terça-feira, 29 de janeiro de 2013

A charge infeliz.

Quem é afeito aquilo que acontece no humor jornalístico de nosso país sabe que o Chico Caruso é um dos maiores chargistas brasileiros, juntamente com seu irmão Paulo, o Angeli, o Laerte e alguns poucos mais, sendo os caras que melhor representam a geração pós-Pasquim, naquilo que ela teve de mais inteligente e criativo. O Chico trabalha em O Globo ou pelo menos é responsável por uma charge diária em sua primeira página. Ao contrário do Chico que é o melhor ou um dos melhores chargistas do país, O Globo não é o melhor jornal do país, ainda que se autoproclame, pois lhe falta isenção e, por conseguinte, credibilidade.

Ainda no calor da comoção nacional com o absurdo gigantesco e inaceitável da Boate Kiss em Santa Maria-RS que vitimou mais de 200 jovens, o Chico Caruso publicou ontem na primeira página do seu jornal, do jornal que lhe paga, uma charge que de tão infeliz chega a ser desumana e cruel. O chargista não é necessariamente um humorista, podendo até ser engraçado, fazer rir, porem a matéria prima de seu trabalho cotidiano tende muito mais a ser reflexiva que provocar qualquer escárnio ou riso. A charge é por assim dizer uma crônica ferina e mordaz de um assunto político e social traduzido por traços, caricaturas, situações, personagens facilmente identificáveis a quem quer que acompanhe a nossa diária tragédia urbana.

Colocar num mesmo universo a reação, muito mais de uma mãe do que propriamente da maior autoridade do país, diante da dezena de caixões, com as mãos sobre a cabeça, e expressar: “Santa Maria” como se estivesse diante de uma arapuca em chamas onde mãos crispadas pediam socorro é politizar um assunto que só a canalhice e a má fé dos seus patrões podem justificar. Como um calhorda tentando fazer crer que a Presidente tinha alguma culpa naquele inferno ao confessar a sua indignação, religiosamente. É conhecida a ojeriza e a má vontade que O Globo tem com o PT, petistas e tudo que possa ter alguma vinculação com o partido e, disso a Presidente Dilma Rousseff não escapa haja ou não razão tenha ou não motivos.
 
Se o Chico quis ser agradável aos seus patrões, se quis ser mais realista que o rei, nós seus admiradores só temos a lamentar a falta de sensibilidade, de solidariedade humana num momento em que o silêncio seria bem mais eloquente que pretensas gracinhas sobre os corpos de jovens brutalmente infelicitados. Contrariando o samba do Billy Blanco, nem tudo que dá prá chorar, dá prá rir.
 
Charge: Chico Caruso

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