domingo, 14 de outubro de 2012

Dançando na chuva, como Gene Kelly

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Rever no Piritiba News a reprodução da peça publicitária para o Jardim da Saudade que fiz juntamente com a jovem paulista Márcia, dona de uma academia de ginástica na Pituba, à época, e que nunca mais encontrei, foi como marcar o inicio da minha breve carreira no mundo da publicidade. O fim se deu com o comercial para o Shopping Barra, em uma campanha para o Dia dos Namorados em 2006. Logo depois que o filme foi e saiu do ar, tentei com a agência e com o próprio Shopping uma cópia do vídeo sem sucesso, diante de alegações as mais frouxas possíveis e que em resumo era má vontade mesmo. Este ano conversando com uma “ferinha” em informática da empresa onde trabalhava, ele me prometeu que conseguiria e assim foi feito. Certo dia ele me entregou um CD em que estava o tal vídeo da campanha de 2006, em que eu como um Gene Kelly entrevado cantava e dançava na chuva, naquele pequeno filme narrado pelo ator baiano Marcelo Prado cujo tema era a felicidade e suas várias manifestações.

As gravações, apenas a parte que me tocava, foram feitas durante uma manhã de sábado, numa das ruas do Horto Florestal e cujo set de filmagem era a mansão de uma senhora amiga de alguém da produção. Ali a equipe se reunia, trocava de roupa e recebia as instruções verbais do que deveria ser feito e que depois seria ensaiada no próprio local da filmagem. Era algo simples que talvez desempenhasse sem qualquer dificuldade não fosse o diretor, um japonês paulista, um Aikra Kurosawa mal resolvido, fosse tão exigente comigo. “Olha prá frente”, “levanta a cabeça”, “suspende o guarda chuva”, “sobe no meio fio”, “desce do meio fio”, “canta a música do MP3” era muita coisa, muito comando, muita gritaria, para as 09 horas da manhã de um sábado e ainda debaixo de chuva. Ainda que a chuva fosse cenográfica, ou até pior, pois gastava a água da vizinhança e que alimentava uma espécie de enorme chuveiro que acompanhava sobre a minha cabeça esta via sacra sob os gritos do japonês. Pensei em desistir e mandar o japonês para alguma esquina da Nagasaki, em 1945, mas resisti pela gentileza da equipe de produção em especial da jovem Lívia que havia feito o contato comigo.

Próximo ao meio dia o resultado foi dado como satisfatório após a repetição da cena em pelo menos 10 ocasiões e cujas interrupções também atendiam a entrada e saída de moradores de suas residências e o lanche oferecido pela produção para agüentar o repuxo do japonês. Quando terminei a participação na filmagem o boné de mafioso italiano, o pulôver, a camisa e calça de fino corte que usava, assim como o sapato estavam em estado desolador e provavelmente recusadas pelo primeiro carente que se apresentasse. Hoje revendo o filme, dá prá ver como o cinema é terra do faz de conta, pois tudo aquilo que gastamos uma manhã para fazer, em que pese o japonês, foi reduzido a poucos segundos em que apareço cantando e dançando, ou melhor tentando na chuva, como um Gene Kelly baiano.

Texto: Reprodução do blog Bazo Borges no IG, em agosto de 2011.

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