A morte de Muhammad
Ali, o Cassius Clay foi
lamentada em todo mundo, pelo esportista vitorioso e imbatível que ele foi, nos
ringues, mesmo que eu não tenha qualquer simpatia por um esporte que se
caracteriza pelo deformação física do adversário, do seu desfalecimento, em
vários casos. Mas isto é uma opinião pessoal.
Prefiro lembrar e lamentar o
desaparecimento de um cidadão pacifista que encampou a luta pelos direitos
civis dos negros e minorias, num tempo que o racismo fazia vítimas entre negros
americanos através de resquícios da organização de direita encapuzada e covarde
tipo Ku Klux Klan.
O negro e mulçumano que nos anos 60 se rebelou
contra o governo americano, não atendendo a sua convocação para servir na Guerra do Vietnã, fazendo o que muitos
diziam entre quatro paredes quanto à condenação ao massacre ao povo pobre e pé
no chão do continente asiático, mas silenciavam diante do horror perpetrado
pelo seus governantes. “Matá-los por quê? Nunca me chamaram de crioulo, nunca
me lincharam, nunca soltaram os cachorros sobre mim. Como eu poderia matar essa
pobre gente? Que me coloquem na prisão!”
Neste mesmo intervalo de dias, faleceu
um dos últimos signatários do AI-5
que institucionalizou de vez e ditadura em nosso país em 13 de dezembro de 1968, o
coronel Jarbas Passarinho. Só que
aqui está a presença do autoritarismo e da arrogância responsável pelos anos tristes
de obscurantismo e medo em que o país foi mergulhado. Nada brilhará em sua
biografia, talvez apenas a frase com que se declarou ao general ditador antes
de por a sua assinatura no Ato
Institucional nº 5. “Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos
de consciência”. Pobre homem.
A morte não nos redime de nada, como é costume
nosso, quem sabe parte da herança lusitana que nos faz emotivo e piedoso, como querendo
apagar dos maus, seus gestos desumanos e cruéis, para fazê-los entrar no reino
dos céus ou do inferno, livre das mazelas terrenas, como se isto fosse possível.
Não, na morte a gente não esquece.
Foto: Ilustrativa
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