A exclusão da carne vermelha em minha
alimentação foi uma decisão pessoal que não passou pelo crivo de outras
recomendações médicas necessárias, em decorrência de problemas de saúde enfrentados
a algum tempo atrás. E que talvez já devesse há mais tempo ainda, um tempo que provavelmente
remonte às nossas aulas de educação física no Ginásio de Piritiba, nos anos 60.
Nestas oportunidades, precisamente as quintas
feiras, subíamos o São Domingos mais
cedo que o início da aula, para passarmos antes no curral da matança e
assistirmos (não há outro termo) uma cena assustadora. A preparação da
pré-morte do boi. O animal era amarrado pelo pescoço ao mourão, pés e mãos
atados na relação pé esquerdo com a mão esquerda ou a mesma combinação com os
membros destros, conforme a escolha do magarefe.
O sacrifício era iniciado com uma sessão de pauladas
(nem sempre certeiras) na região entre o pescoço e a cabeça, acompanhados de
berros lancinantes do boi. Quando a bordoada atingia o ponto vital de
equilíbrio do animal, ele caia quase desfalecido e estrebuchando, oferecendo as
condições precisas para o golpe final e fatal. O magarefe se aproximava da
vítima, portando uma peixeira de “paraibano” e sangrava o animal já caído e semimorto.
A enorme quantidade de sangue que jorrava do pescoço do boi era aparada em uma
bacia ou várias, para que depois as fateiras transformassem aquela sangria em
ingredientes para o sarapatel e até em doce, de gosto duvidoso para quem já provou, mas natural para quem participa do ritual macabro da matança do boi
Tanto tempo depois, estas imagens permanecem em
minha memória com uma clareza que às vezes me assusta. É o exemplo de uma
crueldade que cada um de nós, como animais e homens, infelizmente somos
capazes. Embora tardiamente, é verdade, mas carne vermelha, nunca mais. E assim
vou tocando a marcha.
Foto: Ilustrativa
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