Confesso ter desprezado o disco Refavela, de Gil, lançado em 1977,
talvez levado por uma crítica do jornalista Tárik de Souza, na revista Veja,
quando essa publicação era um veículo que se lia sem sujar as mãos, sentir asco,
em que o sempre lúcido, Tárik
apelidava o disco de “rebobagem”. Não era.
Eram tempos duros, intransigentes, aqueles anos 70, em que se pedia, se exigia um
engajamento, uma conotação política aqui e ali, uma metáfora além, atrás das
verdes matas, enquanto Gil estava
mais contemplativo e envolvido por saudável toque africano, fruto de sua
passagem pela Nigéria, e outros
países da África.
Hoje ouço Refavela,
livre, leve, solto, sem tempo para
lembrar o tempo que passou; não
tenho mais tempo para isso e sim para
buscar a beleza dos sons e das palavras como aqueles e aquelas do disco de Gil, que expressavam a dura realidade
racial de uma país segregado como o nosso, e trazia o batuque, o som do tambor
para o universo musical da MPB.
Canções como Sandra,
Aqui e agora, No norte da Saudade, Era nova, são significativas na
discografia do artista, tanto quanto o seu celebrado Refazenda. Não gosto da pretensa modernidade buscada na gravação de
Samba do avião, em Refavela, assim como algo que ele
voltaria a fazer com Marina em Realce, aqui já coberto de purpurina,
desbundado, dançando para não dançar.
Foto: Ilustrativa
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