Após as primeiras horas do Reveillon, logo nas primeiras horas do primeiro dia do ano, os
fieis começam a chegar para a missa na Catedral
de Nossa Senhora da Conceição da Praia. Ou chegavam, para uma celebração que
por vezes era realizada no adro da igreja para uma multidão que se comprimia por
toda a extensão da Conceição até o Elevador Lacerda. Eram assim as
celebrações iniciais da procissão de Nosso
Senhor dos Navegantes pelo mar da Baia
de Todos os Santos até a Igreja da
Boa Viagem, na praia do mesmo nome.
Muitas vezes, como este ano, acompanhei a saída
da imagem de Senhor dos Navegantes até
o cais da Marinha onde marinheiros conduziam
a galeota com o santo, dando inicio o desfile pelas águas da Baía. Era, e apesar de decadente
continua sendo um espetáculo de bela plasticidade, principalmente se em dia de
sol em que as águas azuis da baía brilham ainda mais ante a passagem de tantas embarcações.
De longe é uma demonstração de fé comovente, de dentro da procissão é a profanação
misturada com um pouco de credulidade, regada a samba, suor e cerveja.
Como em toda festa religiosa, em especial
aquelas que ainda se mantém apesar da mudança dos hábitos e costumes religiosos
de grande parte da população, aqui em Salvador
o sagrado e o profano sempre seguiram o mesmo passo e espaço. Aqui todos vestem
branco sexta feira, fazem o sinal da cruz diante da cada igreja, tomam banho de
pipoca á luz do dia, respeitam os ebós de cada encruzilhada, prostam-se diante
de galhos de arruda da preta velha, carregam no pescoço ou na cintura o colar de
conta de seu santo, comungam aos domingos, depositam moedas nos cestos de
oferendas das iaôs, carregando na mão, na maioria dos locais, uma latão da Schin.
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