Aqui
quem fala é Jesus. Não costumo falar
assim, diretamente, mas é que você não tem entendido minhas indiretas. Imagino
que já tenha ouvido falar em mim, já que se intitula cristão. Durante um tempo
achei que falasse de outro Jesus, talvez
do DJ que namorava a Madonna ou de outro Cristo aquele que embrulha prédios pra
presente já que nunca recebi um centavo do dinheiro que você coleta em meu nome
(nem quero receber, muito obrigado). Às vezes parece que você não me conhece.
Analisando
a sua conta bancária, percebo que o senhor talvez não esteja familiarizado com
um camelo ou com o buraco de uma agulha. Vou esclarecer a metáfora. Um camelo é
3.000 vezes maior do que o buraco de uma agulha. Sou mais socialista que Marx, Engels e Bakunin esse bando de
esquerda-caviar. Sou da esquerda-roots, esquerda-pé-no-chão, esquerda-mujica.
Distribuo pão e multiplico peixe, só depois é que ensino pescar.
Passei a vida descalço, pastor. Nunca fiz a
barba. Eu abraçava leproso. E na época não existia álcool gel. Fui crucificado
com ladrões e disse, com todas as letras (Mateus,
Lucas, todos estão de prova), que eles também iriam para o paraíso. Você
acha mesmo que eu seria a favor da redução da maioridade penal?
Soube
que vocês estão me esperando voltar à terra. Más notícias, pastor. Já voltei
algumas vezes. Vocês é que não perceberam. Na Idade Média, voltei prostituta e cristãos me queimaram. Depois
voltei negro e fui escravizado, os mesmos cristãos afirmavam que eu não tinha
alma. Recentemente voltei transexual e morri espancado. Peço, por favor, que
preste mais atenção à sua volta. Uma dica: olha para baixo. Agora mesmo, devo
estar apanhando de gente que segue o senhor.
Texto: Gregório Duvivier
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