sexta-feira, 25 de janeiro de 2013

Remando contra a maré dos insensatos.

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Por ser o mais novo de uma família de quinze filhos dos quais apenas 08 chegaram à idade adulta, hoje sei o que é a velhice, a minha e das queridas pessoas com quem convivo por laços diversos. Lido com o peso dos meus anos, que se passaram tão depressa, bem como daqueles que pela cumplicidade e amor sei como se tratam os velhos, até porque sou vítima também destas gentilezas, destas compaixões sociais.

Ando de ônibus e sei o que é estar em um ponto, acenar pedindo a parada do coletivo e o motorista fazer cara de paisagem, ignorando a solicitação. Sei o que é estar em uma fila de qualquer repartição ou de bancos, encontrá-los superlotados exalando irritabilidade ou gestos agressivos e inconformados assistirem os velhos que acabaram de chegar, serem atendidos, graças à prerrogativa de um atendimento preferencial, que às vezes lamento ou recuso. Sei o que é me postar em uma fila de cinema ou teatro, composta por um público que representa uma parcela da sociedade escolarizada e educada de uma classe média urbana e ter sobre si os olhares e as expressões condenatórias dos também enfileirados, após a retirada dos idosos da fila, para o tal atendimento preferencial.

O desconforto de antes, já não me incomoda mais, depois que passei a incorporar a antipatia e a arrogância contida na máxima de Zagalo: “vocês vão ter que me engolir”. Não é fácil, pois às vezes, ou sempre, dói, tal qual o amargo da solidão, mesmo para quem fez do silencio e do isolamento a sua amiga e companheira.

Lembro do Walmor Chagas que experimentou os aplausos do público e da crítica durante toda a sua trajetória nos palcos e nas telas do país. Era recebido com pompas e circunstancias em todos os lugares onde se apresentava cercados de amigos e curiosos, bem mais esses. Viu com o passar do tempo este mundo ruir e ter como legado a solidão e a ausência daqueles que imaginava para sempre, sem lembrar-se da canção para quem o “prá sempre, sempre acaba”. E tudo terminou. Só que ele mesmo tratou de fechar a cortina num gesto de coragem, ou covardia, que só ele pôde avaliar, assim como o remorso e a omissão de quem lhe negou, a amizade, o carinho, a companhia.

Charge: Ziraldo

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