deus não se consumou,
para quem era marinheiro de primeira viagem.
Era o meu primeiro ano na cidade, como aluno do Colégio da Bahia e o mar para mim era apenas
belas paisagens nas revistas e nos filmes que conhecia até então. Fui escalado,
juntamente com outros colegas, por coincidência também interioranos, que nada
sabiam do mar, para um trabalho sobre a pesca em uma comunidade na ilha de Itaparica, conhecer ou não em nada impediu que fôssemos designados para esta tarefa.
A viagem transcorria sem sobressalto naquela manhã
bonita de abril, quando o mar começou a se mostrar agitado, com ondas cada vez
mais fortes, lançando um volume de água cada vez maior na embarcação, que íamos
resistindo, contendo os vômitos e nos atracando às mesas onde havíamos sentados.
De repente, mulheres começaram a rezar, outras a
gritar, os homens segurando seus filhos e os olhos de espanto e medo a cada
balanço do navio da Baiana montava o
cenário de desespero e pânico que também tomou cada um de nós, que resignados esperávamos
o desenlace fatal. Finalmente o mar retomou a tranquilidade, a paz, e podemos
concluir a travessia sem danos a embarcação e a integridade de cada um de nós
passageiros e tripulantes.
Aos passageiros, vítimas, familiares da travessia
no Cavalo Marinho, nossa solidariedade,
e o descanso eterno para aqueles que não estão mais entre nós.
Foto: Ilustrativa
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