sábado, 11 de junho de 2016

Mário Reis, um dândi

Se Mário Reis, cantor carioca dos anos 30, jogasse futebol, seria Cristiano Ronaldo, um dândi. Rico, moço de fino trato, assexuado conforme maledicência da época, frequentador do Jockey Clube e dos bailes de gala do Copacabana Palace, tinha o mundo e as mulheres a seus pés, mais aquele, que essas. 

Mas, Mário também tinha um jeito peculiar de cantar, descoberto pelo sambista precursor do ritmo, Sinhô, que coincidiu com a chegada dos novos equipamentos de gravação de discos. Agora o cantor não tinha mais que se esgoelar para que a sua voz, de fato, penetrasse nos sulcos dos discos, gravando-a. Uma luta. A voz era emitida naturalmente e assim gravada sem os arroubos de vozes potentes como Orlando Silva, Francisco Alves, Dalva de Oliveira, Aracy de Almeida já que os velhos equipamentos assim exigiam.


Mário era um gentleman, até para cantar. Voz pequena, afiada, sempre bem colocada, quase um jeito coloquial de emitir as palavras, de cantar enfim. A sua elegância não impedia que procurasse os sambistas do morro, que se misturavam aos intelectuais da época na Lapa, um território livre, onde todos conviviam respeitosamente, sabendo quem era quem, atrás de sambas para os seus discos. 

Discos que hoje são raros e referências para historiadores, pesquisadores de nossa música popular e, principalmente, por ser um elo com o modo revolucionário de cantar de João Gilberto de quem deve ter buscado inspiração para o seu canto. Canções que atravessaram o tempo como Jura, Gosto que me enrosco, Filosofia, Linda morena, Agora é cinza foram sucessos na voz de Mário Reis. Ele morreu em 1981, aos 74 anos, segundo dizem, virgem.

Foto: Mário Reis

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