domingo, 3 de setembro de 2017

Refavela

Confesso ter desprezado o disco Refavela, de Gil, lançado em 1977, talvez levado por uma crítica do jornalista Tárik de Souza, na revista Veja, quando essa publicação era um veículo que se lia sem sujar as mãos, sentir asco, em que o sempre lúcido, Tárik apelidava o disco de “rebobagem”. Não era.

Eram tempos duros, intransigentes, aqueles anos 70, em que se pedia, se exigia um engajamento, uma conotação política aqui e ali, uma metáfora além, atrás das verdes matas, enquanto Gil estava mais contemplativo e envolvido por saudável toque africano, fruto de sua passagem pela Nigéria, e outros países da África.

Hoje ouço Refavela, livre, leve, solto, sem tempo para lembrar o tempo que passou; não tenho mais tempo para isso e sim para buscar a beleza dos sons e das palavras como aqueles e aquelas do disco de Gil, que expressavam a dura realidade racial de uma país segregado como o nosso, e trazia o batuque, o som do tambor para o universo musical da MPB.

Canções como Sandra, Aqui e agora, No norte da Saudade, Era nova, são significativas na discografia do artista, tanto quanto o seu celebrado Refazenda. Não gosto da pretensa modernidade buscada na gravação de Samba do avião, em Refavela, assim como algo que ele voltaria a fazer com Marina em Realce, aqui já coberto de purpurina, desbundado, dançando para não dançar.

Foto: Ilustrativa

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