As gravações, apenas a parte que me tocava, foram feitas durante uma manhã de sábado, numa das ruas do Horto Florestal e cujo set de filmagem era a mansão de uma senhora amiga de alguém da produção. Ali a equipe se reunia, trocava de roupa e recebia as instruções verbais do que deveria ser feito e que depois seriam ensaiadas no próprio local da filmagem. Era algo simples que talvez desempenhasse sem qualquer dificuldade não fosse o diretor, um japonês paulista, um Aikra Kurosawa mal resolvido, fosse tão exigente comigo.
“Olha prá
frente”, “levanta a cabeça”, “suspende o guarda chuva”, “sobe no meio fio”,
“desce do meio fio”, “canta a música do MP3”
era muita coisa, muito comando, muita gritaria, para as 07 horas da manhã de um
sábado e ainda debaixo de chuva. Ainda que a chuva fosse cenográfica, ou até
pior, pois gastava a água da vizinhança e que alimentava uma espécie de enorme
chuveiro que acompanhava sobre a minha cabeça esta via sacra sob os gritos do
japonês. Pensei em desistir e mandar o japonês para alguma esquina da Nagasaki em 1945, mas resisti pela
gentileza da equipe de produção em especial da jovem Lívia que havia feito o contato comigo.
Próximo de meio
dia o resultado foi dado como satisfatório após a repetição da cena em pelo
menos 10 ocasiões e cujas interrupções também atendiam a entrada e saída de
moradores de suas residências e o lanche oferecido pela produção para agüentar
o repuxo do japonês. Quando terminei a participação na filmagem o boné de
mafioso italiano, o pulôver, a camisa e calça de fino corte que usava, assim
como o sapato estavam em estado desolador e provavelmente recusadas pelo primeiro
carente que se apresentasse.
Hoje, revendo o
filme, dá prá ver como o cinema é terra do faz de conta, pois tudo aquilo que
gastamos uma manhã para fazer, em que pese o japonês, foi reduzido a poucos
segundo em que apareço cantando e dançando, ou melhor tentando na chuva, como
um Gene Kelly baiano.
Vídeo: Youtube
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