segunda-feira, 25 de fevereiro de 2013

Vocês não estão entendendo nada...

45 anos depois parece que “ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais”. Pelo menos os filhos daqueles futuros pais, jovens universitários, que estiveram no TUCA, em São Paulo, presentes à fase classificatória do 3º Festival Internacional da Canção, da TV Globo, em 1968 e vaiaram, impiedosamente, Caetano e sua música concorrente, É proibido proibir. Os filhos daquela juventude de esquerda, dentro e fora do TUCA, mereciam ouvir aquele discurso de um Caetano, indignado, possesso, apoplético, cujos pais embora politizados se mostraram incapazes de compreender o novo, a vanguarda, o que não fosse contestação ao regime militar.

Caetano e Gil pela ousadia demonstrada no ano anterior, com Alegria, alegria e Domingo no Parque teriam, segundo o olhar obtuso da turba em fúria, que se aliar a Vandré, Chico, Edu, Sérgio Ricardo entre outros jovens músicos, como resistência ao golpe de 64 e entoar canções de teor contestatório. Eles estavam em outra, que não à simples contestação política, mas atentos a aspectos desiguais de nossa cultura que talvez não fizessem parte do receituário revolucionário. O mundo, a música, o nosso subdesenvolvimento cultural tinham para eles o mesmo peso político que a guerrilha urbana ou rural pregadas pelas agremiações de esquerda da qual parte considerável da platéia do TUCA era simpatizante.

Desde o início da apresentação de Caetano, acompanhado dos Mutantes, e mesmo antes, nos bastidores, já se prenunciava o clima de hostilidade com que ele seria recebido pela platéia do TUCA. Roupas de plástico, as guitarras dos Mutantes, versos anarquistas em meio à citação de versos de Fernando Pessoa, alem de ressentimentos e ódio da platéia pelo endurecimento do regime conspiravam contra Caetano. Ele já esperava a reação, porem, não com a força de uma vaia ensurdecedora e atitudes agressivas de uma platéia feroz. Descontrolado, Caetano iniciou um discurso que se tornaria histórico e célebre, ao tempo em que dava munição aos seus algozes para a sua prisão com Gil, no ano seguinte.

 “Mas é isso que é a juventude que diz que quer tomar o poder? Vocês têm coragem da aplaudir, este ano, uma música, um tipo de música que vocês não teriam coragem da aplaudir no ano passado!...

Quem teve essa coragem de assumir essa estrutura e fazê-la explodir foi Gilberto Gil e fui eu. Não foi ninguém, foi Gilberto e fui eu!”“.

“Vocês estão por fora! Vocês não dão para entender. Mas que juventude é essa?! Vocês jamais conterão ninguém. Vocês são iguais sabem a quem? São iguais sabem a quem? Tem som no microfone? Vocês são iguais sabem a quem? Àqueles que foram na Roda Viva e espancaram os atores! Vocês não diferem em nada deles, vocês não diferem em nada. E por falar nisso, viva Cacilda Becker!...

“O problema é o seguinte: vocês estão querendo policiar música brasileira! [...] Mas eu e o Gil já abrimos o caminho, o que é que vocês querem? Eu vim aqui para acabar com isso. Ninguém nunca me ouviu falar assim. Entendeu? Eu só queria dizer isso, baby... se vocês, em política, forem como são em estética, estamos feitos! Me desclassifiquem junto com o Gil! Junto com ele, tá entendendo? E quanto a vocês... O júri é muito simpático, mas é incompetente. Deus está solto!”.

Foto: Caetano - 1969

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