"Aqui é festa, amor/e há tristeza em minha vida". Lembrei dos versos da canção do Otto, de quem assisti um show recente na Concha do Teatro Castro Alves por expressar numa mesma frase a afirmação de “festa” e “tristeza”. A música brasileira está cheia de versos e rimas de “amor e dor” como sendo situações antagônicas, uma espécie de contraponto para a plenitude do amor, e a existência e a possibilidade da dor. Na música de Otto na há a anulação de um estado de espírito para a que se estabeleça o desencanto, pelo contrário, há o reconhecimento da “festa” embora com a constatação de que “há tristeza em minha vida”. Evidente que o verso fora do contexto da canção Filha tem o significado que se queira dar, sem no entanto perder a sua expressividade melódica e poética.
Diferente, por exemplo, do poema de Carlos Drummond de Andrade, “Não se mate” em que a desesperança é a saída e a razão de tantas existências:
Carlos, sossegue, o amor
é isso que você está vendo:
hoje beija, amanhã é domingo
e segunda feira ninguém sabe
o que será.
Inútil você resistir
ou mesmo suicidar-se.
Não se mate, oh não se mate.
Reserve-se todo para
as bodas que ninguém sabe
quando virão
se é que virão.
Foto: Julinha
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