“Dos discos infantis que povoaram o universo de
nossas crianças, além dos detestáveis e deformadores discos de Xuxa, lembro dos Saltimbancos, um musical de compositores italianos que recebeu uma
adaptação bem bacana de Chico Buarque
e convidados e da Casa de Brinquedo
de Toquinho, este em parceria com
seu irmão, Mutinho. Discos infantis
que cabiam muito bem ao gosto dos adultos e, que talvez por esta razão, as
nossas crianças, estavam bem mais à vontade aos requebros e a sensualidade
precoce despertadas pelos bagulhos de Xuxa.
Da Casa
de Brinquedo guardo a canção O
caderno, interpretada por Chico
que falava da relação da criança com seu caderno, amigo e confidente que lhe
pedia quando chegarem os seus primeiros raios de mulher, “não me abandone em um
canto qualquer”. Era esta mesmo a leitura da singela canção, mas que muito tempo
depois, por alguma crise existencial ou por alguma estranha sensação e
medo do abandono, cada vez que ouvia chorava aos soluços ou silenciosamente,
onde estivesse, sentia uma lágrima correr a face.
Fiquei curado do medo de que elas, as nossas
crianças, pudessem algum dia me deixar “num canto qualquer”, por mais perturbadora
que fosse essa ideia, embora inexorável no ciclo da vida, sem que isto venha
significar abandono ou desprezo. Continuo achando a canção bonita, tocante, de
letra poética e hoje me faz rir, ao invés de chorar, pensando nos netos que
estão chegando e que por certo virão. Só o tempo dirá, certo de ser “eu que vou
seguir você/do primeiro rabisco/até o bê-á-bá/em todos os desenhos/coloridos
vou estar”.
Vídeo: Youtube (O Caderno - Toquinho)
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