Em uma gaveta de nosso quarto encontrei pedaços
de um envelope de correspondência dirigida a mim, por Mãe Maria. Pelo teor da carta e de suas preocupações expressas em
frases claras quanto a situação que vivíamos como estudante do Central, em meio a greves, passeatas,
correrias da policia, apedrejamento de viaturas e prédios públicos, era tudo
apreensão e medo.
Compreensível o seu temor de mãe zelosa com a sua cria numa
cidade que era um turbilhão ante a mansidão deixada prá trás, longe de seu colo
e de seu olhar acolhedor. Era um mundo se manifestando com uma voracidade que
não levou muito tempo para ser absorvido, não havia tempo a perder, era tudo ao
mesmo tempo aqui, alí em todo lugar.
O tempo passou Mãe Maria e você voou prá muito longe e tudo ficou sendo saudade,
lembrança, solidão destes 17 anos que vivemos juntos. Guardo cada pedacinho destes
momentos vividos com você com um cuidado de quem teme quebrar o vaso de nossas
lembranças e que o passar dos anos torna ainda mais claras ao invés de se
esmaecer.
Hoje Mãe Maria eu cresci e
vivo a expectativa de levar ao altar a sua neta, algo que você não teve sequer
tempo prá sonhar, mas lá você estará comigo, conosco nesta jornada que
gradualmente caminha para o fim, como tudo, embora sonhe brincar com meu neto,
como brinco com Julinha. Beijos e
saudades.
Foto: Ilustrativa
Nenhum comentário:
Postar um comentário