Esta semana algumas vezes acordei com o barulho
da chuva sobre o telhado. Pensando bem, barulho não é uma associação condizente
com a chuva. Barulho é rock, chuva é sinfonia, nos leva a um prelúdio de Chopin, um solo de Baden, um acalanto de Caymmi,
enquanto molha o telhado, escorre na bica, lava a nossa alma, encharca a terra,
espalha o verde e a fartura na mesa.
Fartura representada pelo viço e o verde do
espinafre, da língua de vaca, da palma cortada bem miúda, que embora independa
da chuva é benéfica ao seu cultivo; do molho de alface, dos grãos de andú,
mangalô, feijão verde e fava, tudo aquilo que a chuva nos traz de alimento e
prazer.
Também resistente à chuva, mas igualmente bela
em sua plasticidade e seu verde matizado de amarelo e vermelho de seus frutos,
como as cores das mangueiras nos quintais de cada casa da cidade. Beleza igual àquela do quintal de Dona Cristina que insensível
ao nosso desejo, ante a exuberância de seus frutos, a manga, não dava, não
vendia, nem permitia qualquer aproximação de seu quintal. Mas, não desistíamos,
já que a sua madorna após o almoço era a toda a baixa de guarda que precisávamos
para escalar o muro de seu quintal e nos embrenharmos pelos galhos de sua
mangueira e recolher a quantidade possível de manga-mamão, para o desespero dela
ao acordar.
Dona Cristina nunca
soube o doce de suas mangas, nem o doce da solidariedade e da partilha, ela que
talvez estivesse mais próxima do azedume do tamarindo que da doçura de suas/nossas
mangas.
Foto: Ilustrativa
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