sábado, 11 de janeiro de 2014

Os frutos da terra.

Esta semana algumas vezes acordei com o barulho da chuva sobre o telhado. Pensando bem, barulho não é uma associação condizente com a chuva. Barulho é rock, chuva é sinfonia, nos leva a um prelúdio de Chopin, um solo de Baden, um acalanto de Caymmi, enquanto molha o telhado, escorre na bica, lava a nossa alma, encharca a terra, espalha o verde e a fartura na mesa. 

Fartura representada pelo viço e o verde do espinafre, da língua de vaca, da palma cortada bem miúda, que embora independa da chuva é benéfica ao seu cultivo; do molho de alface, dos grãos de andú, mangalô, feijão verde e fava, tudo aquilo que a chuva nos traz de alimento e prazer.

Também resistente à chuva, mas igualmente bela em sua plasticidade e seu verde matizado de amarelo e vermelho de seus frutos, como as cores das mangueiras nos quintais de cada casa da cidade. Beleza igual àquela do quintal de Dona Cristina que insensível ao nosso desejo, ante a exuberância de seus frutos, a manga, não dava, não vendia, nem permitia qualquer aproximação de seu quintal. Mas, não desistíamos, já que a sua madorna após o almoço era a toda a baixa de guarda que precisávamos para escalar o muro de seu quintal e nos embrenharmos pelos galhos de sua mangueira e recolher a quantidade possível de manga-mamão, para o desespero dela ao acordar. 

Dona Cristina nunca soube o doce de suas mangas, nem o doce da solidariedade e da partilha, ela que talvez estivesse mais próxima do azedume do tamarindo que da doçura de suas/nossas mangas.       

Foto: Ilustrativa                        

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