De volta ao mercado informal e ilegal da
comercialização de CD com gravações
no formato MP3, com a discografia de
determinado artista, voltei a ouvir grande parte do repertório dos Novos Baianos, que foi trilha sonora de
determinados e significativos momentos de nossa juventude. Foi como se aqueles
instantes de envolvimento e sonho musical presente, hoje, pudesse ter me colocado
diante de um espelho de volta aos anos 70. E ali estava eu, com os cabelos longos sobre os ombros,
calça jeans desbotada e poída, sandálias de couro cru compradas na Barroquinha, livros de Herman Hesse debaixo do braço e um ar
blasé de quem vivia permanentemente entediado. Uma figura, uma coisa. Não é sem sentido a semelhança que encontravam entre a minha pessoa e o Paulinho Boca de Cantor.
O disco Acabou
Chorare, resultado musical de um encontro dos Novos Baianos com João
Gilberto é um dos 10 discos mais importantes da música brasileira, presente
na antologia de qualquer crítico de música popular. Não bastasse o sucesso Preta, pretinha, o disco Acabou Chorare trouxe para o centro do
gosto musical da juventude roqueira da época, o nosso instrumental brasileiro à
base de bandolim, cavaquinho, violão, além da guitarra baiana eletrificados do
jeito que Jimi Hendrix, Eric Clapton,
Jimmy Page ou B.B King mandaram. Estava fincada ali a base musical dos Novos Baianos, que a partir do disco
seguinte, Futebol Clube, manteve a
mesma sonoridade brasileira e elétrica, significando também a consolidação da
carreira dos “malucos” que agora viviam em um sítio, em Jacarepaguá, formando uma comunidade que nunca se sabia ao certo o
número de seus moradores. Certo mesmo só a generosidade do “baseado” que movia
tudo e todos
Deste
disco Novos Baianos Futebol Clube,
hoje me chama atenção a gravação de Baby
Consuelo para Os pingos da Chuva, que
tem letra de Galvão e música de Pepeu Gomes e Moraes Moreira. Da
composição consta um verso repetido a
exaustão, que causa estranhamento auditivo a sua esquisita concordância verbal:
“É os pingo da chuva me molhar/é os pingo da chuva me molhar!/É os pingo da
chuva me molhar”. Para um poeta e escritor como Galvão deve ter sido um descuido gramatical ou um “baseado” de procedência
duvidosa.
Foto: Paulinho Boca de Cantor, Baby, Moraes e Galvão.
Foto: Paulinho Boca de Cantor, Baby, Moraes e Galvão.
Nenhum comentário:
Postar um comentário