quarta-feira, 8 de maio de 2013

"É os pingo da chuva me molhar"


De volta ao mercado informal e ilegal da comercialização de CD com gravações no formato MP3, com a discografia de determinado artista, voltei a ouvir grande parte do repertório dos Novos Baianos, que foi trilha sonora de determinados e significativos momentos de nossa juventude. Foi como se aqueles instantes de envolvimento e sonho musical presente, hoje, pudesse ter me colocado diante de um espelho de volta aos anos 70. E ali estava eu, com os cabelos longos sobre os ombros, calça jeans desbotada e poída, sandálias de couro cru compradas na Barroquinha, livros de Herman Hesse debaixo do braço e um ar blasé de quem vivia permanentemente entediado. Uma figura, uma coisa. Não é sem sentido a semelhança que encontravam entre a minha pessoa e o Paulinho Boca de Cantor. 

O disco Acabou Chorare, resultado musical de um encontro dos Novos Baianos com João Gilberto é um dos 10 discos mais importantes da música brasileira, presente na antologia de qualquer crítico de música popular. Não bastasse o sucesso Preta, pretinha, o disco Acabou Chorare trouxe para o centro do gosto musical da juventude roqueira da época, o nosso instrumental brasileiro à base de bandolim, cavaquinho, violão, além da guitarra baiana eletrificados do jeito que Jimi Hendrix, Eric Clapton, Jimmy Page ou B.B King mandaram. Estava fincada ali a base musical dos Novos Baianos, que a partir do disco seguinte, Futebol Clube, manteve a mesma sonoridade brasileira e elétrica, significando também a consolidação da carreira dos “malucos” que agora viviam em um sítio, em Jacarepaguá, formando uma comunidade que nunca se sabia ao certo o número de seus moradores. Certo mesmo só a generosidade do “baseado” que movia tudo e todos

Deste disco Novos Baianos Futebol Clube, hoje me chama atenção a gravação de Baby Consuelo para Os pingos da Chuva, que tem letra de Galvão e música de Pepeu Gomes e Moraes Moreira. Da composição consta um verso repetido a exaustão, que causa estranhamento auditivo a sua esquisita concordância verbal: “É os pingo da chuva me molhar/é os pingo da chuva me molhar!/É os pingo da chuva me molhar”. Para um poeta e escritor como Galvão deve ter sido um descuido gramatical ou um “baseado” de procedência duvidosa.

Foto: Paulinho Boca de Cantor, Baby, Moraes e Galvão.

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