sábado, 27 de junho de 2015

Tem um japonês 'trás de mim

O fim de minha breve carreira como participante de peças publicitárias se deu com o comercial para o Shopping Barra, em uma campanha para o Dia dos Namorados. Era um pequeno filme narrado pelo ator baiano Marcelo Praddo em que eu cantava e dançava na chuva, feito um Gene Kelly entrevado e cujo tema era a felicidade e suas várias manifestações.

As gravações, apenas a parte que me tocava, foram feitas durante uma manhã de sábado, numa das ruas do Horto Florestal e cujo set de filmagem era a mansão de uma senhora amiga de alguém da produção. Ali a equipe se reunia, trocava de roupa e recebia as instruções verbais do que deveria ser feito e que depois seriam ensaiadas no próprio local da filmagem. Era algo simples que talvez desempenhasse sem qualquer dificuldade não fosse o diretor, um japonês paulista, um Aikra Kurosawa mal resolvido, fosse tão exigente comigo.

“Olha prá frente”, “levanta a cabeça”, “suspende o guarda chuva”, “sobe no meio fio”, “desce do meio fio”, “canta a música do MP3” era muita coisa, muito comando, muita gritaria, para as 07 horas da manhã de um sábado e ainda debaixo de chuva. Ainda que a chuva fosse cenográfica, ou até pior, pois gastava a água da vizinhança e que alimentava uma espécie de enorme chuveiro que acompanhava sobre a minha cabeça esta via sacra sob os gritos do japonês. Pensei em desistir e mandar o japonês para alguma esquina da Nagasaki em 1945, mas resisti pela gentileza da equipe de produção em especial da jovem Lívia que havia feito o contato comigo.

Próximo de meio dia o resultado foi dado como satisfatório após a repetição da cena em pelo menos 10 ocasiões e cujas interrupções também atendiam a entrada e saída de moradores de suas residências e o lanche oferecido pela produção para agüentar o repuxo do japonês. Quando terminei a participação na filmagem o boné de mafioso italiano, o pulôver, a camisa e calça de fino corte que usava, assim como o sapato estavam em estado desolador e provavelmente recusadas pelo primeiro carente que se apresentasse.

Hoje, revendo o filme, dá prá ver como o cinema é terra do faz de conta, pois tudo aquilo que gastamos uma manhã para fazer, em que pese o japonês, foi reduzido a poucos segundo em que apareço cantando e dançando, ou melhor tentando na chuva, como um Gene Kelly baiano.

Vídeo: Youtube

Nenhum comentário:

Postar um comentário