sábado, 2 de setembro de 2017

Caipira


Mônica Salmaso é dessas artistas brasileiras que não se submete ao mercado, a não ser o mercado do bom gosto, da boa música, da sofisticação musical e de uma voz mansa e límpida, de quem canta como se nos surrasse ao ouvido, belas melodias, lindas poesias. Nestes tempos de Anita, Marília Mendonça, Sismara e Cismada, Maiara e Maresia entre outras nulidades, Mônica com seus 13 discos gravados, atravessa o pântano dessa música comercial, cavando preciosidades no garimpo de nossa fértil e rica canção brasileira.

Em seu mais novo disco, Caipira, ela ao lodo de músicos excepcionais como Teco Cardoso, Toninho Ferragutti, Nailor Proveta, Robertinho Silva e André Mehmari mergulha no Brasil profundo, dos grotões, dos sertões ou na companhia de canções como Bom dia, de Gil e Nana Caymmi, 1967, ou na surpreendente veia sertaneja do baiano Roque Ferreira, na beleza derramada de Baile Perfumado. Também, do baiano Roque, um samba já gravado por Zeca Pagodinho, mas aqui vestido por um arranjo que transforma Água de minha sede, em uma moda de viola.

O disco, já baixado na internet (desculpem!) não sai de meu MP3 ou no notebook onde escrevo essas abobrinhas, onde uma canção antiga de Hekel Tavares e Joracy Camargo, de 1933, Leilão, de um lamento sertanejo, que quem é de lá se identifica, ou não, pela tristeza da letra e pela dolência da interpretação de emoção contida na voz da grande intérprete. Ouço como quem lembra esses tempos infelizes de preconceito racial.

O que não é novidade em sua discografia, Mônica Salmaso, continua burilando canções que já passaram por outras vozes, mas que com ela ganha personalidade própria, como podemos assistir em Corpo de baile, apresentado no Teatro Castro Alves, o ano passado, em que estivemos presente.

Foto: Capa do CD Caipira

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