O Sumiço
da Santa é talvez o romance de Jorge
Amado onde a religiosidade, a política e o racismo são abordados em uma
amplitude e em uma dimensão como nenhum outro romance seu tocou estes temas.
Toda a trama é pontilhada por um humor desconcertante e um transbordamento de alegria
e fé em que o povo da cidade é autor e coadjuvante de sua própria história, o que
seria impensável tal trama pudesse ocorrer em outras paragens que não na Bahia. Com a riqueza deste material no
formato de romance era inevitável a sua transposição para o teatro, entregando
inicialmente a tarefa a um dramaturgo para a elaboração dos diálogos e a
construção das cenas.
E então foi só mãos a obra para o diretor Fernando Guerreiro e a sua longa e vitoriosa
experiência em textos onde o humor, a comédia e o escracho estão sempre
presentes. Ele recorreu a Claudio Simões,
outro bem sucedido autor do teatro baiano, para que desse à história do Sumiço da Santa uma linguagem teatral o
que acontece no ACBEU, onde
assistimos sábado passado, após termos voltado da bilheteria na sexta feira com
lotação esgotada.
O causo ou a história começa quando a imagem de
Santa Bárbara trazida de Santo Amaro para Salvador, em um saveiro, onde abrilhantaria a exposição de arte
sacra nas dependências do Museu, foi
roubada misteriosamente. A partir dai se instaura uma verdadeira zona de fé,
preconceito racial e religioso, envolvendo figuras caricatas e engraçadas como
o padre espanhol, a beata católica, sua filha biológica e de santo, a mãe de
santo, o bispo, o policial, o delegado de costumes e toda uma gama de
personagens que só se vê na Bahia.
Para alguns, Santa Bárbara não foi
surrupiada, mas sofreu uma transmutação em forma de Iansã e saiu pelas ruas da cidade do Salvador, junto ao povo que
participava de um carnaval fora de época para atender uma equipe de
cinegrafistas franceses que filmava por aqui um documentário sobre o nosso
povo, nossa gente e sua decantada alegria.
São duas horas de intenso bom humor a cargo de
consagrados atores da cena baiana com trabalhos já premiados em festivais como Andrea Elia, Marcelo Prado, Agnaldo Lopes,
Marinho Gonçalves entre outros numa produção dispendiosa que contou com o
apoio da Chesf, Embasa e Banco do
Nordeste. Um bom momento do teatro baiano!
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