quinta-feira, 5 de abril de 2012

Los Catedrásticos - A nudez das canções.


Na primeira versão de Los Catedrásticos a caixa de pancada da gozação e do deboche eram as letras de música do axé, já que o pagode era uma assombração distante. A versão que assisti sábado no TCA, o centro da ironia e do riso incontido são as desastradas letras dos pagodeiros baianos, embora o axé continue presente no espetáculo, o pagode é quem domina as cenas da nova montagem. São reproduções hilárias na performance irrepreensíveis dos quatro atores que dissecam com graça e humor o bestialógico contido nestas letras.

O riso vem fácil e ecoa por todo teatro praticamente lotado. Mas, fiquei a pensar na força da música, da melodia como a vestimenta perfeita, o invólucro mais que necessário para encobrir as vergonhas de certas canções, na pobreza de seus versos bizarros. E nisso o pagode se aproveita para que no seu batuque tribal, as letras sirvam apenas e tão somente para a propagação da pornofonia, do baixo nível cultural e mental de seus fazedores. Despida da também pobre melodia os versos, ou que nome tenha aquilo, se revelam patéticos, ridículos e combustível para espetáculos como Los Catedrásticos.

Não são como as letras das canções de Chico, Caetano ou Aldir Blanc que se sustentam fora das melodias, já que são textos poéticos dos melhores da recente literatura nacional. Não se pode dizer o mesmo de certas construções poéticas de autores como Djavan, Luis Melodia ou Carlinhos Brown que resvalam pelo terreno da patetice quando se abstrai a melodia. Brown, por sinal, contribui para o texto de Los Catedrásticos.

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