sexta-feira, 13 de abril de 2012

Literatura de cordel - A vida a serviço da arte.


No Primeiro Festival de Humor da Bahia, recentemente encerrado em Salvador, visitei um stand, entre outros, dedicado a literatura de cordel. Ali mesmo no foyer do Teatro Castro Alves, antes do inicio da atração principal e final da maratona humorística, li os exemplares adquiridos. Lembro dos titulo de “O prazer que o peido dá” e de “A mulher que trocou o marido pelo computador” cujas características eram de versejadores sofríveis, desprovidos da graça e da ironia que caracterizam estas histórias. Foi este lado debochado e ferino que fez de Cuíca de Santo Amaro uma espécie de Gregório de Matos do cordel, tal a língua solta que não escolhia casos e figurões do estado para as suas investidas, em geral, demolidoras. Cheguei a conhecer Cuíca em frente ao Elevador Lacerda, já bem velhinho, vendendo seus livros e proferindo seus títulos que eram prenúncios do que continham, das histórias que traziam.  

Hoje, acordei antes das 05 horas para as habituais caminhadas matinais e fiquei escutando a Rádio Clube de Jacobina e o programa Café com Cultura. Foram alguns minutos de bom humor para começar bem este novo dia na cidade alegria. O apresentador lia os versos de um cordel “O dia em que Cristo foi parar no xadrez ao invés da Cruz”. Não posso repetir os versos, tal a sua extensão, mas transcrevo a história com os detalhes possíveis.

Era a semana santa em um pequeno arraiá pernambucano, onde membros da comunidade organizaram uma procissão com a representação da Paixão de Cristo, pelas ruas do lugar. Cada um dos personagens foi entregue a uma figura conhecida do arraiá como, por exemplo, Bastião, um dos soldados responsáveis pela guarda e tortura de Cristo. Em dado momento da procissão, o soldado Bastião, que trazia na cabeça as águas da noite passada, carregava a mão no lombo de Cristo, cada vez que o chicoteava. Cristo suportava resignado aquele sofrimento despropositado para um drama popular, mas sempre resmungando e achando exagerada a dose aplicada por Bastião. Até que o Cristo não agüentou mais e falou: “Bastião, tu para com isso, se não eu te quebro a cara”. Bastião confiou na santidade do personagem e continuou nas bordoadas cada vez mais intensas. O Cristo, já com as costas lanhadas pelas chicotadas de Bastião, jogou a cruz no chão e partiu prá cima do soldado com socos e pontapés. A briga se generalizou e atingiu todos os personagens da procissão, não escapando ninguém. A polícia se fez presente e levou todos para o xadrez, inclusive o Cristo, que pelo menos se livrou dos pregos da cruz, que fatalmente seriam cravados por Bastião

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