sexta-feira, 8 de fevereiro de 2013

De um lado este Carnaval, do outro...

Mais uma vez na cidade que não sai de mim, em meio a uma festa que insiste em não me deixar, ainda que sem o mesmo significado de antes, onde vivi a ilusão de ter sido rei; um rei da folia. Não sei se pela localização de nosso apartamento a festa carnavalesca nos acompanha ou resiste mesmo em nos deixar. Vivenciamos a sensação de ter o trio elétrico dentro da nossa sala e que o simples atravessar do corredor já nos põe em contato com o botão do volume na tentativa de humanizar o som, como se fosse possível. O Carnaval de tão intimo já se esparrama na sala independente do nosso cansaço de viagem e do sono, é como se ele, o carnaval, dissesse: “pode entrar a casa é sua”, quer dizer, dele.

Ontem cedo, pela manhã ao chegar, já me deparei com uma cena que por anos também compõe a paisagem do carnaval e expõe as nossas mazelas, nossas chagas sociais. Famílias humildes, simples, da periferia ou de cidades próximas, mas de igual extrato social, se amontoam pelas calçadas, muros, passeios de residências, portas de estabelecimento comercial prestes a encerrar suas atividades para dar passagem ao Carnaval, em busca da conquista de alguns trocados para a sua manutenção ou daquilo que incha o seu numeroso clã. Velhos, jovens, senhoras, moças morenas e gordas, crianças, cadeirantes, cachorros, um por todos e todos juntos para carregar seus lençóis puídos, panelas velhas e sujas, colchonetes implorando o caminhão da Limpurb, fogões de 04 bocas, sem dentes, geladeiras Consul ou Gelomatic, isopores, fogareiros, sacolas, malas tudo muito pobre e degradante mas, pela sobrevivência.

À tarde, percorrendo parte do circuito Barra-Ondina, como quem fiscalizasse o percurso, fiquei a observar o luxo e a ostentação que esperam os foliões (será que são mesmos?) abastados que participarão do Carnaval pendurados em reluzentes e iluminados camarotes. A cabeça gira querendo parar em algum ponto, onde provavelmente desci e, que embalaram velhos sonhos igualitários e juvenis e, reajo: Viva a desigualdade. “Oh! Mundo tão desigual/tudo é tão desigual/Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!/Oh! de um lado esse carnaval/do outro a fome total/Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô Ô!...” (Gil e Paralamas)

Foto: Interior do Trio de Ivete Sangalo.

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