quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Jesus, Jesus, Jesus

"De Porto Alegre ao Acre/a pobreza só muda o sotaque” são os versos do referão de Seres Tupy música gravada por Ney Matogrosso e Pedro Luís com seus percussionistas da Parede e do “arrasa quarteirão” do carnaval de rua do Rio, o Monobloco, faixa do excelente disco Vagabundo. Sempre que estou em casa, onde estão os CD’s e DVD’s, revejo o DVD de Vagabundo, que traz o diferencial de ser a concepção e gravação da cada faixa do disco em estúdio. Ali, são perceptíveis os palpites dos músicos e dos intérpretes na formatação ideal do arranjo, uma obra coletiva, com piadas, opiniões, tentativas de encontro do timbre perfeito e a gravação propriamente dita.

É possível que das vezes anteriores que assisti o DVD não tenha dado conta da observação de Ney quanto à faixa Jesus, que lhe foi mostrada há bastante tempo e que na época ele não se achou seguro em efetuar o registro, a gravação daquela música. Compreende-se, pois hoje, a música pode ser vista com os olhos menos preconceituosos e mais descrentes, face os rumos comerciais tomados pelas religiões, em especial as evangélicas, em que a figura de Jesus foi e é banalizada a níveis incômodos para os mais crédeulos ou para aqueles reticentes quanto a tudo isso.

Em relação à música Jesus, que parece ter sido composta por um time de futebol, tal a quantidade de pecadores envolvidos na obra, pode ser vista como uma brincadeira em torno de sua divindade, o que seria uma blasfêmia, ou mesmo a desconstrução de uma imagem, o que não redimiria seus autores perante a comunidade cristã. Trechos da composição falam por si:
Dizem que Jesus morreu na cruz
mas eu tive com ele na Dutra, em Queluz
levava na cabeça um tabuleiro de cuscuz
cocada de céu, cocada de luz
cocada de céu, cocada de luz cocada de céééuuu...
....
Nós vamos tirar Jesus da cruz
porque o rapaz está pregado
naqueles pedaços de pau
há mais de dois mil anos
Vamos deixar ele com os pés
e as mãos livres
que ele vai pular, dançar
virar cambalhota
e fazer muito melhor.
Mas é muito melhor!
...
Jesus, Jesus,
Jesus, Jesus, Jesus.
Foto: Pedro Luís e A Parede

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