quinta-feira, 1 de outubro de 2015

O pai da noiva

Em uma gaveta de nosso quarto encontrei pedaços de um envelope de correspondência dirigida a mim, por Mãe Maria. Pelo teor da carta e de suas preocupações expressas em frases claras quanto a situação que vivíamos como estudante do Central, em meio a greves, passeatas, correrias da policia, apedrejamento de viaturas e prédios públicos, era tudo apreensão e medo. 

Compreensível o seu temor de mãe zelosa com a sua cria numa cidade que era um turbilhão ante a mansidão deixada prá trás, longe de seu colo e de seu olhar acolhedor. Era um mundo se manifestando com uma voracidade que não levou muito tempo para ser absorvido, não havia tempo a perder, era tudo ao mesmo tempo aqui, alí em todo lugar.

O tempo passou Mãe Maria e você voou prá muito longe e tudo ficou sendo saudade, lembrança, solidão destes 17 anos que vivemos juntos. Guardo cada pedacinho destes momentos vividos com você com um cuidado de quem teme quebrar o vaso de nossas lembranças e que o passar dos anos torna ainda mais claras ao invés de se esmaecer. 

Hoje Mãe Maria eu cresci e vivo a expectativa de levar ao altar a sua neta, algo que você não teve sequer tempo prá sonhar, mas lá você estará comigo, conosco nesta jornada que gradualmente caminha para o fim, como tudo, embora sonhe brincar com meu neto, como brinco com Julinha. Beijos e saudades.

Foto: Ilustrativa

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