segunda-feira, 6 de junho de 2016

Há mortes e mortes


A morte de Muhammad Ali, o Cassius Clay foi lamentada em todo mundo, pelo esportista vitorioso e imbatível que ele foi, nos ringues, mesmo que eu não tenha qualquer simpatia por um esporte que se caracteriza pelo deformação física do adversário, do seu desfalecimento, em vários casos. Mas isto é uma opinião pessoal. 

Prefiro lembrar e lamentar o desaparecimento de um cidadão pacifista que encampou a luta pelos direitos civis dos negros e minorias, num tempo que o racismo fazia vítimas entre negros americanos através de resquícios da organização de direita encapuzada e covarde tipo Ku Klux Klan.

O negro e mulçumano que nos anos 60 se rebelou contra o governo americano, não atendendo a sua convocação para servir na Guerra do Vietnã, fazendo o que muitos diziam entre quatro paredes quanto à condenação ao massacre ao povo pobre e pé no chão do continente asiático, mas silenciavam diante do horror perpetrado pelo seus governantes. “Matá-los por quê? Nunca me chamaram de crioulo, nunca me lincharam, nunca soltaram os cachorros sobre mim. Como eu poderia matar essa pobre gente? Que me coloquem na prisão!”

Neste mesmo intervalo de dias, faleceu um dos últimos signatários do AI-5 que institucionalizou de vez e ditadura em nosso país em 13 de dezembro de 1968, o coronel Jarbas Passarinho. Só que aqui está a presença do autoritarismo e da arrogância responsável pelos anos tristes de obscurantismo e medo em que o país foi mergulhado. Nada brilhará em sua biografia, talvez apenas a frase com que se declarou ao general ditador antes de por a sua assinatura no Ato Institucional nº 5. “Às favas, senhor presidente, neste momento, todos os escrúpulos de consciência”. Pobre homem.

A morte não nos redime de nada, como é costume nosso, quem sabe parte da herança lusitana que nos faz emotivo e piedoso, como querendo apagar dos maus, seus gestos desumanos e cruéis, para fazê-los entrar no reino dos céus ou do inferno, livre das mazelas terrenas, como se isto fosse possível. Não, na morte a gente não esquece.

Foto: Ilustrativa

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