sábado, 5 de janeiro de 2013

O céu sobre os ombros.


Com estreia prevista para novembro no circuito comercial, o mês passou e em dezembro é que não se daria mesmo, já que este mês, período de férias escolares do público infantil e juvenil, é o momento apropriado para as distribuidoras lançarem seus piratas, baleias, princesas e vampiros, produções tão educativas quanto uma luta do MMA. Como se esta parcela do empresariado cinematográfico estivesse minimamente interessada em educação ao invés da caixa registradora de seus negócios.

Pensando bem, “O céu sobre os ombros” que tive acesso e, que veio encartado na edição de outubro/12 da revista Bravo não teria mesmo espaço no tal do circuito comercial, já que de comercial ele tem pouco ou quase nada, pois é um filme para iniciados. O seu circuito comercial será os cineclubes, cinemas de arte, escolas de cinema, teatro, cinematecas, festivais internacionais e locais, enfim, um público ainda capaz de se comover com o silêncio, com o gesto, com o olhar, com a nudez, sem veículos voadores, dentes afiados na jugular, explosões, correrias, socos e execuções.

A personagem primeira de O céu sobre os ombros é a capital mineira do também mineiro Sérgio Borges, diretor do filme. Não a Belo Horizonte exuberante em suas avenidas largas e planejadas, seus edifícios, a Pampulha, mas simplesmente a cidade em que os três outros personagens procuram o seu espaço, sua ocupação. São vidas que não se cruzam, não se tocam, não interagem, sem que demonstrem esta solidão, já que em suas trajetórias buscam esta satisfação, o prazer da felicidade improvável. Um travesti que faz ponto em uma soturna rua da madrugada mineira; um adepto da seita “hare-krisna”, sketista noturno e também solitário, um torcedor atleticano que grita e xinga como qualquer torcedor passional e finalmente um artista negro e incompreendido responsável por algumas cenas de nudez e uns “tapas” de baseados.

Estes três personagens são apresentados na cena inicial do filme, dentro de um ônibus coletivo à noite, indo em alguma direção que o próprio desenrolar do filme irá nos levar, personagens e espectadores. A partir de seus desembarques, acompanhamos a sua busca cotidiana na delimitação de seu espaço urbano como quem dissesse “eu sou o que eu ocupo”. Um filme, uma reflexão, sobre a solidão urbana.

Foto: A vitoriosa equipe de "O céu..." no Festival de Brasília.

Nenhum comentário:

Postar um comentário