Faria tudo para apagar da memória aqueles momentos
de pavor e medo ao ter sobre a cabeça o cano ameaçador de um revolver em meio a
palavrões e xingamentos surgidos da nada, do desequilíbrio de quem tudo queria
frente a quem nada negaria para manter intacta a sua integridade, a sua vida. Tudo
passa como um filme de terror de um desfecho conhecido e que só a mão divina foi
capaz de permitir que hoje lembrasse amargurado experiências tão desumanas e irracionais
cada dia mais banalizadas e frequentes na vida de todos nós.
Havia na Pituba,
em frente ao Clube Português, o Bar Travessia, o mais novo reduto da
juventude e da boemia da cidade. Encontrar uma mesa, uma vaga, um mero atendimento
era tarefa para aventureiro, que nunca desistia de estar num espaço que
transpirava alegria e gente bonita. Antes das cinco de um dia de sábado saímos
do Travessia de volta prá casa, já
que às 06 levaríamos Camila para um aniversário infantil da filha de amigos
nossos. Ao entrar no carro e bater a porta tivemos a desprazer e o espanto de
ver apontados nos vidros de cada uma das portas um revólver e o comando de que
passássemos para o banco traseiro com a cabeça abaixada. Ocuparam a direção do
carro e a velocidade que imprimiam, mais os freios e os zigue-zague que faziam deixava
a impressão e a certeza que motorista era primário, ou o medo era tanto quanto
o nosso. Ser ladrão e ser honesto são faces de uma mesma moeda.
Mais adiante estavam na espera mais dois
comparsas que passaram a integrar o bando, enquanto éramos colocados no banco
traseiro do carro. Ainda hoje imagino como acomodei meus quase 1,80 m de altura
e quase 90 quilos, à época, juntamente com o amigo de infortúnio, na mala de um
Corcel. Fomos deixados com as mãos amarradas
em um matagal com o lembrete reconfortante de que iriam fazer um assalto em Camaçari e que depois viriam entregar o
carro. Uma piada imprópria para o momento. Antes de nos abandonarem eles levaram
todos os nossos pertences inclusive meus óculos, restando a cueca que nos
livrou do constrangimento de correr na direção de uma luz ao longe, para pedir
socorro, após termos as mãos e os pés livres. Em um bairro, até então
desconhecido para mim, Santo Inácio,
fomos acolhidos por alguns moradores da porta que batemos e generosos cobriram
nossas vergonhas com calções de time de futebol.
Escapamos, esta
passou ser a primeira experiência que queria única, mas que lamentavelmente se repetiria algum
tempo depois. Deus está livre!
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