Se Mário
Reis, cantor carioca dos anos 30, jogasse futebol, seria Cristiano Ronaldo, um dândi. Rico, moço
de fino trato, assexuado conforme maledicência da época, frequentador do Jockey Clube e dos bailes de gala do Copacabana Palace, tinha o mundo e as mulheres
a seus pés, mais aquele, que essas.
Mas, Mário
também tinha um jeito peculiar de cantar, descoberto pelo sambista precursor do
ritmo, Sinhô, que coincidiu com a
chegada dos novos equipamentos de gravação de discos. Agora o cantor não tinha mais
que se esgoelar para que a sua voz, de fato, penetrasse nos sulcos dos discos,
gravando-a. Uma luta. A voz era emitida naturalmente e assim gravada sem os
arroubos de vozes potentes como Orlando
Silva, Francisco Alves, Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida já que os
velhos equipamentos assim exigiam.
Mário era um gentleman, até
para cantar. Voz pequena, afiada, sempre bem colocada, quase um jeito coloquial
de emitir as palavras, de cantar enfim. A sua elegância não impedia que
procurasse os sambistas do morro, que se misturavam aos intelectuais da época
na Lapa, um território livre, onde
todos conviviam respeitosamente, sabendo quem era quem, atrás de sambas para os
seus discos.
Discos que hoje são raros e referências para historiadores,
pesquisadores de nossa música popular e, principalmente, por ser um elo com o modo
revolucionário de cantar de João
Gilberto de quem deve ter buscado inspiração para o seu canto. Canções que
atravessaram o tempo como Jura, Gosto
que me enrosco, Filosofia, Linda morena, Agora é cinza foram sucessos na
voz de Mário Reis. Ele morreu em 1981, aos 74 anos, segundo dizem, virgem.
Foto: Mário Reis
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