quinta-feira, 26 de abril de 2012

O "Oásis de Betânia"


Um novo disco de Betânia é sempre um acontecimento. Neste 50º álbum de sua carreira, Oásis de Betânia, a cantora baiana mantém a qualidade e a surpresa que costuma guardar em seu repertório. O bom gosto já começa com a bela fotografia da capa em que a aridez do sertão alagoano, expressa a sua ligação com o Nordeste, a busca e a valorização desta região que segunda ela o “sertão é silêncio, resignação e dignidade”. Só uma cantora independente como Betânia em que pese a sua ligação contratual com a Biscoito Fino responsável pela distribuição dos discos para um selo seu, próprio, como o Quitanda, consegue fazer e cantar o que gosta, pouco importando se é o gosto do mercado, dos críticos, da novela da Globo. É a bussola de sua carreira e de seus admiradores.

O ano passado, a propósito de um blog idealizado pelo antropólogo e produtor cultural, Hermano Vianna, em que Betânia diria poemas e textos de autores nacionais ou não, tendo um acompanhamento acústico, com recursos captados pela Lei Rouanet, a cantora foi quase levada a execração pública. Para estes jornalistas cretinos, Betânia parece dedicar os versos de uma música gravada por Dalva de Oliveira, o samba canção Calúnia que é uma espécie de prólogo para o texto Carta de amor, escrito por ela: “Quiseste ofuscar minha fama/E até jogar-me na lama/Só porque vivo a brilhar/Sim, mostraste ser invejoso/Viraste até mentiroso/Só prá me caluniar”. Mas o disco é muito mais que farpas a seus detratores, são registros de canções antigas como a bela Lágrima, de Cândido das Neves, o Velho Francisco de Chico, a inédita Vive de Djavan e canções do baiano preferido de 10 entre 10 cantoras da MPB, Roque Ferreira. Deste baiano privilegiado sobressai Fado, uma canção dolente como uma canção portuguesa, mas com os violões e violas brasileiras a cargo de Hamilton de Holanda.

Oásis de Betânia é um disco que só poderia ser gravado por Betânia, não apenas pela independência do repertório, mas pela sua capacidade de buscar em nosso cancioneiro popular, canções adormecidas agora recobertas por arranjos entregues a músicos diferentes em cada uma das faixas. A unidade do disco é mantida pela produção musical de seu fiel escudeiro o violonista Jaime Além. Um disco de Betânia com o bom gosto e qualidade que são sua marca e definição.

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