Revi esta semana o documentário “Coisa mais linda – História e casos da bossa nova” do cineasta Paulo Thiago, de 2005, em homenagem, mais uma, aos 40 anos da bossa nova. O filme é um primor de delicadeza, saudade e belas canções. Apresentado e conduzido por Roberto Menescal e Carlos Lyra que voltam a uma Copacabana onde eles e um grande número de jovens da zona sul romperam em definitivo com os sambas-canções do tipo “ninguém me ama, ninguém me quer”, para cantar o amor, o mar, o sorriso e a flor em canções inesquecíveis. São histórias e casos por mais conhecidos que sejam é sempre prazeroso voltar a ouvir e saber como tudo e onde começou, além de fatos curiosos que eles e os amigos bossanovistas vivenciaram. O prédio onde ficava o apartamento dos pais de Nara, ponto de encontro deles, João Gilberto, Tom Jobim, Vinicius, Silvinha Teles, Chico Feitosa, Newton Mendonça, os Cariocas, Norma Benguel e outros tantos casos são mostrados e revisitados sem saudosismos, mas com a certeza de quem fez a história.
Aliás, sobre a Norma Benguel, o Menescal conta uma passagem muito interessante. Norma já era uma atriz famosa na noite, em espetáculos de vedetes do Carlos Machado. Ela já havia sido protagonista do primeiro nu frontal do cinema brasileiro e pela sua aproximação com o pessoal da bossa nova acabou gravando um disco com a participação de Vinicius de Moraes. O disco trazia na capa o modo como Norma gostava de andar: nua, embora envolta em sombras, fundo escuro que deixava à mostra apenas sua silhueta, suas curvas, mas nada de escândalo. O hoje cineasta Cacá Diegues que na época era estudante de Direito na PUC e presidente do diretório fez contato com seus amigos que freqüentavam o grupo da bossa nova e convidou a turma para uma apresentação no teatro de arena da faculdade. Pediu permissão à reitoria católica que concordou com o espetáculo, contanto que a Norma Benguel não viesse. Tentaram demover a direção da PUC da censura, que não deu ouvido e permaneceu irredutível, já que Norma para os padrões da época e em especial para a Igreja Católica era um escândalo ambulante.
O show foi um “arrasa quarteirão”, provocando engarrafamentos, super lotação do espaço e essas coisas do amadorismo do “show business”. Um amigo de Menescal que era presidente do diretório da FAU (Faculdade Arquitetura e Urbanismo) da UFRJ pediu agenda para a turma para que eles armassem também o show em seu auditório, com Norma e tudo, se possível nua. Um gaiato!
Foto: Capa do disco de Norma Benguel
Foto: Capa do disco de Norma Benguel
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