Mônica Salmaso é dessas artistas brasileiras
que não se submete ao mercado, a não ser o mercado do bom gosto, da boa música,
da sofisticação musical e de uma voz mansa e límpida, de quem canta como se nos
surrasse ao ouvido, belas melodias, lindas poesias. Nestes tempos de Anita, Marília Mendonça, Sismara e Cismada,
Maiara e Maresia entre outras nulidades, Mônica com seus 13 discos gravados, atravessa o pântano dessa
música comercial, cavando preciosidades no garimpo de nossa fértil e rica canção
brasileira.
Em seu mais novo disco, Caipira,
ela ao lodo de músicos excepcionais como Teco
Cardoso, Toninho Ferragutti, Nailor Proveta, Robertinho Silva e André Mehmari mergulha no Brasil profundo, dos grotões, dos
sertões ou na companhia de canções como Bom
dia, de Gil e Nana Caymmi, 1967, ou na surpreendente veia
sertaneja do baiano Roque Ferreira,
na beleza derramada de Baile Perfumado.
Também, do baiano Roque, um samba já
gravado por Zeca Pagodinho, mas aqui
vestido por um arranjo que transforma Água
de minha sede, em uma moda de viola.
O disco, já baixado na internet (desculpem!) não sai de meu MP3 ou
no notebook onde escrevo essas abobrinhas, onde uma canção antiga de Hekel Tavares e Joracy Camargo, de 1933, Leilão,
de um lamento sertanejo, que quem é de lá se identifica, ou não, pela tristeza
da letra e pela dolência da interpretação de emoção contida na voz da grande
intérprete. Ouço como quem lembra esses tempos infelizes de preconceito racial.
O que não é novidade em sua discografia, Mônica Salmaso, continua burilando canções que já passaram por
outras vozes, mas que com ela ganha personalidade própria, como podemos
assistir em Corpo de baile,
apresentado no Teatro Castro Alves,
o ano passado, em que estivemos presente.
Foto: Capa do CD Caipira
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