quarta-feira, 23 de janeiro de 2013

Cachaça, cerveja, maconha e sexo; muito sexo.

Quando do lançamento em Salvador, no ano passado, não pude assistir já que meus interesses culturais não coincidiam com as minhas obrigações profissionais a quem sirvo. Mas, sabia que um dia veria, mesmo que através do mercado que não ousa dizer seu nome, assisti neste final de semana o super premiado filme Febre do rato do diretor pernambucano Claudio Assis, o mesmo realizador dos inquietantes Amarelo manga e do Baixio das bestas.

Febre de rato é uma expressão usada em algumas cidades nordestinas, mais especificamente em Recife, para designar o nível de irritação e descontrole de alguém em seu cotidiano ou diante de alguma situação. É neste estado, não de descontrole, pelo contrário, mas de frequente excitação em que se encontra Zizo (Irandhir Santos) poeta anarquista e libertário que imprime seus próprios poemas em uma gráfica montada no “muquifo” em que mora, frequentado por seus amigos, amantes, putas, travestis, sua mãe e quem mais chegar. As imagens ainda estão pregadas em minhas retinas graças à força de sua beleza suja, filtradas pela câmera e fotografia do mestre Walter Carvalho reveladas em preto-e-branco, ganhando esta força impactante que lhe confere todo o filme.

O poeta que produz e imprime os seus poemas é o mesmo que sai por sua comunidade fincada às margens dos rios que cortam Recife, bradando contra a miséria e o abandono a que são relegados por outra Recife que se ergue na outra margem dos rios e que lhe fecha os olhos, dá-lhe às costas pendurados em seus edifícios opulentos e indiferentes àquela vida encharcada de cachaça, cerveja, maconha e sexo, muito sexo, no mangue.

Há cenas de uma ousadia perturbadora, em que corpos desnudos, genitálias explícitas, putas velhas se embolam e se enroscam como cobras no cio, filmadas de um ângulo incomum para cenas assim, já que a câmera se posiciona acima dos atores, extraindo delas uma plasticidade de quadro renascentista e não de uma suruba no cabaré de Rosália.

Dizer que o filme é tão somente a atuação soberba de Irandhir Santos (Zizo), da fotografia de Walter Carvalho e da crueza das cenas idealizadas pelo Claudio Assis é pouco e não revelador e de não reconhecimento ao talento da jovem atriz Nanda Costa, do sempre correto Matheus Nachtergale, e dos convincentes Maria Gladys, Juliano Cazarré e Conceição Camaroti. Um grande filme, pena que caia naquele buraco negro do cinema nacional; bom, mas poucos vêem excetos as comédias de costumes protagonizadas por atores globais.

Foto: Nanda Costa e Irandhir Santos

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