quarta-feira, 7 de novembro de 2012

O sumiço da santa.


O Sumiço da Santa é talvez o romance de Jorge Amado onde a religiosidade, a política e o racismo são abordados em uma amplitude e em uma dimensão como nenhum outro romance seu tocou estes temas. Toda a trama é pontilhada por um humor desconcertante e um transbordamento de alegria e fé em que o povo da cidade é autor e coadjuvante de sua própria história, o que seria impensável tal trama pudesse ocorrer em outras paragens que não na Bahia. Com a riqueza deste material no formato de romance era inevitável a sua transposição para o teatro, entregando inicialmente a tarefa a um dramaturgo para a elaboração dos diálogos e a construção das cenas.

E então foi só mãos a obra para o diretor Fernando Guerreiro e a sua longa e vitoriosa experiência em textos onde o humor, a comédia e o escracho estão sempre presentes. Ele recorreu a Claudio Simões, outro bem sucedido autor do teatro baiano, para que desse à história do Sumiço da Santa uma linguagem teatral o que acontece no ACBEU, onde assistimos sábado passado, após termos voltado da bilheteria na sexta feira com lotação esgotada.

O causo ou a história começa quando a imagem de Santa Bárbara trazida de Santo Amaro para Salvador, em um saveiro, onde abrilhantaria a exposição de arte sacra nas dependências do Museu, foi roubada misteriosamente. A partir dai se instaura uma verdadeira zona de fé, preconceito racial e religioso, envolvendo figuras caricatas e engraçadas como o padre espanhol, a beata católica, sua filha biológica e de santo, a mãe de santo, o bispo, o policial, o delegado de costumes e toda uma gama de personagens que só se vê na Bahia. Para alguns, Santa Bárbara não foi surrupiada, mas sofreu uma transmutação em forma de Iansã e saiu pelas ruas da cidade do Salvador, junto ao povo que participava de um carnaval fora de época para atender uma equipe de cinegrafistas franceses que filmava por aqui um documentário sobre o nosso povo, nossa gente e sua decantada alegria.

São duas horas de intenso bom humor a cargo de consagrados atores da cena baiana com trabalhos já premiados em festivais como Andrea Elia, Marcelo Prado, Agnaldo Lopes, Marinho Gonçalves entre outros numa produção dispendiosa que contou com o apoio da Chesf, Embasa e Banco do Nordeste. Um bom momento do teatro baiano!           

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