Ontem cedo, pela manhã ao chegar, já me deparei com uma cena que por anos também compõe a paisagem do carnaval e expõe as nossas mazelas, nossas chagas sociais. Famílias humildes, simples, da periferia ou de cidades próximas, mas de igual extrato social, se amontoam pelas calçadas, muros, passeios de residências, portas de estabelecimento comercial prestes a encerrar suas atividades para dar passagem ao Carnaval, em busca da conquista de alguns trocados para a sua manutenção ou daquilo que incha o seu numeroso clã. Velhos, jovens, senhoras, moças morenas e gordas, crianças, cadeirantes, cachorros, um por todos e todos juntos para carregar seus lençóis puídos, panelas velhas e sujas, colchonetes implorando o caminhão da Limpurb, fogões de 04 bocas, sem dentes, geladeiras Consul ou Gelomatic, isopores, fogareiros, sacolas, malas tudo muito pobre e degradante mas, pela sobrevivência.
À tarde, percorrendo parte do circuito Barra-Ondina, como quem fiscalizasse o percurso, fiquei a observar o luxo e a ostentação que esperam os foliões (será que são mesmos?) abastados que participarão do Carnaval pendurados em reluzentes e iluminados camarotes. A cabeça gira querendo parar em algum ponto, onde provavelmente desci e, que embalaram velhos sonhos igualitários e juvenis e, reajo: Viva a desigualdade. “Oh! Mundo tão desigual/tudo é tão desigual/Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!/Oh! de um lado esse carnaval/do outro a fome total/Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!...” (Gil e Paralamas)
Foto: Interior do Trio de Ivete Sangalo.
Foto: Interior do Trio de Ivete Sangalo.
Nenhum comentário:
Postar um comentário