domingo, 15 de abril de 2012

Briga de galo, de rua... tudo, menos esporte.


Por muito tempo o Bar da Praça pertenceu ao mano Juracy e ali passei boa parte da minha infância e adolescência, fazendo e despachando, juntamente com Nadinho, refresco da maracujá, abastecendo com cerveja e pinga os consumidores do balcão ou das mesas. E nas horas vagas, que eram muitas, comia chocolate Diamante Negro, quando não levava prá casa e estocava debaixo da cama. (Perdoe mano, estas inconfidências). Nos fundos do bar havia uma rinha que aos domingos recebia grande contingente de aficionados por sangue e pelo sofrimento dos animais, no caso os galos de briga. Convivia não sem certo incomodo com aquela realidade, não só no bar como também em casa onde o mano levava os animais para o sacrifício ou para remendos na cabeça, peito e coxas. Estas cirurgias eram algo tão ou mais absurdas que os próprios combates dos animais na rinha, com a vantagem (como se houvesse alguma) destes rituais macabros não serem acompanhados dos gritos histéricos de uma torcida apoplética e em transe. Com a cabeça estourada pelas esporas adversárias o animal era colocado entre as pernas do mano que com uma agulha e linha grossa iniciava uma serie de pontos com se estivesse costurando gomos de uma bola de futebol. O animal desfalecido, sem força, não esboçava qualquer reação, era apenas a continuação dos golpes sofridos na rinha.

Estas lembranças decorrem de um comentário que li do deputado José Mentor do PT de São Paulo e autor de um projeto em que pede a proibição da transmissão pela televisão, por ser uma concessão pública, dos combates de MMA ou UFC ou que nome tenha aquele festival de violência e sangue. O deputado compara estas a lutas a verdadeiras brigas de galo. Vejo, no entanto, com a diferença de que os animais são treinados e induzidos àquela selvageria ao contrário dos homens que vão por vontade própria ou mera purgação de seus instintos mais bestiais. Tenho por estas demonstrações de força bruta o desprezo que toda violência deve ter por parte do cidadão, como Eder Jofre, um grande esportista, para quem o boxe chega ser um balé diante da brutalidade destas lutas. A proibição será difícil até porque quem se encontra à frente desta baboseira travestida de esporte é a poderosa TV Globo, a quem os deputados temem e tremem ou ouvirem ou verem aquelas gravações de escutas telefônicas autorizadas pela justiça onde suspeitos por alguma falcatrua são investigados. E como todos são suspeitos, eles respeitam e reverenciam os vídeos e os áudios globais como possíveis vítimas em demandas futuras.

Creio que os adeptos e espectadores destas lutas, que babam a gola da camisa em frente à TV, são os mesmos capazes de sacar uma arma no trânsito e atingir quem lhe atravessar o caminho, ou desferir um soco em quem inadvertidamente tomar o seu lugar na fila, ou agredir o vizinho que por distração ou extravasamento de uma alegria, ligar um pouco mais alto o som da sala ou do rádio do carro. Tudo é pretexto para uma agressão, onde estas lutas se tornam o combustível propício para muitos acessos de incivilidade, adormecidos em algum canto de sua alma atormentada.

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